Do mal, o menos

Anabela Fino
O líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, anunciou há dias que os deputados do seu partido se vão abster na votação na generalidade da proposta do Governo de revisão do Código do Trabalho, podendo mesmo evoluir (para o voto a favor, é claro) após o debate. A razão para tal é simples: na óptica do PSD, a proposta vai no «bom caminho» em matéria de legislação laboral, pois o PS deu «uma cambalhota de 180 graus» e abandonou as posições que defendia na oposição, embora ainda subsistam alguns «aspectos negativos». E quando assim é, diz Rangel, quando o «PS e o Governo se aproximam das boas soluções», o PSD aplaude.
Nem mais. Burile-se uns pormenores e nem se dará pela diferença entre governo PS ou PSD, reconhecem os próprios. A evidência foi reconhecida pelo homólogo de Rangel no PS, na circunstância Alberto Martins, que logo se apressou a vir a público dizer que a anunciada abstenção revela que o PSD «não tem uma posição alternativa consistente a apresentar». E concluiu de forma lapidar: «do mal, o menos».
Só faltou Alberto Martins dizer claramente dito que, se isso sucede, é porque o PS vai tão longe na sua política de direita e no ataque aos direitos dos trabalhadores que a direita que se assume como tal, ao invés de se travestir de socialista, fica sem campo de manobra.
Do mal, o menos, diz Alberto Martins, sem se questionar por um momento das razões do aplauso de um punhado de gente que vive de mandar apertar o cinto a quem trabalha, enquanto os que são alvo directos dos aspectos mais perversos do Código de Trabalho – incluindo muitos dos votaram no PS iludidos por promessas nunca cumpridas – se manifestam nas ruas gritando o seu protesto e revolta e exigindo justiça social.
Do mal, o menos, diz Martins, antevendo maioria acrescida na votação do código dos patrões ou no pior dos casos um aplauso disfarçado de abstenção, sem querer ver como se agiganta a maré de contestação popular que mais cedo que tarde acabará por submergir o PS.
Do mal o menos, poderíamos também dizer nós, pois quanto mais PS e PSD se entendem mais claro fica qual o partido que está sempre ao lado dos trabalhadores na defesa dos seus legítimos interesses. E esse partido tem nome, tem história, tem ideologia, tem princípios e objectivos de que não abdica: é o PCP e a sua luta é pelo socialismo e pelo comunismo.


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