Davos e Belém
A palavra socialismo andou na boca da esmagadora maioria dos seus participantes
O final de Janeiro foi mais uma vez o período da realização de duas iniciativas internacionais de sinal contrário: O Fórum Económico Mundial, realizado mais uma vez na opulenta estância turística de Davos e o Fórum Social Mundial realizado na Amazónia, na cidade brasileira de Belém, Estado do Pará.
Não é exercício de retórica dizer que sobre o Fórum de Davos pouco há a dizer. Se houve novidade, ela foi a notável reviravolta daqueles que sempre satanizaram o papel do Estado na economia, unidos agora em defesa da sua intervenção para salvar os grandes grupos económicos e financeiros e os seus lucros. Mas mesmo esta reviravolta não é nova – é o velho capitalismo monopolista de Estado aplicado às condições actuais da globalização e que agora a desacreditada social-democracia tenta apresentar como «neo-keynesianismo». Se noutras edições do conclave que reúne os maiores capitalistas mundiais e os responsáveis políticos ao seu serviço, os dogmas do neoliberalismo e as virtudes do «Deus mercado» eram o mote dos discursos, na edição de 2009 os discursos vazios e os soundbytes da propaganda capitalista foram a marca de um Fórum «cabisbaixo», a cheirar a mofo e que nada teve a dizer ao Mundo além da ladainha do costume.
O Fórum Social Mundial foi, por sua vez, um misto de novidade e de repetição. Novidade pelo momento em que se realiza - uma profunda crise do capitalismo nas suas vertentes económica, social, energética, alimentar e ambiental – e por comparação com o «bloqueio» de Davos, o que justificou uma maior atenção por parte dos media. Atenção redobrada pelo facto de o FSM ter aprofundado, do ponto de vista simbólico mas também político, o contraponto com Davos ao ter como «participantes» cinco presidentes latino-americanos que são o rosto de processos de afirmação de alternativas progressistas ao domínio capitalista na região.
Novidade, porque no FSM a palavra socialismo andou na boca da esmagadora maioria dos seus participantes, incluindo os «cabeças de cartaz». Os debates do Fórum e a própria declaração dos Movimentos Sociais foram pontuados por discursos de afirmação do socialismo como alternativa à crise do capitalismo; contra o papel do FMI; pela nacionalização da Banca e de sectores estratégicos das economias, entre outros. Uma evolução positiva tendo em conta que, não há muitos anos atrás, tais ideias eram apenas defendidas pelos Partidos Comunistas que, proscritos anti-democraticamente do FSM pelo seu Conselho Internacional, teimavam, e teimam até hoje – como foi exemplo o seminário organizado por vários Partidos Comunistas, «A crise do capitalismo e a nova luta pelo socialismo», em que o PCP participou – introduzir factores de coerência política e ideológica numa iniciativa que desde a sua primeira edição repete o slogan «Outro Mundo é possível».
E essa é a razão porque o FSM foi também repetição. Apesar de um discurso geral mais claro, influenciado sobretudo pela situação mundial, pelo continente onde se realiza e pela origem dos seus participantes – das 5.800 entidades participantes, 4.200 eram da América do Sul -, a realidade do Fórum continua contudo a ser marcada pela direcção centralizada e não eleita de um conjunto de ONG’s - com raras excepções como o Movimento dos Sem Terra - que vivendo do sistema e para o defender, criaram o mito da «não organização» e do «apartidarismo» para dirigirem de facto o Fórum, o «domesticarem» e impedirem a clarificação política e ideológica que se impõe para dar sentido ao lema do FSM. A contradição de fundo entre os sentimentos da «base» do Fórum e o calculismo e instrumentalização de alguns dos seus «dirigentes» poderá, se não resolvida, vir a matar o processo. O alerta de Samir Amin, um dos fundadores do FSM, faz todo o sentido: «As lutas mais importantes já não estão no Fórum».
Não é exercício de retórica dizer que sobre o Fórum de Davos pouco há a dizer. Se houve novidade, ela foi a notável reviravolta daqueles que sempre satanizaram o papel do Estado na economia, unidos agora em defesa da sua intervenção para salvar os grandes grupos económicos e financeiros e os seus lucros. Mas mesmo esta reviravolta não é nova – é o velho capitalismo monopolista de Estado aplicado às condições actuais da globalização e que agora a desacreditada social-democracia tenta apresentar como «neo-keynesianismo». Se noutras edições do conclave que reúne os maiores capitalistas mundiais e os responsáveis políticos ao seu serviço, os dogmas do neoliberalismo e as virtudes do «Deus mercado» eram o mote dos discursos, na edição de 2009 os discursos vazios e os soundbytes da propaganda capitalista foram a marca de um Fórum «cabisbaixo», a cheirar a mofo e que nada teve a dizer ao Mundo além da ladainha do costume.
O Fórum Social Mundial foi, por sua vez, um misto de novidade e de repetição. Novidade pelo momento em que se realiza - uma profunda crise do capitalismo nas suas vertentes económica, social, energética, alimentar e ambiental – e por comparação com o «bloqueio» de Davos, o que justificou uma maior atenção por parte dos media. Atenção redobrada pelo facto de o FSM ter aprofundado, do ponto de vista simbólico mas também político, o contraponto com Davos ao ter como «participantes» cinco presidentes latino-americanos que são o rosto de processos de afirmação de alternativas progressistas ao domínio capitalista na região.
Novidade, porque no FSM a palavra socialismo andou na boca da esmagadora maioria dos seus participantes, incluindo os «cabeças de cartaz». Os debates do Fórum e a própria declaração dos Movimentos Sociais foram pontuados por discursos de afirmação do socialismo como alternativa à crise do capitalismo; contra o papel do FMI; pela nacionalização da Banca e de sectores estratégicos das economias, entre outros. Uma evolução positiva tendo em conta que, não há muitos anos atrás, tais ideias eram apenas defendidas pelos Partidos Comunistas que, proscritos anti-democraticamente do FSM pelo seu Conselho Internacional, teimavam, e teimam até hoje – como foi exemplo o seminário organizado por vários Partidos Comunistas, «A crise do capitalismo e a nova luta pelo socialismo», em que o PCP participou – introduzir factores de coerência política e ideológica numa iniciativa que desde a sua primeira edição repete o slogan «Outro Mundo é possível».
E essa é a razão porque o FSM foi também repetição. Apesar de um discurso geral mais claro, influenciado sobretudo pela situação mundial, pelo continente onde se realiza e pela origem dos seus participantes – das 5.800 entidades participantes, 4.200 eram da América do Sul -, a realidade do Fórum continua contudo a ser marcada pela direcção centralizada e não eleita de um conjunto de ONG’s - com raras excepções como o Movimento dos Sem Terra - que vivendo do sistema e para o defender, criaram o mito da «não organização» e do «apartidarismo» para dirigirem de facto o Fórum, o «domesticarem» e impedirem a clarificação política e ideológica que se impõe para dar sentido ao lema do FSM. A contradição de fundo entre os sentimentos da «base» do Fórum e o calculismo e instrumentalização de alguns dos seus «dirigentes» poderá, se não resolvida, vir a matar o processo. O alerta de Samir Amin, um dos fundadores do FSM, faz todo o sentido: «As lutas mais importantes já não estão no Fórum».