A crise do capitalismo e a moral marxista (1)
O capitalismo de sucesso acordou um destes dias com dores de cabeça insuportáveis, e tão terríveis foram os sintomas que o sistema recolheu às urgências onde os médicos da Bolsa tentam agora diagnosticar-lhe os males. Dizem uns que a infecção começou nas finanças e depois contagiou a economia. Para outros, a enfermidade vem da moeda, dos excessos do crédito e do apodrecido dinheiro mal parado. E há ainda os que atribuem a raiz de toda esta grave doença às loucuras dos «paraísos fiscais», ao descontrolo da inflação e às crises do petróleo.
Seja como for, a moléstia é galopante e poderá conduzir à morte do doente. Entretanto, alastram em todo o mundo os números do desemprego, as falências e a miséria. Sobretudo entre os pobres que já antes eram pobres. Porque os muito ricos ainda enriquecem mais, com a especulação, o mercado subterrâneo e os jogos cambiais. Mas o pior é que a marcha triunfal da globalização se transformou, subitamente, num tremendo pesadelo que escava atrás de si um fosso brutal entre ricos e pobres. Com grave prejuízo da classe média que tem sido a espinha dorsal do capitalismo.
Convém acrescentar que outros factores da crise económica e financeira dos mercados nos devem despertar igual atenção, embora sejam de uma outra natureza. Trata-se da degradação moral como táctica sempre ligada às operações dos enriquecimentos rápidos e da acumulação dos capitais e dos lucros, base imprescindível da injusta repartição da riqueza. São formas de contaminação que geram a injustiça social, sacralizam a fraude, prostituem a justiça e minam as ideologias e os comportamentos. Nas sociedades capitalistas, esses factores transformam-se facilmente em instrumentos de divisão e manipulação das massas, promovendo a exploração do homem pelo homem através do esvaziamento dos valores éticos. No seu arsenal, contam-se métodos de manipulação da opinião pública, o falseamento da verdade, a corrupção da linguagem política e a intenção de dividir para reinar, por qualquer preço. Esta metodologia revela-se a cada passo nas mensagens que nos chegam no nosso dia-a-dia.
Exemplos que atestam como a mentira, a invenção e a fraude se misturam com os métodos do grande capital, abundam por aí. Só duas ou três pequenas histórias, como fundamentação.
Bush, a CIA, o Pentágono e a Wall Street, cobiçavam (e cobiçam...) o petróleo do Próximo Oriente do qual a porta de entrada é o Iraque e o corredor central o Afeganistão. Então, sem falar sequer em petróleo, Bush acusou os iraquianos de possuírem um terrível arsenal secreto que punha em causa a segurança dos estados pacíficos. Começaram os bombardeamentos norte-americanos, a invasão por terra, o isolamento do Iraque, etc. Milhares ou milhões de seres humanos morreram devido à agressão prolongada, à fome e às doenças. Quando a situação se tornou insustentável, Bush reconheceu ter mentido. Mas o que estava feito, estava feito e nada lhe aconteceu. O petróleo árabe continua seguro nas mãos dos EUA. Com crise ou sem crise.
Na banca mundial rebentou mais um escândalo. O banqueiro americano Bernard Madoff foi preso e acusado de ter roubado mais de 50 mil milhões de dólares. Admitiu a acusação e a forma como enganara os incautos, também eles sedentos de dinheiro. E tornou-se evidente que, com Madoff ou sem Madoff, o grande mal satânico reside nos «paraísos fiscais». Veja-se só como as grandes fundações filantrópicas norte-americanas foram atingidas. Consideradas solidárias e não lucrativas, também elas investiam fortunas nos off-shores, especulavam e agora despedem em massa o seu pessoal, para cobrirem os prejuízos Quanto a Madoff, muito provavelmente nada lhe acontecerá. Não foi ele o primeiro nem será o último a cometer gigantescas fraudes. E o capitalismo global precisa dos off-shores. Portanto, o que está feito feito está. E os famigerados «paraísos» continuam por aí a engordar à sombra dos lucros de todos os crimes.
Por cá, também outro escândalo atravessou as fronteiras. O BPN (Banco Português de Negócios) e a sua subsidiária SLN (Sociedade Lusa de Negócios) foram apanhados num «buraco» que envolve mais de 700 milhões de euros de prejuízos. A falência do grupo, se não fosse o Governo dar-lhe a mão, arrastaria o encerramento de dezenas de outras empresas menores mas igualmente importantes, desde a FINCOR (corretora) às CAVES DA RAPOSEIRA ou à MURGANHEIRA (vinhos), ou do GRUPO PORTUGUÊS DA SAÚDE (radiologia médica) à CNE (cimentos). Então, o Estado de Sócrates, passando por cima do facto de ser o BPN um simples clube de alguns investidores privados, nacionalizou o lobby e, consequentemente, chamou a si o pagamento dos prejuízos acumulados. Contra tudo quanto se poderia esperar, aliás, da sua própria ideologia liberal, o Governo veio demonstrar que apenas serve como instituição seguradora do capital privado. Em plena crise financeira, Sócrates pôs à disposição da banca créditos da ordem dos 4000 milhões de euros ou seja, comprometeu-se com o equivalente a 30% do total do capital social de toda a banca privada. O objectivo em vista é pagar os prejuízos da área financeira, nacionalizar os bancos, se tal for necessário, e enquanto a crise durar para, mais tarde, os devolver aos seus accionistas milionários.
Seja como for, a moléstia é galopante e poderá conduzir à morte do doente. Entretanto, alastram em todo o mundo os números do desemprego, as falências e a miséria. Sobretudo entre os pobres que já antes eram pobres. Porque os muito ricos ainda enriquecem mais, com a especulação, o mercado subterrâneo e os jogos cambiais. Mas o pior é que a marcha triunfal da globalização se transformou, subitamente, num tremendo pesadelo que escava atrás de si um fosso brutal entre ricos e pobres. Com grave prejuízo da classe média que tem sido a espinha dorsal do capitalismo.
Convém acrescentar que outros factores da crise económica e financeira dos mercados nos devem despertar igual atenção, embora sejam de uma outra natureza. Trata-se da degradação moral como táctica sempre ligada às operações dos enriquecimentos rápidos e da acumulação dos capitais e dos lucros, base imprescindível da injusta repartição da riqueza. São formas de contaminação que geram a injustiça social, sacralizam a fraude, prostituem a justiça e minam as ideologias e os comportamentos. Nas sociedades capitalistas, esses factores transformam-se facilmente em instrumentos de divisão e manipulação das massas, promovendo a exploração do homem pelo homem através do esvaziamento dos valores éticos. No seu arsenal, contam-se métodos de manipulação da opinião pública, o falseamento da verdade, a corrupção da linguagem política e a intenção de dividir para reinar, por qualquer preço. Esta metodologia revela-se a cada passo nas mensagens que nos chegam no nosso dia-a-dia.
Exemplos que atestam como a mentira, a invenção e a fraude se misturam com os métodos do grande capital, abundam por aí. Só duas ou três pequenas histórias, como fundamentação.
Bush, a CIA, o Pentágono e a Wall Street, cobiçavam (e cobiçam...) o petróleo do Próximo Oriente do qual a porta de entrada é o Iraque e o corredor central o Afeganistão. Então, sem falar sequer em petróleo, Bush acusou os iraquianos de possuírem um terrível arsenal secreto que punha em causa a segurança dos estados pacíficos. Começaram os bombardeamentos norte-americanos, a invasão por terra, o isolamento do Iraque, etc. Milhares ou milhões de seres humanos morreram devido à agressão prolongada, à fome e às doenças. Quando a situação se tornou insustentável, Bush reconheceu ter mentido. Mas o que estava feito, estava feito e nada lhe aconteceu. O petróleo árabe continua seguro nas mãos dos EUA. Com crise ou sem crise.
Na banca mundial rebentou mais um escândalo. O banqueiro americano Bernard Madoff foi preso e acusado de ter roubado mais de 50 mil milhões de dólares. Admitiu a acusação e a forma como enganara os incautos, também eles sedentos de dinheiro. E tornou-se evidente que, com Madoff ou sem Madoff, o grande mal satânico reside nos «paraísos fiscais». Veja-se só como as grandes fundações filantrópicas norte-americanas foram atingidas. Consideradas solidárias e não lucrativas, também elas investiam fortunas nos off-shores, especulavam e agora despedem em massa o seu pessoal, para cobrirem os prejuízos Quanto a Madoff, muito provavelmente nada lhe acontecerá. Não foi ele o primeiro nem será o último a cometer gigantescas fraudes. E o capitalismo global precisa dos off-shores. Portanto, o que está feito feito está. E os famigerados «paraísos» continuam por aí a engordar à sombra dos lucros de todos os crimes.
Por cá, também outro escândalo atravessou as fronteiras. O BPN (Banco Português de Negócios) e a sua subsidiária SLN (Sociedade Lusa de Negócios) foram apanhados num «buraco» que envolve mais de 700 milhões de euros de prejuízos. A falência do grupo, se não fosse o Governo dar-lhe a mão, arrastaria o encerramento de dezenas de outras empresas menores mas igualmente importantes, desde a FINCOR (corretora) às CAVES DA RAPOSEIRA ou à MURGANHEIRA (vinhos), ou do GRUPO PORTUGUÊS DA SAÚDE (radiologia médica) à CNE (cimentos). Então, o Estado de Sócrates, passando por cima do facto de ser o BPN um simples clube de alguns investidores privados, nacionalizou o lobby e, consequentemente, chamou a si o pagamento dos prejuízos acumulados. Contra tudo quanto se poderia esperar, aliás, da sua própria ideologia liberal, o Governo veio demonstrar que apenas serve como instituição seguradora do capital privado. Em plena crise financeira, Sócrates pôs à disposição da banca créditos da ordem dos 4000 milhões de euros ou seja, comprometeu-se com o equivalente a 30% do total do capital social de toda a banca privada. O objectivo em vista é pagar os prejuízos da área financeira, nacionalizar os bancos, se tal for necessário, e enquanto a crise durar para, mais tarde, os devolver aos seus accionistas milionários.