O sector tem o patrão mais rico do País

Corticeiros por salários justos

Alcançado um acordo para acabar, em oito anos, com a discriminação salarial das mulheres, os sindicatos e a federação da CGTP-IN mobilizaram os trabalhadores contra uma actualização salarial que nem chega a cobrir a inflação.

Os trabalhadores recusam pagar pelo fim da discriminação

Mesmo debaixo de chuva, cerca de duas centenas de trabalhadoras e trabalhadores corticeiros concentraram-se na passada sexta-feira, entre as 12 e as 15 horas, à porta da sede da associação patronal, em Santa Maria de Lamas, no concelho de Santa Maria da Feira, rejeitando as últimas propostas da Associação Portuguesa de Cortiça (Apcor) e exigindo justos e dignos aumentos salariais e de subsídios.
Na concentração, além de activistas de outras estruturas sindicais do distrito de Aveiro, participou também uma numerosa delegação de trabalhadores corticeiros e da construção civil de vários concelhos do Sul do País, em representação da federação do sector (Feviccom/CGTP-IN).
Num ambiente de grande combatividade, os corticeiros manifestaram bem alto a sua revolta e indignação, perante os ridículos valores que a Apcor propôs dia 18 (2,3 por cento, ou seja, 14,77 euros, no salário-base do Grupo XIV, e 10 cêntimos no subsídio de refeição).
«Os trabalhadores do sector corticeiro não aceitam a contenção salarial que a associação patronal está a tentar impor, com o argumento de que tem de fazer um grande esforço financeiro para cumprir o acordo estabelecido para acabar com a discriminação salarial entre mulheres e homens», explicou à Lusa uma dirigente da Feviccom (Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro). Fátima Messias, que faz parte da Comissão Executiva da CGTP-IN, disse que os representantes das empresas não aceitaram aproximar-se da proposta sindical, alegando que estão a fazer um grande esforço financeiro para acabar com aquela discriminação.
Os sindicatos e a federação reclamam mais 22 euros para todos os grupos profissionais e um subsídio de alimentação de 5,80 euros (actualmente é de cinco euros).
Na concentração, em diversas intervenções dos dirigentes sindicais, a posição patronal foi classificada como uma verdadeira provocação, dado tratar-se de um sector altamente lucrativo, com grandes grupos económicos cada vez mais ricos à custa da maior exploração e de salários muito baixos. Neste sector predomina Américo Amorim, que está cotado como o mais rico de Portugal.
Na semana de 21 a 26 de Julho, foram promovidos plenários e reuniões com os trabalhadores. A federação destacou, além da concentração frente à Apcor, uma reunião geral de trabalhadoras e trabalhadores corticeiros, no sábado, em Coruche.
O acordo entre os sindicatos da CGTP-IN e a Apcor, pelo fim da discriminação salarial entre mulheres e homens, foi assinado na reunião de dia 18. Segundo a Feviccom, a diferença salarial entre os grupos XIV e XVI (com funções idênticas, mas com as mulheres inseridas sobretudo neste último), que se situava até agora em quase cem euros, será eliminada gradualmente, com aumentos salariais extraordinários de 12,50 euros, durante oito anos, a partir de Junho de 2008. Ficou ainda acordado que, em Outubro, terá início uma avaliação e negociação de novos enquadramentos profissionais e evolução de carreiras.
A concentração de sexta-feira coincidiu com a realização de mais uma reunião de negociação, proposta pelos sindicatos.
Uma delegação do PCP esteve presente nesta concentração, expressando solidariedade ao combate dos corticeiros. Jorge Machado, deputado comunista, numa curta intervenção, destacou a justeza desta luta e o apoio activo que o Partido sempre tem dado à mesma. Referiu ainda as ameaças e os perigos contidos na revisão do Código de Trabalho do Governo PS/Sócrates, proposta legislativa que classificou como autêntica declaração de guerra a todos os trabalhadores.

Coruche

Os trabalhadores corticeiros da zona de Coruche reafirmaram no sábado a reivindicação de um aumento salarial de 3,4 por cento, rejeitando a proposta da Apcor, que esperam ver alterada numa reunião negocial prevista para esta semana.
Aquilino Coelho, do Sindicato da Construção, Cerâmica e Vidro, que representa os corticeiros, disse à agência Lusa que, a exemplo do que aconteceu sexta-feira em Santa Maria de Lamas, também os trabalhadores do sector na zona de Coruche mantêm a determinação para lutarem pela actualização salarial que consideram corresponder aos valores da inflação. Reafirmou que não podem ser os corticeiros a pagar os custos a que o patronato ficou obrigado, com o acordo que prevê acabar com a discriminação salarial das mulheres.
Na zona de Coruche, o maior produtor mundial de cortiça, existem mais de 400 corticeiros, a maioria dos quais trabalha para as duas unidades do Grupo Amorim instaladas no concelho.


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