O Afeganistão tem História

Albano Nunes

No labéu «taliban» cabe tudo quanto resista ao imperialismo

A guerra no Afeganistão intensifica-se. As tropas anglo-americanas e da NATO são cada dia mais numerosas e as operações militares atingem cada vez mais dramaticamente as populações civis. Ao mesmo tempo aumenta a resistência às forças de ocupação que no último mês sofreram o maior número de baixas de sempre. A braços com a crescente oposição à guerra nos seus próprios países, os invasores procuram convencer o mundo que agem no interesse do povo afegão. A escalada militarista em que, pela mão do Governo do PS e do Presidente da República, Portugal está a ser inquietantemente envolvido, é conduzida a pretexto da «segurança» das próximas «eleições». É sabido que tais afirmações não têm a mínima credibilidade. O que de há muito transformou o Afeganistão em alvo fundamental do imperialismo é a sua posição geo-estratégica e o petróleo da região. Mas nem por isso pode abrandar a desmistificação dos propagandistas da guerra.

1. As «eleições». O que se prepara para 20 de Agosto é mais uma farsa monumental. Não há nem pode haver eleições dignas desse nome sob a ocupação e o terror militar. O que os EUA pretendem é dar uma aparência de legitimidade ao regime fantoche de Kabul e ao seu homem de mão, H. Karzai, bem conhecido pelo seu longo historial ao serviço da CIA. É para «eleger» este sujeito que, com a firme oposição do PCP, o contingente militar português foi recentemente reforçado.

2. Os «talibã». Conceito nebuloso e instrumentalização evidente. Tomaram o poder com o apoio dos EUA a partir do Paquistão, como aliás aconteceu com Bin Laden. Serviram de pretexto para a invasão. São hoje o pretexto para a violenta repressão de toda e qualquer oposição ainda que simplesmente nacionalista. No labéu «talibã» cabe tudo quanto resista ao imperialismo. É sintomático que H.Karzai, que a seu tempo os apoiara, procure a todo o custo entender-se com os «talibã» contra os interesses vitais do povo afegão.


3. O ópio. A sua cultura e comércio em larga escala é uma realidade. Cerca de 80% do tráfico mundial seria proveniente do Afeganistão. Mas quando em 2001 os EUA invadiram o país as plantações opiácias estavam praticamente erradicadas. A questão está a ser descaradamente manipulada pela reacção e pelo imperialismo para justificar a ocupação. Como aliás acontece com a coca na Colômbia onde foi recentemente anunciada a cedência aos EUA de novas bases militares, o que além de visar a resistência armada e popular colombiana constitui uma seriíssima ameaça à segurança da Venezuela e de outros processos progressistas na região.

4. A revolução de Abril. O povo afegão tem História. É necessário não permitir que a componente patriótica e revolucionária dessa história milenar seja soterrada na campanha de desinformação que rodeia a guerra no Afeganistão. Um berço da civilização humana. Um povo mosaico de muitos povos que se tornou conhecido pela resposta corajosa que deu a repetidas invasões, particularmente do imperialismo britânico. Um país solidário com a Revolução de Outubro e que manteve com a URSS relações de boa vizinhança. Um povo que se libertou da monarquia feudal e que em Abril de 1978, sob a direcção do Partido Democrático e Popular, empreendeu o caminho de profundas transformações revolucionárias, num processo complexo mas exaltante, que acabou derrotado pela acção conjugada das forças feudais e obscurantistas e da conspiração imperialista que, como reconheceu Brezinsky, o célebre «conselheiro para a segurança» de James Carter, começou muito antes da entrada das tropas soviéticas no país.
Os objectivos do imperialismo no Afeganistão são muito sérios. Portugal está a ser arrastado na corrente militarista que já anuncia para a NATO, braço armado da globalização imperialista, nova revisão do seu conceito estratégico em sentido ainda mais agressivo. E propõe-se fazê-lo precisamente em Lisboa no próximo ano. O que torna ainda mais necessária a denúncia das manipulações e falsificações imperialistas.


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