Jerónimo de Sousa sobre a crise no debate quinzenal

Governo foge às responsabilidades

O Secretário-geral do PCP acusou o primeiro-ministro de «andar a enganar os portugueses», tendo em conta que passa a vida a «desculpar-se com a crise internacional, não assumindo as suas próprias responsabilidades» pelo estado a que o País chegou.

A crise vai acen­tuar-se mais no nosso País

Jerónimo de Sousa falava na passada semana (dia 22) durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro na Assembleia da República, dedicado ao tema da educação.
O dirigente comunista referia-se à entrevista concedida na véspera por José Sócrates à RTP1, no decurso da qual este afirmou que outros países «vão baixar mais que nós, vão ter uma crise maior do que nós, em termos de percentagens».
Ora sucede que «há oito anos que andamos a divergir», sustentou Jerónimo de Sousa, lembrando que neste período enquanto os outros países «voaram mais alto, nós não descolámos». Esta é de resto uma das razões que leva o dirigente comunista a pensar que «a crise vai acentuar-se mais no nosso País», tese que defendeu de forma fundamentada antes de perguntar: «que raio de comparação é essa, senhor primeiro-ministro? Comparar com a Alemanha, com a Espanha, que subiram durante oito anos consecutivos enquanto nós andámos a patinar»?
O certo é que o desafio de Jerónimo de Sousa ao chefe do Governo para que se pronunciasse sobre a questão, assumindo, designadamente, «as suas próprias responsabilidades», caiu uma vez mais em saco roto, uma vez que aquele esgotara o seu tempo de resposta, situação que se tornou já trivial na postura do primeiro-ministro nestes debates quinzenais, servindo-lhe às mil maravilhas para passar ao lado das questões mais incómodas que lhe sejam colocadas pelos partidos da oposição.

Drama do de­sem­prego

O Secretário-geral do PCP, pronunciando-se ainda sobre os anúncios feitos no dia anterior por José Socrates, questionou também sobre o alargamento do critério de atribuição do subsídio social de desemprego. E quis saber, antes de mais, por que é que durante uma hora de entrevista, tal como até aí no debate, nunca aquele utilizara a palavra «trabalhador».
«Queima-lhe a boca, senhor primeiro-ministro?», perguntou Jerónimo, que para as acusações de «demagogo» oriundas da bancada do PS teve resposta pronta: «Demagogo não. Omissivo é o senhor primeiro-ministro».
Sobre o subsídio social perguntou concretamente a Sócrates se considerava que aquela prestação respondia ao que classificou de «questão central»: terem ficado «de fora» a maior parte dos trabalhadores desempregados, particularmente os jovens, em resultado das alterações impostas pelo Governo aos critérios de atribuição do subsídio de desemprego.
Jerónimo de Sousa lembrou, por outro lado, a proposta do PCP que defende o alargamento dos critérios da atribuição do subsídio de desemprego, insistindo em querer saber qual a posição do Governo face a esta iniciativa da bancada comunista. «Sim ou não vai admitir a proposta do PCP?», inquiriu, observando que esta proposta foi elaborado «pensando principalmente na juventude que hoje está mais desempregada e nos milhares e milhares de trabalhadores desempregados que não têm acesso ao subsídio de desemprego».
Sócrates, contornando de forma pouco hábil a questão colocada, respondeu afirmando que Portugal «tem uma taxa de substituição e um dos períodos de subsídio de desemprego» que são dos «maiores das economias desenvolvidas». E disse estar convencido de que «a questão social que está colocada é a atribuição do subsídio social de desemprego». Sobre a alteração ao critério de atribuição do subsídio de desemprego - cerne da questão colocada - , nem uma palavra, acabando por esgotar o seu tempo de intervenção a falar de «resultados» da sua política, como é o caso dos jovens que estarão a beneficiar de estágios profissionais.
«Sabe onde é que engana as pessoas? É que quem não tem acesso ao subsídio de desemprego nunca terá direito ao subsídio social de desemprego», o que corresponde a cerca de 50 por cento dos desempregados, verberou, sem apelo nem agravo, Jerónimo de Sousa.


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