Desunião Europeia

Mercado de trabalho divide os 27

O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, pediu esta semana às empresas que evitem os despedimentos colectivos e privilegiem o despedimento parcial.

«Perspectivas para 2009 apontam para aumento do desemprego»

A recomendação foi avançada segunda-feira, 9, no final da reunião dos ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo) em Bruxelas, onde a tónica dominante foi a necessidade de adoptar «medidas estruturadas» para ajudar a «enfrentar os desafios do mercado de trabalho».
Segundo Jean-Claude Juncker, citado pela Lusa, «o recurso rápido ao despedimento colectivo não é um bom método», devendo antes as empresas, em «conjunto com o poder público», pôr em curso «mecanismos de despedimento parcial», promovendo «acções de formação para aqueles que estão preocupados com o desemprego».
O Eurogrupo defende ainda que o «ajustamento das horas de trabalho em função das necessidades de produção pode ser uma forma de flexibilidade importante no mercado de trabalho», numa altura em que a situação é «inquietante» e as perspectivas para 2009 apontam para aumento do desemprego.
As recomendações dos ministros das Finanças foram divulgadas no mesmo dia em que o primeiro-ministro checo, Mirek Topolanek, anunciou a intenção de «convocar um Conselho Europeu informal antes do fim de Fevereiro» em Bruxelas, numa tentativa de contrariar as medidas proteccionistas que têm vindo a ser tomadas pelos diferentes estados-membros.

Contradições

O anúncio de Topolanek deixa transparecer o crescente mal-estar registado no seio da União Europeia e é visto como uma tentativa de tirar protagonismo ao eixo franco-alemão, já que surgiu antes de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e da chanceler alemã, Angela Merkel, terem formalizado uma «proposta» de cimeira sobre a crise.
Vista como uma forma de ultrapassar a alegada passividade da presidência checa, a «iniciativa franco-alemã» é reveladora das contradições com que se debatem os 27. Exemplo disso é o caso francês. Ao mesmo tempo que advoga a necessidade de conjugação de esforços, a França tomou medidas de ajuda suplementar à indústria automóvel, num montante global de 7,8 mil milhões de euros, dos quais 3 mil milhões de euros aos construtores nacionais PSA Peugeot Citroën e Renault, com a condição de manterem as fábricas no país. Com este plano, Sarkozy disse pretender contrariar as deslocalizações industriais, designadamente para a República Checa, o que provocou fortes reacções em Praga.
Também o ministro alemão Peer Steinbrück considerou ser preciso «ter muito cuidado» quando «se tenta introduzir o proteccionismo via condições do plano de relançamento» económico, no que foi secundado pelo ministro holandês Wouter Bos, para quem «não é bom para nenhuma das nossas economias abrir a porta ao proteccionismo».
«Estou um pouco preocupado por estados-membros, uns a seguir aos outros, prepararem os seus próprios planos e programas», afirmou por seu turno o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude-Juncker, considerando que os governos não devem ceder às pressões internas.
Recorda-se que a taxa de desemprego na zona euro ascendeu a 8 por cento em Dezembro, o valor mais elevado da última década e, segundo a Comissão Europeia deve subir cerca de 3 pontos até 2010.


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