UGT na rua

Henrique Custódio
À semelhança do ano passado, a UGT vai aproveitar o 1.º de Maio para regressar à rua - mas almoçando primeiro, que não temos ali gente que lute de barriga vazia. Para tal, um convite aos associados recordava que «as ins­cri­ções para o al­moço devem ser feitas, im­pre­te­ri­vel­mente, até às 17.00 do dia 24 de Abril, in­di­cando o nú­mero de acom­pa­nhantes (sem li­mite), para que seja pos­sível cal­cular o nú­mero de pre­senças e or­ga­nizar tudo em con­for­mi­dade».
«Em conformidade» significa contar os talheres a pôr na mesa do repasto e providenciar a confecção, problema que, naturalmente, só poderá decidir-se com uma ideia antecipada dos convivas a acolher. É essa, aliás, a única e grande incógnita da operação, agravada pela prodigalidade de convidar acompanhantes «sem limite» - isto, obviamente, não vá o diabo tecê-las e não haver sócios que cheguem para compor a mesa.
Seja como for, o que de certeza não será problema é o dinheiro a pagar pela festança, dado serem os três Sindicatos dos Bancários a pagar a conta. Se não é uma atitude «à bancário», será pelo menos um gesto à banqueiro, valha-lhes isso.
Acrescente-se que o almoço terá lugar nas instalações do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), «onde aos só­cios do SBSI se jun­tará cerca de um mi­lhar de co­legas dos Sin­di­catos do Norte e do Centro, e ainda dos Sin­di­catos dos Se­guros», posto o que marcharão a caminho dos Restauradores, ajudando simultaneamente a digestão e a luta contra a crise.
Supomos que, nestas contas, os famosos «acompanhantes» valerão tanto como os sócios, pelo menos a fazer número, que é o que importa. E agora digam lá que a UGT não é mesmo um brinquinho, nestes banhos democráticos.
Com tudo isto, a supracitada proclama que «Vamos en­cher os Res­tau­ra­dores!», onde «a Cen­tral Sin­dical e os Sin­di­catos nela fi­li­ados vão pugnar por me­didas de com­bate à crise e rei­vin­dicar a ma­nu­tenção do em­prego, o re­forço da ne­go­ci­ação co­lec­tiva e o fim dos off-shores».
Já é alguma coisa, apesar de as «medidas de combate» por que a UGT diz «pugnar» não terem, como de costume, qualquer medida que se veja.
Seja como for, é curioso este «desfilar na rua» da UGT durante as comemorações do 1.º de Maio, quando já institucionalizara na data, com décadas de prática contínua, umas festividades saracoteadas por «estrelas» pimba contratadas a peso de ouro e animando uma espécie de picnicão ali para os lados da Torre de Belém onde, só por desvairado acaso, as reivindicações laborais ou as lutas sindicais obtinham alguma referência.
Parece que, de repente, a UGT descobriu nas comemorações do 1.º de Maio um tempo de luta que se esforçava por denegrir nos gigantescos desfiles da CGTP-IN, aos quais há décadas contrapunha os tais bailaricos pimba tocados a petisco a que chamava «a festa dos trabalhadores».
Agora já paga almoços aos milhares, para arrebanhar um desfile que pareça uma manifestação.
Manifestamente, neste tempo de crise a UGT quer mostrar-se na rua a lutar pelos trabalhadores.
Deve ser para entrar mais facilmente no bolso do patronato. É que com a crise que aí vai, já não será tão simples fazê-lo apenas no recato dos gabinetes.


Mais artigos de: Opinião

Onde é que isto vai parar?

O nosso País está mergulhado numa profunda crise económica e social, cujos contornos e desenvolvimentos no futuro próximo são difíceis de prever com exactidão. O Governo e a maioria que o sustenta, com a cumplicidade dos comentadores de serviço e ao serviço das políticas de direita, dão o litro para tentarem convencer os portugueses de que a crise é resultado da conjuntura internacional. Dessa forma, branqueiam as responsabilidades deste e dos governos que lhe antecederam.

A actualidade da Revolução portuguesa

Em 1974 o mundo assistiu incrédulo ao levantamento militar e popular do 25 de Abril que pôs fim ao regime fascista em Portugal e à guerra colonial em África. A revolta dos capitães de Abril surpreendeu a opinião pública mundial. Custava acreditar que num Estado, fiel membro da NATO, onde durante meio século reinara o...

Dor de dentes

Depois do célebre e triste episódio em que, por decisão do Governo, uma empresa tratou de simular uma sala de aulas para que Sócrates e outros ministros dessem azo à sua propaganda, e uma semana depois de ter vindo a público a utilização de imagens recolhidas e pagas pelo Ministério da Educação num Tempo de Antena do PS,...

Sta Comba Dão – provocação e paradigma

Em Santa Comba, com o Museu Salazar atolado em desaires e sem futuro à vista, alvo da condenação da maioria da AR (suscitada pela petição da URAP), os autarcas filofascistas do PSD, face ao colapso iminente - dada a inépcia do seu mandato – levaram mais longe a provocação salazarenta e celebraram o ditador fascista em 25...

E não se pode trincá-lo?

Quem tem um Magalhães tem tudo, quem não tem Magalhães não tem nada. Melhor dizendo, não é nada. É assim uma espécie de parasita, de marginal, de zombi que só por acidente será capaz de alinhavar duas frases seguidas, juntar um par de números ou olhar para o mundo com compreensão distinta da de boi para palácio, como soe...