Quando os povos se levantam

Luís Carapinha

Quando os povos se le­vantam, tornam-se ir­re­pri­mívei

Navegando entre escolhos e ocultando desaires, prossegue a vasta campanha de reabilitação e new look dos EUA e do imperialismo em geral.
Um exemplo concreto é o episódio do recente discurso de Obama no Cairo, que as agências internacionais de comunicação e o sistema mediático nas mãos do grande capital matraquearam até à exaustão como um acontecimento histórico (a que Netanyahu aliás não tardou em responder com a histórica oferta de um [não] Estado palestino: sem forças armadas, sem controlo do espaço aéreo, sem relações com o Irão, etc., etc! Mais uma obscenidade saída da cartola sionista? Sem dúvida, mas não para os EUA e a UE que prontamente qualificaram a declaração do primeiro-ministro israelita como um passo encorajador)...
No plano oposto, os resultados da 39.ª Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), concluída dia 3 de Junho nas Honduras – exactamente nas vésperas do discurso do Cairo –, e muito especialmente a decisão que em termos práticos anulou a exclusão de Cuba da organização em 1962, mereceram uma atenção quase marginal por parte cadeia noticiosa mundial.

Compreendem-se as razões do quase férreo silenciamento da decisão que virou uma página negra de 47 anos, ilustrando as agudas batalhas de classe travadas à escala internacional e o quadro inédito da correlação de forças alcançado na América Latina. A resolução agora aprovada depois de um longo braço de ferro com Washington representa uma nova derrota para os EUA, independentemente da posição, conhecida de antemão, de Cuba em não voltar à OEA. Como refere o comunicado do Governo de Havana, «Cuba não pediu nem deseja regressar à OEA, instituição com uma história tenebrosa e de vassalagem, mas reconhece o valor político, o simbolismo e a rebeldia que emanam desta decisão impulsionada pelos governos populares da América Latina» (Te­lesur, 03.06.09).

Apesar do boicote informativo das grandes agências, não é segredo que a anulação da medida discriminatória de 1962 contra Cuba revolucionária tornou-se possível, em grande medida, graças à posição de grande firmeza adoptada pelos países da ALBA, fundada em 2004 por Cuba e a Venezuela.
Sintomaticamente, é hoje a Ilha da Liberdade que mantém relações diplomáticas com todos os países do hemisfério americano, à excepção dos Estados Unidos. O derradeiro país a restabelecer o relacionamento com Cuba foi El Salvador, após a eleição presidencial do candidato da Frente Farabundo Martía (FMLN).
Não menos relevante é a perspectiva que vai ganhando força, expressa na ocasião pelo presidente do Equador, Rafael Correa, de «criar uma organização de países latino-americanos e das Caraíbas sem qualquer tutela alheia, respeitando não só as soberanias territoriais, mas também a alimentar, do conhecimento, da energia». É o [transcendente] «desafio que temos no momento», rematou. Equador que, no mesmo dia 3 de Junho, anunciou a sua adesão plena à ALBA, tornando-se assim o 8.º país a integrar a organização.

Objectivos de emancipação e progresso social que colidem frontalmente com a agenda do imperialismo dos EUA (a que se associa, nos objectivos fundamentais, a UE, apesar dos elementos de rivalidade e concorrência existentes) que, em estreita conexão com as oligarquias nacionais, não desistirão do objectivo de fazer vingar a estratégia de intervencionismo e contra-ofensiva na América Latina, que a Administração Obama prossegue.
As legítimas expectativas criadas em milhões de latino-americanos e a vaga de soberania e mudança criada pela ascensão dos variados processos progressistas na região colocam o desafio e exigência maior da sua ampliação e aprofundamento e consolidação qualitativas.
A história ensina que quando os povos se levantam, tornam-se irreprimíveis.


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