«Luxo para todos!»

Margarida Botelho
É matemático: em chegando Dezembro, começa o bombardeamento das compras de Natal. As crianças são o principal alvo de intermináveis blocos publicitários na televisão, de corredores de supermercado cientificamente estudados para atrair os olhos e as mãos para o último grito em brinquedos, de passatempos, desfiles e animações com pais Natal, gnomos e renas.
Mas não só: os adultos também têm direito a um bombardeamento só para si, cheio de imagens felizes de famílias a abrir prendas na consoada e a comer iguarias. Em tempos de crise, com mais de 700 mil pessoas no desemprego, metade das quais sem direito ao subsídio, com dois milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza, a consoada e as prendas transformam-se num exercício de sofisticada gestão financeira.
As grandes cadeias de supermercados adaptam-se bem aos tempos. Os resultados destes grupos económicos têm continuado a acumular lucros. A administração da Je­ró­nimo Mar­tins explicava há dias na televisão os seus lucros crescentes dizendo que a habitação e a comida são as últimas contas a cortar, e que o consumo das famílias se tinha direccionado mais para produtos mais baratos comprados em supermercado. Esqueceu-se de acrescentar a outra parcela da equação: com a faca e o queijo na mão, impõem os preços que querem aos produtores e fornecedores.
A cadeia Lidl, empresa alemã que se apresenta como possuindo a maior rede de lojas de desconto da Europa, lançou para o mês de Dezembro a sua nova campanha: «Luxo para Todos!», em que apresenta vinho francês ou trufas a menos de 3 euros.
As lojas Lidl são popularmente conhecidas como aquelas onde vão os mais pobres, ideia que parece confirmada pelos estudos de preços, que as apresentam como das mais baratas.
«Luxo para Todos!» é mais do que uma frase sonante para encher carrinhos de supermercado. É todo um programa: mesmo pobre, mesmo sem subsídio de Natal, mesmo sem orçamento para mesas fartas e prendas cintilantes, há espaço para a extravagância e o luxo. É uma afirmação de que, na sociedade de consumo, todos têm a sua oportunidade – mesmo que não passe de uma pequenina migalha. É para fazer de conta que as desigualdades e as classes desaparecem com a magia do Natal.


Mais artigos de: Opinião

Eleições golpistas

Nas Honduras, o país onde o seu legítimo presidente está há mais de dois meses confinado às instalações da embaixada do Brasil; onde os golpistas rasgam acordos com a conivência da chamada «comunidade internacional»; onde se perseguem e matam aqueles que prosseguem a luta pela liberdade e a democracia; onde manifestações...

Medos convenientes

Toda a gente sabe há muito que as imagens idílicas da Suíça – sejam as da Heidi feliz e contente correndo pelos Alpes atrás das cabras com o seu amigo Pedro, ou as das vacas em verdes prados pousando para as fotografias de apetecíveis «chocolates de leite», ou ainda as dos relógios com heidis e pedros e cucos a entrar e...

Avante! Compromisso e atitude dos comunistas

«Avante» é uma palavra que se identifica profundamente com o PCP, é a designação do seu órgão central, dá nome à Festa, mas representa principalmente o sentido de intervenção do Partido ao longo destas quase nove décadas, enfrentando obstáculos, vencendo contrariedades, apontando sempre o caminho do futuro.

Eles andam a tratar disso!

A chegada oficial do Natal, que teve direito a acenderem, por cá, milhões de luzes na maior árvore da região, coincidiu com a realização da Cimeira Ibérico-Americana, que faz passear, por cá, o protofascista colombiano Álvaro Uribe, e acontece no mesmo momento da entrada em vigor do Tratado Europeu que tem o nome da...

Democracia-de-faz-de-conta

Lendo e ouvindo os governantes actualmente de turno à política de direita (e os seus propagandistas), ficamos a saber que é obrigação de toda a gente apoiar o Governo no prosseguimento da política que conduziu o País ao lamentável estado em que se encontra.E a coisa é posta naquele tom imperativo e ameaçador muito ao...