As novas aspirações e a segregação social da prática
As inter-relações entre o desporto e o resto da sociedade nunca foram tão intensas como hoje. A verdade é que ele passou a constituir um dos reflexos da própria transformação da sociedade e, ao mesmo tempo, também influi nos comportamentos e atitudes de muitos indivíduos.
Estamos perante uma realidade histórica completamente nova, referida, simultaneamente, ao desporto e à própria comunidade. A noção do desporto para todos traduz, já em si, a tomada de consciência do direito de acesso de todos a uma prática de reconhecida importância para a vida de cada indivíduo, e do próprio grupo social de que faz parte.
Esta noção, no entanto, não traduz toda a complexidade da impregnação social pelo desporto. O significado cultural do desporto para todos, tal como foi concebido, é limitado e, por outro lado, a dimensão das relações do desporto com a economia e com os órgãos de informação não é suficientemente compreensível se não se proceder a estudo atento e profundo do fenómeno.
Para além desta perspectiva, digamos de carácter positivo, existe uma outra que, normalmente, fica na sombra: referimo-nos ao tipo de relações estabelecidas pelo desporto e com o desporto por aqueles que, devido às condições concretas da sua existência, não têm acesso à sua prática. Sabemos que, no nosso País, o número de indivíduos nesta situação é enorme (por uma ou outra razão é largamente maioritário pois os números oficiais informam que somente cerca 23% da população realiza uma prática físico-desportiva) e, tudo indica que, no estado actual da sociedade, irá aumentar.
No entanto, grande parte do resto destes indivíduos (cerca de 75% da população) tem contacto com alguns dos aspectos do desporto (normalmente através do espectáculo televisivo ou da frequência dos estádios) e vive, tal como os outros, idêntica aspiração à sua prática de acordo com as suas preferências e capacidades. Este é o lado negativo da situação do desporto na nossa sociedade, e aquele que aqui mais nos interessa focar. Constitui, na sua formulação contraditória entre um «espectadorismo» acrítico e pouco sadio e a crescente consciência de um direito, um dos elementos da modernidade do desporto.
Esta situação, quando encarada exclusivamente na perspectiva das práticas físico-desportivas, é completamente nova. Não se trata já de esperar que os indivíduos que integram as camadas mais desfavorecidas da população acedam a um novo nível de vida, esse sim propiciador das condições da prática. Tem sido esta atitude do Poder e do próprio sistema desportivo e muitos dos mais acérrimos defensores da difusão consequente da prática desportiva têm também caído nesse erro, embalados pelo discurso dominante.
Importa agora, dentro do quadro da modernidade, pensar as formas que permitam o acesso à actividade desportiva daqueles até agora privados dela. A consequência directa desta mudança de perspectiva é a de que o desporto tem de passar a fazer parte integrante do processo de desenvolvimento global, encontrando o lugar que, por direito, lhe pertence dentro das políticas nacional, regional e local de democratização da cultura.
Significa tudo isto que as antigas formas de equacionar o problema desportivo têm de ser profundamente alteradas. Não é possível, no novo quadro social em que vivemos, continuar a subordinar o desporto aos mesmos critérios que eram aplicados há 20, 30 e mais anos. Por exemplo, não é possível continuar a pensar que o modelo do desporto federado, selectivo e intensamente competitivo constitui a única forma de resposta a quem deseja praticar. Nem é possível continuar a considerar o desporto como um luxo, ou que quem o quer praticar deve pagá-lo. A prática desportiva demonstrou já o seu valor e importância social para não ser tratada com tal desdém.
As situações dos indivíduos são diferentes, quer entre si, quer em relação ao passado. As suas motivações, interesses e aspirações também. As necessidades sentidas são outras, assim como a caracterização da própria sociedade.
Não se compreende, por isso, que numa situação caracterizada pela dinâmica da transformação os próprios quadros de referência cultural, institucional e de organização não sofram profundas alterações. A resposta às necessidades da prática de um pequeno número de privilegiados, no passado, não pode continuar a ser a mesma quando dirigida ao grande número, no presente.
Estamos perante uma realidade histórica completamente nova, referida, simultaneamente, ao desporto e à própria comunidade. A noção do desporto para todos traduz, já em si, a tomada de consciência do direito de acesso de todos a uma prática de reconhecida importância para a vida de cada indivíduo, e do próprio grupo social de que faz parte.
Esta noção, no entanto, não traduz toda a complexidade da impregnação social pelo desporto. O significado cultural do desporto para todos, tal como foi concebido, é limitado e, por outro lado, a dimensão das relações do desporto com a economia e com os órgãos de informação não é suficientemente compreensível se não se proceder a estudo atento e profundo do fenómeno.
Para além desta perspectiva, digamos de carácter positivo, existe uma outra que, normalmente, fica na sombra: referimo-nos ao tipo de relações estabelecidas pelo desporto e com o desporto por aqueles que, devido às condições concretas da sua existência, não têm acesso à sua prática. Sabemos que, no nosso País, o número de indivíduos nesta situação é enorme (por uma ou outra razão é largamente maioritário pois os números oficiais informam que somente cerca 23% da população realiza uma prática físico-desportiva) e, tudo indica que, no estado actual da sociedade, irá aumentar.
No entanto, grande parte do resto destes indivíduos (cerca de 75% da população) tem contacto com alguns dos aspectos do desporto (normalmente através do espectáculo televisivo ou da frequência dos estádios) e vive, tal como os outros, idêntica aspiração à sua prática de acordo com as suas preferências e capacidades. Este é o lado negativo da situação do desporto na nossa sociedade, e aquele que aqui mais nos interessa focar. Constitui, na sua formulação contraditória entre um «espectadorismo» acrítico e pouco sadio e a crescente consciência de um direito, um dos elementos da modernidade do desporto.
Esta situação, quando encarada exclusivamente na perspectiva das práticas físico-desportivas, é completamente nova. Não se trata já de esperar que os indivíduos que integram as camadas mais desfavorecidas da população acedam a um novo nível de vida, esse sim propiciador das condições da prática. Tem sido esta atitude do Poder e do próprio sistema desportivo e muitos dos mais acérrimos defensores da difusão consequente da prática desportiva têm também caído nesse erro, embalados pelo discurso dominante.
Importa agora, dentro do quadro da modernidade, pensar as formas que permitam o acesso à actividade desportiva daqueles até agora privados dela. A consequência directa desta mudança de perspectiva é a de que o desporto tem de passar a fazer parte integrante do processo de desenvolvimento global, encontrando o lugar que, por direito, lhe pertence dentro das políticas nacional, regional e local de democratização da cultura.
Significa tudo isto que as antigas formas de equacionar o problema desportivo têm de ser profundamente alteradas. Não é possível, no novo quadro social em que vivemos, continuar a subordinar o desporto aos mesmos critérios que eram aplicados há 20, 30 e mais anos. Por exemplo, não é possível continuar a pensar que o modelo do desporto federado, selectivo e intensamente competitivo constitui a única forma de resposta a quem deseja praticar. Nem é possível continuar a considerar o desporto como um luxo, ou que quem o quer praticar deve pagá-lo. A prática desportiva demonstrou já o seu valor e importância social para não ser tratada com tal desdém.
As situações dos indivíduos são diferentes, quer entre si, quer em relação ao passado. As suas motivações, interesses e aspirações também. As necessidades sentidas são outras, assim como a caracterização da própria sociedade.
Não se compreende, por isso, que numa situação caracterizada pela dinâmica da transformação os próprios quadros de referência cultural, institucional e de organização não sofram profundas alterações. A resposta às necessidades da prática de um pequeno número de privilegiados, no passado, não pode continuar a ser a mesma quando dirigida ao grande número, no presente.