Transporte marítimo e portuário

Liberalização encapotada

Fortes críticas quer ao seu conteúdo substantivo quer à forma apressada como foram apresentadas (todas as bancadas dispuseram apenas de três minutos para analisar um total de cerca de 700 artigos) marcaram o debate na passada semana das propostas de lei relativas à Lei dos Portos e à Lei da Navegação Comercial.
No mesmo dia em que estivadores se manifestaram em frente a S. Bento, expressando o seu descontentamento e preocupação, no interior do hemiciclo a bancada comunista afirmava a sua oposição aos diplomas que, na sua perspectiva, são a consagração de «um modelo e de uma política que colocam o transporte marítimo e portuário completamente subjugado e ao sabor dos interesses dos grupos económicos».
«Não há aqui nenhuma estratégia de desenvolvimento do sector, não há uma ideia, uma visão para o fomento da economia nacional», salientou o deputado comunista Bruno Dias, defendendo que «tudo é entendido em função do sacrossanto mercado».
«Nem sequer a função reguladora do Estado, nem as funções de soberania, nem as questões de segurança e da protecção do ambiente são garantidas nestas propostas», acusou o deputado do PCP, para quem o Governo neste capítulo conseguiu até a «proeza de se colocar, com as suas opções, à direita dos governos liberais da Europa... e até do próprio Banco Mundial».
O «fervor fundamentalista» do Executivo PS em aplicar o modelo neoliberal é de tal ordem, segundo Bruno Dias, que quase nada escapa ao propósito de transferir para a esfera dos privados, «desde a pilotagem ao abastecimento de água, passando pelo reboque e a amarração».
Visados com esta ofensiva são também os trabalhadores, seus direitos e condições de trabalho, na opinião da bancada comunista, que considerou inaceitável que as questões concretas do regime do trabalho portuário tenham ficado à margem deste debate, enquanto, simultaneamente, estão em preparação medidas condicionadoras das relações laborais e do próprio trabalho no sector.
Para a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que disse que a nova lei dos portos «vai criar uma nova actividade económica», «as plataformas logísticas são zonas que funcionarão à margem dos portos», sem porem em causa os trabalhadores portuários.
E assegurou, na sua intervenção final, que foram ouvidas as várias entidades sector, armadores, sindicatos e operadores.
Não é essa a opinião do PCP, que acusou o Governo de «fugir à discussão pública e evitar o parecer das entidades do sector». Em suma, para Bruno Dias, o que está em causa com estes diplomas é a exclusão do trabalho portuário de «um sem número de actividades, numa verdadeira liberalização encapotada, comprometendo postos de trabalho directos e abrindo caminho para a desregulamentação das relações laborais».


Mais artigos de: Assembleia da República

Política anti-social

A maioria socialista voltou a chumbar a proposta do PCP que visa alargar a atribuição do subsídio de desemprego. Insensível ao grave problema dos desempregados sem qualquer protecção, o PS revela sem máscara a natureza anti-social da política do seu Governo.

Desemprego e precariedade

«Mais precariedade e mais desemprego» são as marcas fortes da política do Governo PS, acusa o PCP, dando como exemplo o concurso de colocação de professores dos ensinos básico e secundário.

PS branqueia inacção da supervisão

O PS demitiu-se de tirar conclusões óbvias e impôs ideias que branqueiam a inacção do Banco de Portugal e as suas «falhas graves» na supervisão bancária, acusa o PCP a propósito do relatório final da comissão de inquérito parlamentar ao BPN.

Explicações precisa-se!

O Grupo Parlamentar do PCP considera que a actuação do Governo no caso da Fundação para as Comunicações Móveis (FCM) «continua por clarificar». Esta posição foi assumida pelo deputado comunista Bruno Dias numa das sessões plenárias da passada semana na sequência de uma declaração política sobre o tema proferida pela...

Burocratizar e governamentalizar

Os deputados apreciaram na passada semana uma proposta de lei que prevê que mais vítimas de crimes violentos possam pedir ao Estado adiantamentos de indemnizações por danos sofridos. Apesar da sua avaliação positiva a alguns aspectos do diploma, nomeadamente por agrupar legislação dispersa, o PCP entende que o mesmo...

Novo Provedor de Justiça

O juiz-conselheiro Alfredo José de Sousa foi eleito no dia 10 para suceder a Nascimento Rodrigues no cargo de Provedor de Justiça. Chega assim ao fim um processo que se arrastou cerca de um ano, por exclusiva responsabilidade do PS e PSD.Embora proposto por estes dois partidos, recolheu o apoio de todos os restantes,...