A necessidade histórica do socialismo

Rui Paz

qualquer saída séria para a actual crise deveria respeitar a Constituição

Ao analisar a economia mundial e a actual crise do capitalismo, o projecto de Resolução Política para o XVIII Congresso do PCP salienta que «esta crise, ao mesmo tempo que confirma a incapacidade do capitalismo para se libertar das crises que periodicamente o abalam, é reveladora de uma crise mais profunda de natureza estrutural e sistémica que, como o PCP tem assinalado, evidencia os limites históricos do sistema capitalista e coloca a sua superação revolucionária como uma exigência do nosso tempo».

Já na Resolução Política aprovada no XV Congresso (1996) se dizia que «pelo seu volume desmedido, pela tendência a empolar-se cada vez mais, pelo risco aleatório do seu movimento, esse capital fictício financeiro-especulativo faz pairar sobre a economia dos países e do mundo a instabilidade monetária e o perigo de colapsos bolsistas devastadores». No XVI Congresso (2000), voltou-se a afirmar que «os constantes fluxos de capital-dinheiro, especialmente de curto prazo e de alto risco, provocam uma acrescida instabilidade no funcionamento do sistema financeiro e monetário internacional» e que «mercados bolsistas e imobiliários irracionalmente inflacionados são alimentados por uma insustentável expansão do crédito que potencia o perigo e a dimensão de desastres». E no último Congresso (2004), o PCP além de manter a sua análise, avisou que o endividamento dos Estados Unidos já era equivalente a um quarto do PIB.

Cegos perante a realidade, os governos do PS e do PSD-CDS continuaram a pregar e a praticar a «religião» da globalização capitalista e do «deus mercado». Nem agora que o saque do Estado pelo capital privado e a destruição da produção nacional atiraram com o País para uma situação de grave crise económica e social são capazes de dizer «mea culpa». Premiar os ladrões e abandonar as vítimas à sua sorte foi sempre a orientação do G8 e dos seus satélites.
Em Portugal, qualquer saída séria para a actual crise deveria respeitar a Constituição da República Portuguesa que aponta no seu preâmbulo a necessidade «de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno». É evidente que, tal como aconteceu nos últimos trinta anos, os governos do capital monopolista vão continuar a rasgar os princípios constitucionais. Para os salteadores não há lei que resista.

A convicção de que só o Socialismo poderá libertar a humanidade da barbárie capitalista, tem conduzido a que os comunistas, mesmo nos períodos mais tenebrosos da História em que as perspectivas de sucesso imediato ainda não se vislumbram, assumam a direcção da luta de resistência contra a exploração e a opressão. Como a luta contra o fascismo em Portugal demonstrou, a luta pela democracia e a justiça social está intimamente ligada à luta pelo socialismo. Como salientam as teses para o XVIII Congresso, o objectivo do socialismo, «da construção de uma sociedade nova liberta da exploração do Homem pelo Homem» é indissociável da identidade do PCP.


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