Culpa solteira
Entre os que empenhadamente procuram a todo o custo resgatar o capitalismo do papel de responsável único pela crise financeira mundial proclama-se a intenção de não deixar a culpa morrer solteira. Na corrente de argumentos mais primários e directos recheados de pendor moral aparecem elevados a pretendentes a parceiro da dita culpa, gestores, directores executivos, administradores, correctores. Neles residiria a ganância dos lucros fáceis, o desvario bolsista, a gestão incompetente e danosa de fundos imobiliários e instituições financeiras responsável pela tormenta capitalista. Para os que assim argumentam, as razões não estão no sistema nem no modo de produção que o sustenta. Os factores objectivos aparecem submergidos por um alegado elenco de atitudes e comportamentos que, violando critérios éticos e filantrópicos, explicariam os desmandos financeiros e a irracionalidade dos mercados. A que se juntam os que discorrendo sobre teoria económica verberam aquilo que designam como capitalismo selvagem e desregulação do mercado ou lamentam o que denominam de globalização desumana. Uns e outros fingindo ignorar o carácter predador do capitalismo, a sua essência eminentemente exploradora, as leis e categorias económicas que tornam as crises do capitalismo cíclicas e inevitáveis. Uns e outros buscando soluções para salvar os interesses dos que estão na origem da crise, invocando o nome dos depositantes e das pequenas empresas, mas prontos a devolver-lhes a factura e a remetê-los para contribuintes líquidos dos custos da crise. Todos unidos no esforço de ocultar as raízes do problema e a desviar a atenção da alternativa que perante a falência do capitalismo emerge com redobrada actualidade – o socialismo.