Significado histórico e universal
Milhares de russos comemoraram, sexta-feira, o 91.º aniversário da Revolução de Outubro, que em 1917 derrubou o poder burguês na Rússia e lançou os povos daquele país na construção do primeiro Estado proletário, sob direcção do Partido Bolchevique, liderado por Lénine.
«O capitalismo faliu, queremos o socialismo», gritou-se em Moscovo
O significado histórico e universal da Revolução de Outubro foi sublinhado durante as concentrações promovidas pelo Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) e outras organizações sociais e de trabalhadores em centenas de cidades e localidades de todo o território, de Moscovo ao Extremo Oriente. A maior iniciativa ocorreu na capital, onde dezenas de milhares de pessoas desfilaram entre a praça Puchkin e o Teatro Bolchoi, gritando palavras de ordem como «o capitalismo faliu, queremos o socialismo».
A iniciativa culminou, junto à estátua de Karl Marx, com uma intervenção do presidente do PCFR, Gennadi Ziuganov. O líder comunista russo considerou que a actual crise mundial revela o fracasso do capitalismo e que, neste contexto, «a alternativa socialista bate com insistência à porta. A história lembra-nos a justeza e acuidade da grande revolução russa. Os governantes contaram-nos histórias [sobre o capitalismo] de um “paraíso seguro” e de “uma ilha de estabilidade”, mas elas não passavam de um logro», disse.
Para Ziuganov, citado pela Lusa, a Revolução de Outubro – a par da derrota do nazi-fascismo, em 1945 – é o acontecimento «mais grandioso do século XX» e ninguém conseguirá ofuscá-la, reescrevê-la ou ocultá-la. Quanto a Lénine, acrescentou, «além de fundar um partido ímpar, criou uma base que permitiu ao país inaugurar a época de investigação do Espaço e a edificação de um sistema social sem paralelo».
Incómodo para o novo poder
As comemorações oficiais do 7 de Novembro (25 de Outubro de acordo com o calendário juliano que no início do século passado vigorava na Rússia) foram praticamente banidas a partir de 1991, com o fim da União Soviética. Em 2004, o poder capitalista em consolidação alterou a data do feriado nacional para 4 de Novembro, chamando-lhe Dia da Unidade. O objectivo era assinalar a expulsão dos invasores polacos, ocorrida em 1612. A manobra não pegou entre o povo, que continua a ter no 7 de Novembro uma referência histórica e política.
Mais recentemente, o Kremlin optou por um modelo comemorativo amputado do carácter de classe e de transformação social. A ideia é relevar a vitória das tropas soviéticas sobre as hordas nazi-fascistas sob o ponto de vista da expulsão de «mais um invasor da pátria».
Assim, este ano, em Moscovo e em outras cidades russas, as autoridades organizaram eventos comemorativos do 7 de Novembro de 1941, quando ao desfile militar e à comemoração popular da Revolução de Outubro se seguiu o avanço para a frente de guerra. Na praça Vermelha, foi mesmo reproduzida a parada de 1941, com soldados vestidos com as antigas fardas militares, centenas de veteranos de guerra, entre os quais alguns dos que então foram para a linha da frente combater.
Não houve qualquer referência à Revolução de Outubro no evento oficial, contrariamente ao ocorrido em 1941, mas entre os russos parece impossível dissociar o triunfo sobre o nazi-fascismo das conquistas do socialismo, defendidas por um povo que as vivia e nelas acreditava, e, por isso, não podia ser derrotado.
Assim como é inolvidável o facto do povo russo ter à época respondido à palavra de ordem dos dirigentes comunistas e do Estado soviético – os quais, apesar dos alemães estarem às portas de Moscovo, se recusaram a abandonar a capital – para avançarem «sob a bandeira do grande Lénine, para a vitória», como apelou Stáline durante o discurso no mausoléu do seu antecessor.
A tentativa de apagamento da memória histórica e política montada pelo governo, desconectando acontecimentos intimamente ligados entre si como a derrota do nazi-fascismo e Revolução de Outubro de 1917, bem como o significado e alcance desta, penetra cada vez menos no povo russo. As provas estão no facto de o 7 de Novembro, ser para cerca de 38 por cento dos inquiridos por uma sondagem recente, a data da Revolução; e na mobilização juvenil para a concentração do PCFR em Moscovo, encerrada por um jovem comunista que, tal como milhares de outros ali presentes, «não leram as obras completas de Lénine, mas sentem que ele deu origem a um ímpeto revolucionário que transporta novas ideias», como disse Ziuganov na sua intervenção.
O presidente russo, Dimitri Medevedev, preferiu no 7 de Novembro deslocar-se a São Petersburgo para inaugurar uma fábrica da General Motors, unidade que, destacou, pretende produzir para o mercado russo 70 mil automóveis por ano.
Povos lembram Outubro
Os 91 anos da Revolução Bolchevique foram assinalados pelos trabalhadores e os povos nos quatro cantos do mundo.
Em Kiev, o centro da cidade foi ocupado por uma grande concentração promovida pelo Partido Comunista da Ucrânia. No comício na capital, os manifestantes exigiram o fim do poder de Iushtchenko e da oligarquia. Na vizinha Bielorrússia, também uma ex-república soviética, o presidente Alexander Lukachenko lembrou numa mensagem oficial, citada pelo vermelho, que «a Revolução de Outubro não só mudou o destino de uma grande nação, mas fundamentalmente definiu o caminho de desenvolvimento do ser humano. Ela atraiu milhões de pessoas no processo de construção de uma nova sociedade, uma sociedade sem exploração, sem opressão, sem desigualdades. Graças ao sucesso da revolução, os sonhos de muitas gerações de bielorrussos tornaram-se realidade».
Em Cuba, para além das comemorações populares, o Partido Comunista promoveu na sua escola de formação política um curso sobre a Revolução de Outubro e o socialismo e, no Vietname, a data foi assinalada com uma exposição fotográfica da agência de notícias do país, que destacou a relação do povo vietnamita com os povos da ex-URSS, e a sua importância na libertação e desenvolvimento da nação asiática.
Já na Venezuela, a comemoração organizada pelo Partido Comunista teve como ponto alto a sessão realizada no município de Libertador.
Em nota divulgada na sua página de Internet, o PCV frisa que «a magnitude histórica do Outubro Vermelho, o seu impacto no progresso da humanidade, os eventos históricos que desencadeou e continua a desencadear, apresentam a Revolução como o mais relevante acontecimento do século XX».
«Os direitos laborais, pensões de reforma, benefícios de saúde e demais regalias sociais foram conquistadas e efectivadas em todo o mundo após a vitória de 1917», lembraram no documento.
Alemanha Oriental
Melhor com o socialismo
A assinalar o 91.º aniversário da Revolução de Outubro e os 19 anos sobre a queda do Muro de Berlim (9 de Novembro de 1989), o Der Spiegel publicou uma sondagem que revelou dados surpreendentes. O estudo citado pelo Vermelho.org.br cruza as opiniões de duas gerações de alemães orientais: metade dos inquiridos tinha no máximo seis anos aquando da reunificação germânica, e a outra metade tinha entre 17 e 24 anos.
Do apuramento resultou que entre estes últimos, 92 por cento consideram que estavam melhor na República Democrática Alemã (RDA) do que actualmente, e, indagados sobre se preferiam viver na Alemanha Ocidental ou Oriental, caso subsistisse a divisão, a maioria respondeu que preferia viver na RDA. A maioria dos pertencentes à geração de meia-idade frisa ainda que o sistema socialista se mantém válido, embora teça críticas à forma como foi aplicado. 60 por cento dos jovens lamenta que muitas das garantias do comunismo tenham sido erradicadas.
As diferenças de opinião mais significativas emergem entre os indivíduos que habitam na Alemanha de Leste e Oeste. Ainda assim, entre os últimos, 26 por cento dos jovens e 48 por cento dos menos jovens consideram que na RDA existia um sistema de protecção social superior ao actual.
A iniciativa culminou, junto à estátua de Karl Marx, com uma intervenção do presidente do PCFR, Gennadi Ziuganov. O líder comunista russo considerou que a actual crise mundial revela o fracasso do capitalismo e que, neste contexto, «a alternativa socialista bate com insistência à porta. A história lembra-nos a justeza e acuidade da grande revolução russa. Os governantes contaram-nos histórias [sobre o capitalismo] de um “paraíso seguro” e de “uma ilha de estabilidade”, mas elas não passavam de um logro», disse.
Para Ziuganov, citado pela Lusa, a Revolução de Outubro – a par da derrota do nazi-fascismo, em 1945 – é o acontecimento «mais grandioso do século XX» e ninguém conseguirá ofuscá-la, reescrevê-la ou ocultá-la. Quanto a Lénine, acrescentou, «além de fundar um partido ímpar, criou uma base que permitiu ao país inaugurar a época de investigação do Espaço e a edificação de um sistema social sem paralelo».
Incómodo para o novo poder
As comemorações oficiais do 7 de Novembro (25 de Outubro de acordo com o calendário juliano que no início do século passado vigorava na Rússia) foram praticamente banidas a partir de 1991, com o fim da União Soviética. Em 2004, o poder capitalista em consolidação alterou a data do feriado nacional para 4 de Novembro, chamando-lhe Dia da Unidade. O objectivo era assinalar a expulsão dos invasores polacos, ocorrida em 1612. A manobra não pegou entre o povo, que continua a ter no 7 de Novembro uma referência histórica e política.
Mais recentemente, o Kremlin optou por um modelo comemorativo amputado do carácter de classe e de transformação social. A ideia é relevar a vitória das tropas soviéticas sobre as hordas nazi-fascistas sob o ponto de vista da expulsão de «mais um invasor da pátria».
Assim, este ano, em Moscovo e em outras cidades russas, as autoridades organizaram eventos comemorativos do 7 de Novembro de 1941, quando ao desfile militar e à comemoração popular da Revolução de Outubro se seguiu o avanço para a frente de guerra. Na praça Vermelha, foi mesmo reproduzida a parada de 1941, com soldados vestidos com as antigas fardas militares, centenas de veteranos de guerra, entre os quais alguns dos que então foram para a linha da frente combater.
Não houve qualquer referência à Revolução de Outubro no evento oficial, contrariamente ao ocorrido em 1941, mas entre os russos parece impossível dissociar o triunfo sobre o nazi-fascismo das conquistas do socialismo, defendidas por um povo que as vivia e nelas acreditava, e, por isso, não podia ser derrotado.
Assim como é inolvidável o facto do povo russo ter à época respondido à palavra de ordem dos dirigentes comunistas e do Estado soviético – os quais, apesar dos alemães estarem às portas de Moscovo, se recusaram a abandonar a capital – para avançarem «sob a bandeira do grande Lénine, para a vitória», como apelou Stáline durante o discurso no mausoléu do seu antecessor.
A tentativa de apagamento da memória histórica e política montada pelo governo, desconectando acontecimentos intimamente ligados entre si como a derrota do nazi-fascismo e Revolução de Outubro de 1917, bem como o significado e alcance desta, penetra cada vez menos no povo russo. As provas estão no facto de o 7 de Novembro, ser para cerca de 38 por cento dos inquiridos por uma sondagem recente, a data da Revolução; e na mobilização juvenil para a concentração do PCFR em Moscovo, encerrada por um jovem comunista que, tal como milhares de outros ali presentes, «não leram as obras completas de Lénine, mas sentem que ele deu origem a um ímpeto revolucionário que transporta novas ideias», como disse Ziuganov na sua intervenção.
O presidente russo, Dimitri Medevedev, preferiu no 7 de Novembro deslocar-se a São Petersburgo para inaugurar uma fábrica da General Motors, unidade que, destacou, pretende produzir para o mercado russo 70 mil automóveis por ano.
Povos lembram Outubro
Os 91 anos da Revolução Bolchevique foram assinalados pelos trabalhadores e os povos nos quatro cantos do mundo.
Em Kiev, o centro da cidade foi ocupado por uma grande concentração promovida pelo Partido Comunista da Ucrânia. No comício na capital, os manifestantes exigiram o fim do poder de Iushtchenko e da oligarquia. Na vizinha Bielorrússia, também uma ex-república soviética, o presidente Alexander Lukachenko lembrou numa mensagem oficial, citada pelo vermelho, que «a Revolução de Outubro não só mudou o destino de uma grande nação, mas fundamentalmente definiu o caminho de desenvolvimento do ser humano. Ela atraiu milhões de pessoas no processo de construção de uma nova sociedade, uma sociedade sem exploração, sem opressão, sem desigualdades. Graças ao sucesso da revolução, os sonhos de muitas gerações de bielorrussos tornaram-se realidade».
Em Cuba, para além das comemorações populares, o Partido Comunista promoveu na sua escola de formação política um curso sobre a Revolução de Outubro e o socialismo e, no Vietname, a data foi assinalada com uma exposição fotográfica da agência de notícias do país, que destacou a relação do povo vietnamita com os povos da ex-URSS, e a sua importância na libertação e desenvolvimento da nação asiática.
Já na Venezuela, a comemoração organizada pelo Partido Comunista teve como ponto alto a sessão realizada no município de Libertador.
Em nota divulgada na sua página de Internet, o PCV frisa que «a magnitude histórica do Outubro Vermelho, o seu impacto no progresso da humanidade, os eventos históricos que desencadeou e continua a desencadear, apresentam a Revolução como o mais relevante acontecimento do século XX».
«Os direitos laborais, pensões de reforma, benefícios de saúde e demais regalias sociais foram conquistadas e efectivadas em todo o mundo após a vitória de 1917», lembraram no documento.
Alemanha Oriental
Melhor com o socialismo
A assinalar o 91.º aniversário da Revolução de Outubro e os 19 anos sobre a queda do Muro de Berlim (9 de Novembro de 1989), o Der Spiegel publicou uma sondagem que revelou dados surpreendentes. O estudo citado pelo Vermelho.org.br cruza as opiniões de duas gerações de alemães orientais: metade dos inquiridos tinha no máximo seis anos aquando da reunificação germânica, e a outra metade tinha entre 17 e 24 anos.
Do apuramento resultou que entre estes últimos, 92 por cento consideram que estavam melhor na República Democrática Alemã (RDA) do que actualmente, e, indagados sobre se preferiam viver na Alemanha Ocidental ou Oriental, caso subsistisse a divisão, a maioria respondeu que preferia viver na RDA. A maioria dos pertencentes à geração de meia-idade frisa ainda que o sistema socialista se mantém válido, embora teça críticas à forma como foi aplicado. 60 por cento dos jovens lamenta que muitas das garantias do comunismo tenham sido erradicadas.
As diferenças de opinião mais significativas emergem entre os indivíduos que habitam na Alemanha de Leste e Oeste. Ainda assim, entre os últimos, 26 por cento dos jovens e 48 por cento dos menos jovens consideram que na RDA existia um sistema de protecção social superior ao actual.