Onde é que isto vai parar?

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política)
O nosso País está mergulhado numa profunda crise económica e social, cujos contornos e desenvolvimentos no futuro próximo são difíceis de prever com exactidão. O Governo e a maioria que o sustenta, com a cumplicidade dos comentadores de serviço e ao serviço das políticas de direita, dão o litro para tentarem convencer os portugueses de que a crise é resultado da conjuntura internacional. Dessa forma, branqueiam as responsabilidades deste e dos governos que lhe antecederam.

Para re­forçar a CDU con­tamos com os nossos pró­prios meios e forças

A máquina da propaganda ao serviço do sistema desdobra-se em campanhas publicitárias para iludir os portugueses sobre os resultados e as opções de classe que são a génese da política do PS no Governo.
Façamos uma incursão pelo Ribatejo. Cartazes de grandes dimensões crescem como cogumelos.
A máquina socialista inundou a região, por altura do Natal, com uma mensagem a condizer: «É tempo de celebrar o espírito de união». Mais tarde surgiu uma outra: «Estamos a apoiar as empresas, as famílias e o emprego»...
Paralelamente, membros do Governo e o Governador Civil desdobram-se em périplos pelo distrito, seja para inaugurar um lavadouro público, seja para assinar protocolos atrás de protocolos, seja para mentir com todo o descaramento.
Assim aconteceu com uma visita do ministro Vieira da Silva, que se congratulou com a criação de umas dezenas de postos de trabalho, exemplo da resposta à crise e da eficácia das políticas de emprego do Governo, dizia ele. Verificou-se entretanto que os postos de trabalho eram, afinal, estágios profissionais.
Enredados na teia de falsidades e fantasias que vão construindo, este Governo e o PS há muito que perderam a noção da realidade.
Aumento galopante do desemprego; paragens de produção; rescisão de contratos; salários em atraso; recurso fraudulento ao lay-off; imposição de bancos de horas (Fle­ximol, Por­tu­leiter, Grupo Amorim, Mit­su­bishi, João de Deus, Tema, João Sal­vador, Si­li­cália, Fi­ação de Torres Novas, Drinkin, Cons­tan­tino Mota, In­vepe, Re­nova, Olimar, Cer­vejas Cintra, Platex, Papel do Prado) fazem parte de uma lista interminável que exemplifica a gravidade da situação social no distrito e a que se juntam as muitas empresas que fecharam as portas e as centenas de micro, pequenas e médias empresas que tiveram o mesmo destino.

Cresce a po­breza e as de­si­gual­dades

Ao mesmo tempo, cresce assustadoramente o número de famílias a recorrer às instituições de solidariedade e às autarquias. A sopa dos pobres é cada vez mais procurada. Em Rio Maior, essa procura duplicou. O Banco Alimentar, em Abrantes, começa a sentir dificuldades para acudir a todas as solicitações e os seus responsáveis defendem a necessidade da criação urgente de uma cozinha social, ao mesmo tempo que relatam o número crescente de famílias inteiras que, de um dia para o outro, ficaram sem emprego.
Sucedem-se os relatos de situações de fome, de incumprimento nos pagamentos de rendas de casa, nos pagamentos da educação dos filhos, dos medicamentos que são aviados em função do dinheiro disponível, dos pagamentos de serviços médicos a prestações.
Na agricultura, que ocupa ainda um número significativo de pessoas, e tem ainda uma relevante expressão no conjunto do distrito, sendo o oitavo mais «produtivo» para os cofres do Estado pelo pagamento de IRC, a situação não é melhor.
Como se isto não bastasse, o direito à saúde está seriamente afectado. São mais de 80 mil utentes sem médico de família. E a situação agrava-se todos os dias. Dentro de pouco tempo, serão 100 mil. No final do ano poderão ser 150 mil!

Re­forço da CDU é ta­refa es­sen­cial

Perante este quadro, os trabalhadores e as populações da região tem vindo a reforçar a sua organização, a resistência e a luta. O PCP tem assumido o seu papel organizando, esclarecendo, mobilizando e apresentando propostas.
Ouve-se registos de revolta e de indignação. Cresce a disponibilidade para a luta. Para muitos, a luta é uma experiência nova. Mas também chegam relatos de desespero, de desalento e resignação – «onde é que isto vai parar? Façam alguma coisa por nós!», foi a frase que retivemos para estabelecer conversa e por essa via demonstrarmos àquela mulher (que não recebia salário há dois meses) que, afinal, não éramos todos iguais, que os outros nunca lá tinham estado… e que tinham sido «os outros» que, com a sua política, em Portugal e na Europa, contribuíram para que a sua empresa se encontrasse numa tão difícil situação. Deu-nos razão e até se lembrava da visita que a camarada Ilda fez à empresa onde ainda trabalha.
As pessoas sabem, e reconhecem cada vez mais, a nossa diferença nas palavras e nos actos. Mas, por vezes, na altura do voto, são levados ao engano e votam contra os seus próprios interesses.
A batalha do esclarecimento e da mobilização para o voto na CDU é um encargo que tem de ser assumido por todos e em todas as circunstâncias. Na batalha do convencimento, temos um trunfo valioso: Estivemos e estamos onde há um problema; tem sido através dos deputados do PCP e dos Verdes que os problemas e anseios dos trabalhadores e das populações do distrito chegam ao Parlamento Europeu e à Assembleia da República. Nenhuma outra força política o fez. Nenhuma outra força política o fará.
Insistir e convencer cada vez mais gente de que é através do reforço da CDU, com mais votos e mais eleitos, que se pode dar a volta a isto e criar condições para a ruptura necessária, é a tarefa que se nos coloca. Esse objectivo é possível. Para isso contamos apenas com os nossos meios e as nossas forças. Vamos ao trabalho.


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