Comentário

A continuidade

Ilda Figueiredo
Esta semana, na sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, decorrem alguns debates da maior importância para Portugal e para a União Europeia. Desde logo, o debate sobre as propostas de Durão Barroso, candidato a novo mandato de presidente da Comissão Europeia, e cuja votação já terá acontecido quando este artigo for publicado.
Mas estão também em debate a crise no sector leiteiro, os efeitos da crise económica e financeira nos países em desenvolvimento e na cooperação para o desenvolvimento, o acordo de comércio livre com a Coreia do Sul e o impacto na indústria europeia, além da Cimeira do G20 em Pittsburgh, que decorrerá de 24 a 25 de Setembro próximo e das questões que nós, os dois deputados comunistas portugueses, colocámos no início da sessão plenária, abordando o grave problema dos cerca de mil trabalhadores da fábrica de calçado Rodhe, ameaçados de desemprego, e o inaceitável golpe de Estado nas Honduras.
Quanto ao debate em torno da eleição do presidente da Comissão Europeia não se esperam grandes surpresas, nem relativamente às políticas que defende nem quanto aos resultados da votação na sessão plenária. Tudo leva a crer que será eleito, mercê do acordo entre os conservadores e uma parte importante da social-democracia europeia, se bem que os Verdes e o Grupo dos Socialistas e Democratas tenham solicitado, no início da sessão, o adiamento da votação para depois de 2 de Outubro, após o referendo na Irlanda, colocando, assim, mais uma pressão sobre os irlandeses para que aprovem o projecto de Tratado de Lisboa, que volta a estar em referendo pelas exigências inadmissíveis e antidemocráticas da elite da União Europeia, que não aceitou a rejeição no referendo anterior.
Já no debate realizado no nosso Grupo tinha ficado claro que Durão Barroso se propõe seguir as orientações neoliberais e militaristas da União Europeia nas respostas que deu às questões colocadas. Tal como aconteceu durante os cinco anos do mandato que está prestes a terminar, mostrou seguir as orientações de quem o escolheu, dado que é o candidato do Conselho, onde a direita mais conservadora e a social-democracia dão as mãos nas orientações e decisões políticas que têm grande responsabilidade na crise económica e social.
O primado da livre concorrência e toda a cartilha do neoliberalismo estiveram presentes nas suas respostas, tentando ocultar a responsabilidade da Comissão Europeia e do Conselho nas orientações e pressões que visaram o desmantelamento de serviços públicos e dos ataques aos direitos sociais e laborais, com as repercussões graves no aumento do desemprego, o qual poderá chegar aos 30 milhões no final do próximo ano, no crescimento da pobreza, com mais de 80 milhões de pobres, e nas crescentes desigualdades sociais e assimetrias regionais que alastram na União Europeia.
Mas este sacudir da água do capote fica de imediato posto em causa quando, por exemplo, se aprecia a política da Comissão Europeia relativamente aos acordos de livre comércio com países terceiros. Veja-se o acordo de livre comércio com a Coreia do Sul. No debate realizado esta semana sobre este assunto, vários deputados de diferentes sectores alertaram para as suas consequências em diversas áreas industriais, como, aliás, acontece em Portugal em sectores industriais estratégicos e na produção agrícola, indispensável à segurança e soberania alimentares. A liberalização crescente nos acordos de comércio que a Comissão Europeia está a negociar com países terceiros, visando sobretudo os interesses dos grupos económicos e financeiros, incluindo os grupos importadores dos países mais poderosos como a Alemanha, a França ou o Reino Unido, continuam a pôr em causa a fileira da indústria têxtil e de vestuário e outras indústrias particularmente sensíveis.
Também na área da política internacional ninguém duvida do seu alinhamento com o núcleo duro dos líderes que o escolheram, com as políticas da NATO e da guerra de que o Iraque e o Afeganistão são lamentáveis exemplo.
Pela nossa parte, iremos continuar a lutar contra estas políticas neoliberais e militaristas, na defesa de uma outra Europa que é possível, com justiça social, apostada na paz e no desenvolvimento, como tornámos claro no debate, e como coerentemente assumimos na votação, no seguimento dos compromissos assumidos na campanha eleitoral.


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