Que evolução para o desporto no novo século?
Uma análise do desporto, especialmente dirigida ao seu sector popular, não pode prescindir de uma meditação sobre o futuro. Apesar da escassez da informação disponível, é possível conjugar um certo número de conhecimentos daquilo que se passa em realidades sociais próximas da nossa, para fundamentar uma meditação sobre a evolução do desporto, abordando dois aspectos: um de carácter tão objectivo quanto possível, outro de natureza normativa.
Parece possível afirmar, e alguns autores parecem estar de acordo com esta formulação, que a evolução desportiva futura depende de quatro factores essenciais: a evolução demográfica, a capacidade financeira das populações, os meios fornecidos para a ocupação dos tempos livres e os «valores» orientadores da prática. Esta formulação não é tão consensual como se poderia julgar. De facto, a maioria dos autores que analisam o desporto na actualidade fazem-no a partir de uma perspectiva de mercado, em que o indivíduo e a família desempenham o papel central como simples consumidores, mas suportando o essencial dos custos que ela acarreta.
Facto inteiramente novo, surgido na última década, refere-se às populações adultas e idosas que parecem desejar aderir a uma prática desportiva estabilizada. Este fenómeno é visível por toda a Europa, em que se verifica uma «fidelização» em continua elevação. Em Portugal o fenómeno não assume ainda a mesma extensão e profundidade, mas tudo indica que a evolução vai ser idêntica, desde que as condições de vida e as possibilidades de acesso à prática, progridam num sentido suficientemente positivo.
Em sentido contrário os jovens, que constituíam, até há décadas atrás, o núcleo histórico do processo desportivo, parecem assumir um carácter de maior instabilidade nas práticas regulares. A atitude dos adolescentes e pós-adolescentes parece ter mudado substancialmente. Alguns estudos internacionais mostram que pelos 14 anos se verifica um afastamento súbito da actividade desportiva clássica (desporto federado) que se vai acentuando com a idade. Esta situação põe directamente em causa a antiga imagem da prática desportiva exclusiva, ou quase exclusivamente realizada pelos jovens maioritariamente das classes médias.
A alteração das condições de trabalho e a situação do sindicalismo limitará fortemente o desporto nas empresas. Os designados «inactivos» encontrarão cada vez mais dificuldades em aceder às práticas culturais a partir do seu local de trabalho. Questão que só encontrará solução quando se reconhecer a prática desportiva generalizada como um importante factor de aumento da produtividade ou as próprias empresas assumirem uma atitude que utilize o desporto como forma de melhorar o espírito de equipa como algumas já fazem no presente.
Se assim for é quase certo que se verificará uma profunda diferenciação entre praticantes, constituindo, uns, o grupo que se dedica às actividades de «baixa gama», referida àqueles que têm menor capacidade financeira, e outro grupo que se dedicará às actividades do «topo de gama» constituído por aqueles que dispõem de uma cada vez maior capacidade económica. Naturalmente que a primeira perspectiva afectará, enormemente, o desporto popular que continuará a viver com enormes dificuldades (agravamento da «crise associativa»).
Qualquer que venha a ser a perspectiva que vier a dominar, o desporto de alto nível desenvolver-se-á, assumindo, cada vez mais, o carácter de espectáculo dirigido «às massas». Esta última perspectiva está já a ser fortemente organizado através do «complexo» promotores desportivos (clubes e/ou empresas), mass media e capital, com finalidades completamente extra desportivas de vária ordem (afirmação e controlo político e mercantilização desenfreada).
Mas poderá desenhar-se um outro cenário, estruturado por um sistema sócio-económico mais flexível, capaz de garantir uma melhor e mais justa repartição da riqueza pelas diferentes categorias sociais e camadas etárias. Desta forma o desporto sofrerá uma enorme transformação provocando mesmo a sua redefinição em termos conceptuais. Nesta altura, o desporto popular assumirá um outro significado, podendo vir a coincidir com uma visão justa, correcta e coerente do «desporto para todos».
Mais confusa e nebulosa surge a evolução dos «valores» orientadores da prática desportiva. Sem dúvida que a «ecologia individual», ou seja o culto do eu, do corpo e da saúde, continuará a desenvolver-se podendo vir a assumir um carácter exagerado e unicamente consumista. Mas, não deixa de ser provável que se verifique um certo retorno a um conjunto de referências colectivas, de valores humanizadores capazes de estruturarem um espírito comunitário que todos são unânimes em reconhecer como constituindo um elemento essencial de reestruturação da vida individual e colectiva, numa perspectiva humanizadora.
Uma visão como a que se acabou de apresentar, de carácter dicotómico alternativo (alguns diriam de carácter “binário”) talvez possa parecer demasiado mecanicista. Contudo, uma coisa parece-nos ser certa: neste início do novo século o desporto encontra-se na antecâmara de uma transformação na sua essência, nas suas formas e nas suas estruturas.
Parece possível afirmar, e alguns autores parecem estar de acordo com esta formulação, que a evolução desportiva futura depende de quatro factores essenciais: a evolução demográfica, a capacidade financeira das populações, os meios fornecidos para a ocupação dos tempos livres e os «valores» orientadores da prática. Esta formulação não é tão consensual como se poderia julgar. De facto, a maioria dos autores que analisam o desporto na actualidade fazem-no a partir de uma perspectiva de mercado, em que o indivíduo e a família desempenham o papel central como simples consumidores, mas suportando o essencial dos custos que ela acarreta.
Facto inteiramente novo, surgido na última década, refere-se às populações adultas e idosas que parecem desejar aderir a uma prática desportiva estabilizada. Este fenómeno é visível por toda a Europa, em que se verifica uma «fidelização» em continua elevação. Em Portugal o fenómeno não assume ainda a mesma extensão e profundidade, mas tudo indica que a evolução vai ser idêntica, desde que as condições de vida e as possibilidades de acesso à prática, progridam num sentido suficientemente positivo.
Em sentido contrário os jovens, que constituíam, até há décadas atrás, o núcleo histórico do processo desportivo, parecem assumir um carácter de maior instabilidade nas práticas regulares. A atitude dos adolescentes e pós-adolescentes parece ter mudado substancialmente. Alguns estudos internacionais mostram que pelos 14 anos se verifica um afastamento súbito da actividade desportiva clássica (desporto federado) que se vai acentuando com a idade. Esta situação põe directamente em causa a antiga imagem da prática desportiva exclusiva, ou quase exclusivamente realizada pelos jovens maioritariamente das classes médias.
A alteração das condições de trabalho e a situação do sindicalismo limitará fortemente o desporto nas empresas. Os designados «inactivos» encontrarão cada vez mais dificuldades em aceder às práticas culturais a partir do seu local de trabalho. Questão que só encontrará solução quando se reconhecer a prática desportiva generalizada como um importante factor de aumento da produtividade ou as próprias empresas assumirem uma atitude que utilize o desporto como forma de melhorar o espírito de equipa como algumas já fazem no presente.
Se assim for é quase certo que se verificará uma profunda diferenciação entre praticantes, constituindo, uns, o grupo que se dedica às actividades de «baixa gama», referida àqueles que têm menor capacidade financeira, e outro grupo que se dedicará às actividades do «topo de gama» constituído por aqueles que dispõem de uma cada vez maior capacidade económica. Naturalmente que a primeira perspectiva afectará, enormemente, o desporto popular que continuará a viver com enormes dificuldades (agravamento da «crise associativa»).
Qualquer que venha a ser a perspectiva que vier a dominar, o desporto de alto nível desenvolver-se-á, assumindo, cada vez mais, o carácter de espectáculo dirigido «às massas». Esta última perspectiva está já a ser fortemente organizado através do «complexo» promotores desportivos (clubes e/ou empresas), mass media e capital, com finalidades completamente extra desportivas de vária ordem (afirmação e controlo político e mercantilização desenfreada).
Mas poderá desenhar-se um outro cenário, estruturado por um sistema sócio-económico mais flexível, capaz de garantir uma melhor e mais justa repartição da riqueza pelas diferentes categorias sociais e camadas etárias. Desta forma o desporto sofrerá uma enorme transformação provocando mesmo a sua redefinição em termos conceptuais. Nesta altura, o desporto popular assumirá um outro significado, podendo vir a coincidir com uma visão justa, correcta e coerente do «desporto para todos».
Mais confusa e nebulosa surge a evolução dos «valores» orientadores da prática desportiva. Sem dúvida que a «ecologia individual», ou seja o culto do eu, do corpo e da saúde, continuará a desenvolver-se podendo vir a assumir um carácter exagerado e unicamente consumista. Mas, não deixa de ser provável que se verifique um certo retorno a um conjunto de referências colectivas, de valores humanizadores capazes de estruturarem um espírito comunitário que todos são unânimes em reconhecer como constituindo um elemento essencial de reestruturação da vida individual e colectiva, numa perspectiva humanizadora.
Uma visão como a que se acabou de apresentar, de carácter dicotómico alternativo (alguns diriam de carácter “binário”) talvez possa parecer demasiado mecanicista. Contudo, uma coisa parece-nos ser certa: neste início do novo século o desporto encontra-se na antecâmara de uma transformação na sua essência, nas suas formas e nas suas estruturas.