Casa Branca escondeu
A administração Bush ocultou, durante oito anos, os chamados planos «antiterroristas» e de «espionagem». A revelação foi feita um dia antes de o procurador-geral admitir investigar as práticas de tortura nos interrogatórios contrariando Obama, que pretende «enterrar o passado».
«Obama não quer investigar práticas de tortura»
De acordo com a notícia publicada este sábado na edição online do The New York Times, que cita duas fontes anónimas, o ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, terá ordenado à CIA para não revelar ao Congresso e ao Senado os chamados «planos antiterroristas» alegando que estes não estavam suficientemente maduros para serem esclarecidos junto do poder legislativo.
Ainda de acordo com dados divulgados pelos órgãos de comunicação social, o actual director da secreta, Leon Panetta, só terá sabido das operações em curso no passado dia 23 de Junho, tendo solicitado, no dia seguinte, reuniões com as comissões do Senado e da Câmara dos Representantes e ordenado a suspensão dos projectos.
Mas não se pense que o responsável da CIA nomeado por Barack Obama e os altos quadros políticos das duas câmaras de deputados dos EUA são, agora, os grandes defensores da transparência. A verdade é que as informações em poder de Panetta e dos eleitos nas comissões especializadas só foram do conhecimento público após denúncia na imprensa, e, ainda assim, vale a pena frisar, todos têm utilizado expressões como «erros», «métodos» ou «programas sensíveis» e «recolha de informações» no tratamento do caso. Acresce que nada têm dito, em concreto, sobre o conteúdo do tal «plano antiterrorista» em curso.
Mais grave ainda é o facto de dois ex-directores da CIA, George Tenet e Porter Gross, do general da Força Aérea e à data director da Agência Nacional de Segurança (NSA), Michael Hayden, do vice-presidente Dick Cheney e do seu chefe de gabinete, David Addington, terem ocultado durante quase dois mandatos, cerca de oito anos, as informações não apenas aos órgãos legislativos, mas a todo o povo norte-americano.
Fora-da-lei
Addington é aliás citado num relatório divulgado a semana passada como a peça-chave de Cheney no encobrimento dos planos, não apenas aos parlamentares, mas também a alguns membros do governo Bush. Supostamente era o assessor de Cheney quem decidia quem é que na Casa Branca conhecia as referidas práticas «antiterroristas».
Quanto a Bush e à NSA, o documento traça ainda o percurso do extenso programa de investigações secretas daquela agência e qualifica-as de «sem precedentes». Ainda antes dos atentados contra as Torres Gémeas, garante o texto, Bush e o seu círculo socorreram-se de uma lei de 1978 para interceptarem comunicações. Já depois dos ataques, o mesmo diploma foi usado para apurar informações e o presidente assinou um decreto ordenando à NSA que procedesse a novas actividades.
Em 2005, as comunicações internacionais voltaram a estar no centro das preocupações de Washington e Bush autorizou a sua intercepção sem necessidade de ordem judicial sempre que se verificasse uma «base razoável». Tudo isto foi igualmente mantido no mais absoluto secretismo.
Enterrar o passado
Os casos dos planos ocultos «antiterrorismo» e de «espionagem» envolvendo a anterior administração norte-americana ocorrem em simultâneo com a admissão, por parte do Procurador-geral norte-americano, Eric Holder, de iniciar investigações sobre práticas de tortura nos interrogatórios no tempo de George W. Bush.
O apuramento dos factos em torno da tortura não é do agrado de Barack Obama. De acordo com o próprio, a América precisa de «olhar para a frente e não para trás», isto é, enterre-se o passado e não se fala mais nisso. Obama sabe que o avanço das investigações pode criar conflitos entre Democratas e Republicanos, que trocam acusações sobre o conhecimento e a aprovação das referidas práticas, facto que colocaria em causa o actual consenso que, no fundamental, tem havido entre ambos os partidos a respeito da crise e do relançamento da economia norte-americana como dominante no mundo.
O magistrado decidirá nas próximas semanas se designa um procurador criminal para as denúncias de torturas, ou se, pelo contrário, estas se juntam ao rol de crimes encobertos e sem castigo cometidos pelos EUA.
Ainda de acordo com dados divulgados pelos órgãos de comunicação social, o actual director da secreta, Leon Panetta, só terá sabido das operações em curso no passado dia 23 de Junho, tendo solicitado, no dia seguinte, reuniões com as comissões do Senado e da Câmara dos Representantes e ordenado a suspensão dos projectos.
Mas não se pense que o responsável da CIA nomeado por Barack Obama e os altos quadros políticos das duas câmaras de deputados dos EUA são, agora, os grandes defensores da transparência. A verdade é que as informações em poder de Panetta e dos eleitos nas comissões especializadas só foram do conhecimento público após denúncia na imprensa, e, ainda assim, vale a pena frisar, todos têm utilizado expressões como «erros», «métodos» ou «programas sensíveis» e «recolha de informações» no tratamento do caso. Acresce que nada têm dito, em concreto, sobre o conteúdo do tal «plano antiterrorista» em curso.
Mais grave ainda é o facto de dois ex-directores da CIA, George Tenet e Porter Gross, do general da Força Aérea e à data director da Agência Nacional de Segurança (NSA), Michael Hayden, do vice-presidente Dick Cheney e do seu chefe de gabinete, David Addington, terem ocultado durante quase dois mandatos, cerca de oito anos, as informações não apenas aos órgãos legislativos, mas a todo o povo norte-americano.
Fora-da-lei
Addington é aliás citado num relatório divulgado a semana passada como a peça-chave de Cheney no encobrimento dos planos, não apenas aos parlamentares, mas também a alguns membros do governo Bush. Supostamente era o assessor de Cheney quem decidia quem é que na Casa Branca conhecia as referidas práticas «antiterroristas».
Quanto a Bush e à NSA, o documento traça ainda o percurso do extenso programa de investigações secretas daquela agência e qualifica-as de «sem precedentes». Ainda antes dos atentados contra as Torres Gémeas, garante o texto, Bush e o seu círculo socorreram-se de uma lei de 1978 para interceptarem comunicações. Já depois dos ataques, o mesmo diploma foi usado para apurar informações e o presidente assinou um decreto ordenando à NSA que procedesse a novas actividades.
Em 2005, as comunicações internacionais voltaram a estar no centro das preocupações de Washington e Bush autorizou a sua intercepção sem necessidade de ordem judicial sempre que se verificasse uma «base razoável». Tudo isto foi igualmente mantido no mais absoluto secretismo.
Enterrar o passado
Os casos dos planos ocultos «antiterrorismo» e de «espionagem» envolvendo a anterior administração norte-americana ocorrem em simultâneo com a admissão, por parte do Procurador-geral norte-americano, Eric Holder, de iniciar investigações sobre práticas de tortura nos interrogatórios no tempo de George W. Bush.
O apuramento dos factos em torno da tortura não é do agrado de Barack Obama. De acordo com o próprio, a América precisa de «olhar para a frente e não para trás», isto é, enterre-se o passado e não se fala mais nisso. Obama sabe que o avanço das investigações pode criar conflitos entre Democratas e Republicanos, que trocam acusações sobre o conhecimento e a aprovação das referidas práticas, facto que colocaria em causa o actual consenso que, no fundamental, tem havido entre ambos os partidos a respeito da crise e do relançamento da economia norte-americana como dominante no mundo.
O magistrado decidirá nas próximas semanas se designa um procurador criminal para as denúncias de torturas, ou se, pelo contrário, estas se juntam ao rol de crimes encobertos e sem castigo cometidos pelos EUA.