Timor Leste

Fretilin prepara Marcha da Paz

A Fretilin está a preparar uma marcha de protesto contra o governo de Xanana Gusmão, o qual, acusam, boicota a oposição e viola a Constituição da República. O partido pondera ainda abandonar o parlamento dominado pela maioria afecta ao executivo de Díli.

O protesto será «uma lição de paz e não-violência», diz a Fretilin

A ameaça de abandonar o hemiciclo timorense foi reiterada, no início da passada semana, pelo presidente da Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin), Francisco Guterres Lu'Olo, para quem «o parlamento tornou-se num instrumento do governo, não dando oportunidade à oposição para questionar certos assuntos de interesse nacional, como aconteceu na discussão do Orçamento Geral do Estado deste ano».
Em declarações citadas pela agência Lusa, Lu'Olo acusou a Aliança da Maioria Parlamentar (AMP) - cujo maior partido é o Congresso Nacional da Reconstrução de Timor Leste (CNRT), liderado por Gusmão – de ser cúmplice do governo na obstaculização das iniciativas da Fretilin, e de suportar uma administração que viola o texto fundamental da República Democrática de Timor Leste.
Neste contexto, e a menos que se corrijam estas situações, disse o dirigente do partido da resistência maubere, a Fretilin vai abandonar o parlamento, decisão que pode ser tomada até ao final de 2008.
As declarações de Lu'Olo surgiram três dias depois da reunião alargada do Comité Central da Fretilin, na qual ficou decidida a realização da Marcha da Paz como resposta política à inacção, incapacidade, corrupção, conluio e nepotismo que grassam no governo de Gusmão.
O primeiro-ministro reagiu com dureza à iniciativa da Fretilin garantindo que mandará deter qualquer pessoa que perturbe a ordem pública, mas o partido vencedor das eleições de 2007 respondeu, através do vice-presidente, José Manuel Fernandes, dizendo a Fretilin está disposta a dar a Gusmão e aos seus aliados «uma lição de paz e não-violência que defenda a reposição da autoridade democrática do Estado timorense».

Reforçar para intervir

Na reunião alargada a deputados, ex-deputados, ex-membros do governo e representantes dos órgãos sub-nacionais do partido, o Comité Central da Fretilin decidiu mandatar a Comissão Política Nacional para tomar a posição que julgar mais adequada quanto à manutenção, ou não, dos eleitos do partido na assembleia da República, e quanto à alteração à Lei dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional.
A direcção adoptou ainda como documentos seus os relatórios da bancada parlamentar da Fretilin – os quais serão editados como brochura por forma a divulgar junto dos militantes e do povo a actividade dos deputados -, e o relatório sobre o Processo de Reajustamento.
Na ordem de trabalhos do plenário esteve também, segundo a nota de imprensa divulgada pela Fretilin, a eleição dos líderes comunitários em 13 distritos, 65 subdistritos e mais de 400 aldeias, processo para o qual o Comité Central exortou os militantes à participação, no quadro do reforço da organização e estrutura partidária, e da sua representação e influência local.
Só depois de concluído este processo, esclareceu a Fretilin, será divulgada a data da Marcha da Paz. Com o protesto, o partido pretende realizar uma grande acção de massas para denunciar a inconstitucionalidade do governo e exigir a convocação de legislativas antecipadas já para 2009.
Já a respeito das comemorações do 28 de Novembro – data que celebra a declaração unilateral de independência de Timor Leste, em 1975 –, o CC da Fretilin deliberou criar uma comissão organizadora da iniciativa e mandatou os ex-membros do governo a proceder a um levantamento exaustivo dos planos de acção do executivo da Fretilin em matéria de construção de infraestruturas, programas sociais e outros, uma vez que, explicam, «nesta matéria o Comité Central constata que as obras até agora inauguradas pelo auto-proclamado IV Governo Constitucional são ainda resultado do trabalho do governo da Fretilin».

Tribunal de Recurso dá razão à Fretilin
Fundo de Estabilização é inconstitucional

Posteriormente à reunião do CC da Fretilin, o Tribunal de Recurso de Timor Leste declarou inconstitucional o Fundo de Estabilização Económica (FEE), uma rubrica incluída no Orçamento do Estado sem qualquer previsão de despesas.
«Este fundo, uma espécie de “saco azul” de 240 milhões de dólares para o Governo utilizar como bem entendesse, foi criado com transferências acima do permitido pela Lei que regula o Fundo de Petróleo», explicou Mari Alkatiri ouvido pela Lusa.
Para Alkatiri, as autoridades judiciais até foram «generosas» para com o governo, uma vez que aceitaram as despesas anteriores ao acórdão, pelo que, neste momento, a oposição tem que vigiar o governo não permitindo que este «comece a inventar recibos com datas anteriores para contornar a decisão do Tribunal». «Se o fizerem é crime e terão de responder criminalmente», disse Alkatiri.
«Se [o governo] tinha planos para gastar o dinheiro e não o pode fazer, isso precipita a realização de eleições», acrescentou ainda o ex-primeiro-ministro.

Orçamento da polémica

A polémica em torno do Orçamento de Estado para 2008 em Timor Leste resulta do aumento em 122 por cento no documento rectificativo dos gastos previstos no original.
Acresce que o próprio presidente, Ramos Horta, esteve envolvido na polémica quando levantou dúvidas sobre o FEE. Horta disse querer esperar pela decisão judicial antes de promulgar o Orçamento rectificativo, mas acabou por subscrever o documento.
O Orçamento inicial, discutido e aprovado em Dezembro de 2007, tinha em conta um valor global de 347,5 milhões de dólares norte-americanos, mas o rectificativo, levado ao parlamento em Junho deste ano, fazia crescer as provisões para um total de 773,3 milhões. Destes, 686,8 milhões de dólares representavam transferências do Fundo Petrolífero.


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