Bernardino Soares desfere duras críticas ao Governo

Escolheu o lado da exploração e dos patrões

No mesmo dia e à mesma em que no Parlamento os deputados discutiam uma moção de censura do CDS ao Governo, mais de 200 mil pessoas gritavam a verdadeira censura nas ruas de Lisboa contra uma política que piora a vida, agrava as dificuldades e compromete o futuro.
São contudo poucas ou nenhumas as semelhanças entre os dois actos políticos. Desde os pressupostos que as motivam e enquadram até aos objectivos que visam atingir. O líder parlamentar comunista, Bernardino Soares, definiu exemplarmente a situação: «Esta moção de censura do CDS já deu jeito ao Governo. Já permitiu uma encenação de discurso de esquerda para justificar a continuação de uma política de direita».
Ora foi de facto neste plano que se esgotou esta iniciativa parlamentar vinda de um partido que vem «criticar as consequências de uma situação estando de acordo com as suas causas», ou seja, compartilha com o Governo PS aquilo que nas suas opções de política é verdadeiramente essencial, seja quando se trata de agilizar os despedimentos ou de aumentar a precariedade, de conter os salários ou proteger os lucros, de privatizar serviços públicos como a saúde ou a educação.
Daí que o presidente da bancada comunista tenha concluído que perante a situação actual, por si classificada de «excepcionalmente grave», não podem deixar de ser identificados os seus responsáveis, neste caso os «sucessivos governos que aplicaram uma política de direita», incluindo, de modo particular, o actual, na medida em que levou «esta política mais longe do que nunca».

Contrastes chocantes

Exemplos concretos dos efeitos nefastos da política de direita que varre o País há três décadas deu-os ainda Bernardino Soares, trazendo a lume o aumento das despesas com a Saúde e os medicamentos, a escalada dos preços dos combustíveis, o agravamento do desemprego, o acréscimo das prestações dos empréstimos à habitação.
Só o que não aumentou foram os salários e as pensões, observou Bernardino Soares, exemplificando com os salários da administração pública – sem aumentos reais há nove anos – e com a perda real das reformas devido à fórmula da sua actualização.
Mais chocante ainda é constatar que esta realidade contrasta com a atitude do Governo perante os ricos, que beneficiam de todas as facilidades para os negócios e para engrossar os lucros.
«Enquanto os trabalhadores suportam uma cada vez maior carga fiscal e até as reformas pagam impostos, a banca paga uma taxa efectiva de 13 por cento», denunciou Bernardino Soares, que, depois de classificar a situação como um «escândalo», desabafou: «o povo já não aguenta isto. Esta situação não pode continuar».
O presidente da bancada do PCP lançou ainda uma última dura crítica ao Executivo PS acusando-o de ter escolhido «um lado: o lado da exploração, dos interesses dos patrões e dos grandes grupos económicos; o lado da promoção da injustiça e das desigualdades».


Mais artigos de: Assembleia da República

Imposto sobre lucros especulativos

O PCP defende a criação de um imposto extraordinário sobre os «lucros especulativos» das empresas petrolíferas e gasolineiras obtidos pelo chamado «efeito stock», que resulta dos ganhos entre o preço de compra do petróleo bruto e a sua venda final sob a forma de gasolina.

Infra-estruturas militares

A Assembleia da República aprovou recentemente, na generalidade, a Lei de Programação de Infra-estruturas Militares (LPIM), com os votos do PS, PSD e CDS-PP e a abstenção do PCP, BE e PEV. A proposta de lei prevê a alienação de uma centena e meia de edifícios militares e posterior investimento de 750 milhões de euros na...

Bruxelas despreza pescadores

Cerca de meio milhar de pescadores de vários países europeus desfilaram, dia 4, nas ruas de Bruxelas até à sede da Comissão Europeia, onde exigiram ajudas para salvar o sector da ruína.Contudo, aos apelos desesperados dos pescadores, Bruxelas respondeu com indiferença, afirmando que «não há soluções imediatas». «O que...