Natal sombrio
A crise global do capitalismo agudiza-se perigosamente neste final de 2008. Números oficiais indicam uma contracção abrupta nas economias dos principais países capitalistas. Até Novembro, quase 2 milhões de americanos perderam o emprego - mais de meio milhão apenas nesse mês (Bloomberg, 5.12.08). Em Setembro já «um em cada 10 proprietários de habitação própria com hipotecas [nos EUA] tinha mais de um mês de atraso nos pagamentos ou estava em processo de execução. Uma em cada cinco hipotecas vale mais do que a casa que serviu para comprar» (Financial Times, 19.12.08). Segundo o Banco Mundial, o comércio global vai contrair pela primeira vez em 25 anos (Bloomberg, 16.12.08). Quase todos os dias se anunciam novos «auxílios» públicos para gigantes financeiros ou industriais. Com a crise, vêm à tona as fraudes do sistema. Nos EUA um reputado financeiro, que em 1989 era responsável por 5% do volume de transacções na bolsa de Nova Iorque (New York Times, 20.12.08), confessa-se um vigarista responsável por um esquema tipo D. Branca que extorquiu 50 mil milhões de dólares a incautos ricos que lhe confiaram as suas fortunas. O monstro em que se tornou o regabofe capitalista devora também os seus próprios filhos.
No Financial Times (19.12.08) escreve-se que os prejuízos totais resultantes do chamado «papel tóxico» andarão algures entre 2,8 e 6 milhões de milhões de dólares, e que está em curso «uma reacção em cadeia que não deixará nenhum sector da economia mundial intacto. A economia americana está a contrair a um ritmo anualizado de 5%. A propriedade comercial está a seguir o mercado habitacional em queda livre. O [índice da Bolsa de Nova Iorque] Standard & Poor 500 está 43% abaixo do seu auge de Outubro do ano passado. [...] Os EUA estão no centro da crise, mas a Europa e o Japão poderão sofrer réplicas ainda maiores». O autor considera que «o endividamento excessivo é a chave desta crise». Mas as políticas governamentais têm consistido em transferir as dívidas e prejuízos para o erário público, aumentando o endividamento.
A tendência parece ser agora alagar os mercados em dólares, alegadamente para combater o risco de um processo deflacionário, como nos anos 30. «A Reserva Federal, que já pôs em circulação centenas de milhares de milhões de dólares, poderá adoptar formalmente a política de inundar o sistema financeiro mundial com ainda mais dinheiro» (Bloomberg, 24.11.08). O recente corte das taxas de juro, para praticamente zero nos EUA, vai na mesma direcção. Há quem recorde (Telegraph.co.uk, 6.12.08) o artigo escrito há 6 anos pelo agora Presidente da Reserva Federal, Bernanke, onde afirmava: «O governo dos EUA tem uma tecnologia, chamada prensa, que lhe permite produzir tantos dólares quanto queira, praticamente sem custos». Os centros do capitalismo mundial não parecem capazes de conter o monstro que geraram. O planeta corre o risco de oscilar entre a deflação e a hiper-inflação (que quase anularia a colossal dívida dos EUA, mas também destruiria o dólar), no meio duma recessão profunda. Com o perigo de aventuras militares e fascizantes em pano de fundo. É este o resultado de anos de rapina de classe e domínio quase incontestado do grande capital. Ironicamente, a expressão «fim da História» inventada por um arauto do capitalismo selvagem inebriado pelas vitórias de há pouco mais de uma década ganha agora outros sentidos.
No meio de tanta crise e perigo, uma boa notícia chega da América Latina: a Bolívia tornou-se o terceiro país do continente, depois de Cuba e Venezuela, a erradicar o analfabetismo (Público online, 21.12.08). O que mostra que o mundo pode ser diferente. Assim os povos sejam capazes de o conquistar.
No Financial Times (19.12.08) escreve-se que os prejuízos totais resultantes do chamado «papel tóxico» andarão algures entre 2,8 e 6 milhões de milhões de dólares, e que está em curso «uma reacção em cadeia que não deixará nenhum sector da economia mundial intacto. A economia americana está a contrair a um ritmo anualizado de 5%. A propriedade comercial está a seguir o mercado habitacional em queda livre. O [índice da Bolsa de Nova Iorque] Standard & Poor 500 está 43% abaixo do seu auge de Outubro do ano passado. [...] Os EUA estão no centro da crise, mas a Europa e o Japão poderão sofrer réplicas ainda maiores». O autor considera que «o endividamento excessivo é a chave desta crise». Mas as políticas governamentais têm consistido em transferir as dívidas e prejuízos para o erário público, aumentando o endividamento.
A tendência parece ser agora alagar os mercados em dólares, alegadamente para combater o risco de um processo deflacionário, como nos anos 30. «A Reserva Federal, que já pôs em circulação centenas de milhares de milhões de dólares, poderá adoptar formalmente a política de inundar o sistema financeiro mundial com ainda mais dinheiro» (Bloomberg, 24.11.08). O recente corte das taxas de juro, para praticamente zero nos EUA, vai na mesma direcção. Há quem recorde (Telegraph.co.uk, 6.12.08) o artigo escrito há 6 anos pelo agora Presidente da Reserva Federal, Bernanke, onde afirmava: «O governo dos EUA tem uma tecnologia, chamada prensa, que lhe permite produzir tantos dólares quanto queira, praticamente sem custos». Os centros do capitalismo mundial não parecem capazes de conter o monstro que geraram. O planeta corre o risco de oscilar entre a deflação e a hiper-inflação (que quase anularia a colossal dívida dos EUA, mas também destruiria o dólar), no meio duma recessão profunda. Com o perigo de aventuras militares e fascizantes em pano de fundo. É este o resultado de anos de rapina de classe e domínio quase incontestado do grande capital. Ironicamente, a expressão «fim da História» inventada por um arauto do capitalismo selvagem inebriado pelas vitórias de há pouco mais de uma década ganha agora outros sentidos.
No meio de tanta crise e perigo, uma boa notícia chega da América Latina: a Bolívia tornou-se o terceiro país do continente, depois de Cuba e Venezuela, a erradicar o analfabetismo (Público online, 21.12.08). O que mostra que o mundo pode ser diferente. Assim os povos sejam capazes de o conquistar.