Projectar no presente a luta antifascista
Já regressaram os 40 portugueses que estiveram em Cabo Verde a participar, no inicio do mês, nas cerimónias comemorativas dos 35 anos do encerramento definitivo do Campo de Concentração do Tarrafal.
«Dava a sensação que caminhávamos para um buraco»
David Pereira, jovem dirigente da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), promotora da ida da delegação portuguesa àquela cerimónia, relatou ao Avante! que «chegámos a Cabo Verde na madrugada de dia 1 e, logo pela manhã, viajámos para a vila do Tarrafal». A primeira acção da delegação portuguesa foi homenagear, no cemitério local, todos os que ali perderam a vida.
No cemitério, contou David Pereira, «estão as lápides assinalando os 32 mortos portugueses». Nesse local, perante antigos presos angolanos, guineenses e cabo-verdianos, foi depositada uma coroa de flores. Na ocasião, um elemento da delegação portuguesa tomou da palavra para uma «sentida homenagem» àqueles que deram a sua vida pela liberdade do povo de Portugal e dos povos das antigas colónias. A resistência e a luta antifascista «também se travaram dentro do Campo», salientou David Pereira.
Este património de resistência e luta contra o fascismo, prosseguiu o jovem dirigente da URAP, é um «referencial para as novas gerações, nascidas já depois do 25 de Abril de 1974 e com a independência dos agora países de expressão portuguesa». Um património que, em sua opinião, está ligado à «luta actual contra as tentativas de falsificar e branquear esse passado, bem como ao combate às políticas aplicadas por sucessivos governos que, infelizmente, remetem para uma perigosa proximidade com aqueles tempos».
Diamantino Torres, igualmente dirigente da URAP, contou ao Avante! que a visita ao Campo confirmou o que ele sempre leu acerca do local onde este foi instalado. Lembrando que quando lá estiveram os portugueses, entre 1936 e 1954, só havia acesso de barco, realçou que mesmo actualmente há que percorrer cerca 70 quilómetros por estradas de montanha para lá chegar. «Dava a sensação que caminhávamos para um buraco.» Também Encarnação Raminho, da direcção, salientou que «entrar no campo é impressionante. Mesmo sabendo que está muito diferente do que era na altura em que lá estiveram os presos portugueses».
O que resta do Campo de Concentração do Tarrafal data da segunda fase, entre 1961 e 1974, quando lá estiveram presos membros dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África. Identificados estão para já vários espaços, como o refeitório, as casernas, as celas individuais e a «holandinha», como era designado o espaço dos castigos, que substituiu a «frigideira». No local nascerá o futuro museu da Resistência e da Liberdade e há também a ideia de candidatar o campo a património mundial.
Dever de memória
Chegada a Cabo Verde no dia em que terminava o Simpósio Internacional sobre o Tarrafal, realizado no próprio campo, a delegação portuguesa teve ainda a oportunidade, a convite da comissão organizadora, de intervir no encerramento da iniciativa. Coube a David Pereira tomar da palavra.
Também Aurélio Santos, coordenador da URAP, tinha intervido no Simpósio. O resistente antifascista salientou que o Tarrafal é «um espaço em que o dever da memória nos confronta directamente com o passado histórico dos povos que aqui deixaram memória, na luta pelos seus princípios e ideais». Abordando a história do regime responsável pelo campo, Aurélio Santos realçou que a «ditadura militar encontrou em Salazar a pessoa para se tornar a face visível, o orientador e o organizador do novo regime de opressão, repressão e exploração – a que chamaram Estado Novo». Mas o modelo de implantação desse regime, explicitou, «foi abertamente o das ditaduras fascistas de Mussolini e Hitler.
Prosseguindo, o coordenador da URAP afirmou ainda que a caracterização do Estado Novo como ditadura fascista «não importa apenas como elemento para a sua definição histórica». Nem o regime é caracterizado apenas pelos «métodos ditatoriais repressivos». A sua natureza social ««constitui factor importante para compreender os seus objectivos, os interesses que orientaram a sua política, incluindo a razão dos seus métodos repressivos».
No cemitério, contou David Pereira, «estão as lápides assinalando os 32 mortos portugueses». Nesse local, perante antigos presos angolanos, guineenses e cabo-verdianos, foi depositada uma coroa de flores. Na ocasião, um elemento da delegação portuguesa tomou da palavra para uma «sentida homenagem» àqueles que deram a sua vida pela liberdade do povo de Portugal e dos povos das antigas colónias. A resistência e a luta antifascista «também se travaram dentro do Campo», salientou David Pereira.
Este património de resistência e luta contra o fascismo, prosseguiu o jovem dirigente da URAP, é um «referencial para as novas gerações, nascidas já depois do 25 de Abril de 1974 e com a independência dos agora países de expressão portuguesa». Um património que, em sua opinião, está ligado à «luta actual contra as tentativas de falsificar e branquear esse passado, bem como ao combate às políticas aplicadas por sucessivos governos que, infelizmente, remetem para uma perigosa proximidade com aqueles tempos».
Diamantino Torres, igualmente dirigente da URAP, contou ao Avante! que a visita ao Campo confirmou o que ele sempre leu acerca do local onde este foi instalado. Lembrando que quando lá estiveram os portugueses, entre 1936 e 1954, só havia acesso de barco, realçou que mesmo actualmente há que percorrer cerca 70 quilómetros por estradas de montanha para lá chegar. «Dava a sensação que caminhávamos para um buraco.» Também Encarnação Raminho, da direcção, salientou que «entrar no campo é impressionante. Mesmo sabendo que está muito diferente do que era na altura em que lá estiveram os presos portugueses».
O que resta do Campo de Concentração do Tarrafal data da segunda fase, entre 1961 e 1974, quando lá estiveram presos membros dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África. Identificados estão para já vários espaços, como o refeitório, as casernas, as celas individuais e a «holandinha», como era designado o espaço dos castigos, que substituiu a «frigideira». No local nascerá o futuro museu da Resistência e da Liberdade e há também a ideia de candidatar o campo a património mundial.
Dever de memória
Chegada a Cabo Verde no dia em que terminava o Simpósio Internacional sobre o Tarrafal, realizado no próprio campo, a delegação portuguesa teve ainda a oportunidade, a convite da comissão organizadora, de intervir no encerramento da iniciativa. Coube a David Pereira tomar da palavra.
Também Aurélio Santos, coordenador da URAP, tinha intervido no Simpósio. O resistente antifascista salientou que o Tarrafal é «um espaço em que o dever da memória nos confronta directamente com o passado histórico dos povos que aqui deixaram memória, na luta pelos seus princípios e ideais». Abordando a história do regime responsável pelo campo, Aurélio Santos realçou que a «ditadura militar encontrou em Salazar a pessoa para se tornar a face visível, o orientador e o organizador do novo regime de opressão, repressão e exploração – a que chamaram Estado Novo». Mas o modelo de implantação desse regime, explicitou, «foi abertamente o das ditaduras fascistas de Mussolini e Hitler.
Prosseguindo, o coordenador da URAP afirmou ainda que a caracterização do Estado Novo como ditadura fascista «não importa apenas como elemento para a sua definição histórica». Nem o regime é caracterizado apenas pelos «métodos ditatoriais repressivos». A sua natureza social ««constitui factor importante para compreender os seus objectivos, os interesses que orientaram a sua política, incluindo a razão dos seus métodos repressivos».