À espera do vídeo-clip

Anabela Fino
A mediatizada vacinação do director-geral da Saúde, Francisco George, contra a gripe A (H1N1) trouxe à memória uma outra cena fixada para a posteridade em que um membro do governo português à época deglutia alegremente um prato de mioleira, com o objectivo confesso de incentivar ao consumo da carne de vaca e desmentir as notícias – ditas alarmistas – sobre a doença das «vacas loucas».
A semelhança entre os dois episódios, salvaguardadas as devidas distâncias já que nem Francisco George governa nem a gripe A muge, leva-nos a perguntar por que motivo parece haver entre os investidos em cargos oficiais a convicção de que o seu exemplo é razão, se não necessária pelo menos suficiente, para credibilizar o que dizem e fazem, pelo que se dispensam de responder às legítimas dúvidas dos seus concidadãos.
Veja-se o caso da Alemanha, onde a campanha de vacinação está a encontrar fortes resistências, sobretudo depois de se saber que o governo – que entretanto admitiu o facto – tinha encomendado uma vacina diferente, a Cevalpan, com menos aditivos, para altos quadros da administração pública e militares em missão no estrangeiro. O que fez o Ministério da Saúde? Veio a público «garantir» que a vacina para a populaça – o Pandemrix – era tão boa como a outra, com a vantagem de poder ser produzida mais depressa. Mas então, se assim é, perguntam os ignorantes, para quê a Cevalpan? Isso já seria querer saber muito. Os alemães que fiquem com a «garantia» e ponto final.
Por cá, depois do Tamiflu, não se ouve falar em marcas. Mas o defeito deve ser nacional; também nunca mais se ouviu falar da Gripe das Aves – olha aí o consumo dos frangos! – e ninguém se surpreende. Para já, crê-se que basta mostrar Francisco George – um «imprescindível» do Ministério da Saúde – a ser picado para dar como «esclarecidas» todas as dúvidas sobre a vacinação. É possível que haja ainda um «plano B» em caso de resistência – tipo um vídeo-clip de Francisco George a cantar me and you e uma va­cina ta­miflu – mas por enquanto ainda é cedo para avaliar.


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