A conjura
Qual o castigo para os que traem os companheiros de Baal? A mooorte! A frase ocorreu-me um destes dias, saída do baú das memórias da adolescência onde a série televisiva francesa Les Compagnons de Baalocupa um lugar particular. Ainda hoje, tantos anos passados, lembro o arrepio provocado pela frase emblemática – Quel est la peine pour ceux qui traient les compagnons de Baal? La mort! – dita num conveniente tom fúnebre, num ambiente lúgubre e como prenúncio de uma qualquer terrível vingança.
Da série a preto e branco realizada por Pierre Prévert lembro sobretudo o Grão-Mestre Hubert de Mauvouloir que capitaneava as hostes dos Compagnons de Baal, um grupo de conjurados que se propunha dominar o mundo sem olhar a meios para atingir os seus fins, e o casal de heróis – um jornalista, como convém, e uma secretária, como dá sempre jeito – que lhes havia de fazer frente. O mundo era à época tão grande que a simples ideia de uma conjura para o dominar parecia a mais pura das ficções. Vista agora, a esta distância, entre o tempo que medeia entre a idade da inocência e a experiência da vida, a história misteriosa e as fórmulas mais ou menos esotéricas usadas pelos Compagnons de Baal parecem bem próximo da realidade. É que lá que elas existem, existem. E não é de bruxas que se trata. Basta atentar no que se passa um pouco por todo o lado, Portugal incluído. Veja-se, só para não ir mais longe, o caso de José Sócrates, que ainda recentemente denunciou os «poderes ocultos» que o querem assassinar – políticamente falando, evidentemente, que as técnicas evoluiram e não foi só na televisão a cores –, ou a «campanha negra» para «decapitar» o PS de que fala o ministro Santos Silva, ou ainda de outras, muitas, «forças de bloqueio» que regularmente se perfilam no horizonte dos governantes para os impedir de bem governar, que é como se sabe a sua única e exclusiva vocação, para já não falar de todas as «cabalas» contra quem subiu a pulso na vida e enricou num golpe de sorte na bolsa ou em investimentos particularmente oportunos. Tal como na série de minha adolescência há certamente por aqui grão-mestres e conjurados, paletes de jornalistas, himalaias de secretárias e uma panóplia de outros profissionais que após prestarem juramento em qualquer recôndito buraco se dedicam à causa dos compagnons dos nossos dias. Estou mesmo em crer que a tão propalada crise financeira, a crise económica, as bolhas americanas, o desemprego, o endividamento, as guerras, o aquecimento global, a demissão do Scolari, enfim, tudo o que de mal acontece no mundo, é fruto dessa seita secreta que conspira contra o desenvolvimento e o progresso com que o capitalismo sonha brindar o planeta. Que fazer? A resposta não é fácil mas já anda por aí muita gente à procura dela, numa espécie de caça ao tesouro num país da alice sem maravilhas. Para manter o espírito desta crónica ocorre-me sugerir um programa de televisão só para ver o que dá. Assim como assim, sempre tínhamos a hipótese de desligar o botão.
Da série a preto e branco realizada por Pierre Prévert lembro sobretudo o Grão-Mestre Hubert de Mauvouloir que capitaneava as hostes dos Compagnons de Baal, um grupo de conjurados que se propunha dominar o mundo sem olhar a meios para atingir os seus fins, e o casal de heróis – um jornalista, como convém, e uma secretária, como dá sempre jeito – que lhes havia de fazer frente. O mundo era à época tão grande que a simples ideia de uma conjura para o dominar parecia a mais pura das ficções. Vista agora, a esta distância, entre o tempo que medeia entre a idade da inocência e a experiência da vida, a história misteriosa e as fórmulas mais ou menos esotéricas usadas pelos Compagnons de Baal parecem bem próximo da realidade. É que lá que elas existem, existem. E não é de bruxas que se trata. Basta atentar no que se passa um pouco por todo o lado, Portugal incluído. Veja-se, só para não ir mais longe, o caso de José Sócrates, que ainda recentemente denunciou os «poderes ocultos» que o querem assassinar – políticamente falando, evidentemente, que as técnicas evoluiram e não foi só na televisão a cores –, ou a «campanha negra» para «decapitar» o PS de que fala o ministro Santos Silva, ou ainda de outras, muitas, «forças de bloqueio» que regularmente se perfilam no horizonte dos governantes para os impedir de bem governar, que é como se sabe a sua única e exclusiva vocação, para já não falar de todas as «cabalas» contra quem subiu a pulso na vida e enricou num golpe de sorte na bolsa ou em investimentos particularmente oportunos. Tal como na série de minha adolescência há certamente por aqui grão-mestres e conjurados, paletes de jornalistas, himalaias de secretárias e uma panóplia de outros profissionais que após prestarem juramento em qualquer recôndito buraco se dedicam à causa dos compagnons dos nossos dias. Estou mesmo em crer que a tão propalada crise financeira, a crise económica, as bolhas americanas, o desemprego, o endividamento, as guerras, o aquecimento global, a demissão do Scolari, enfim, tudo o que de mal acontece no mundo, é fruto dessa seita secreta que conspira contra o desenvolvimento e o progresso com que o capitalismo sonha brindar o planeta. Que fazer? A resposta não é fácil mas já anda por aí muita gente à procura dela, numa espécie de caça ao tesouro num país da alice sem maravilhas. Para manter o espírito desta crónica ocorre-me sugerir um programa de televisão só para ver o que dá. Assim como assim, sempre tínhamos a hipótese de desligar o botão.