Irlanda

«Não» ganha força

O avanço do Não nas últimas sondagens realizadas na Irlanda sobre o único referendo tratado de Lisboa, que se realiza dia 12, faz tremer a classe política do país e os responsáveis europeus.

Irlandeses não compram tratado de Lisboa

Resistindo a todo o tipo de pressões, o povo irlandês continua a deixar em aberto a possibilidade de uma rejeição do tratado europeu, apesar da fortíssima campanha do Sim, na qual estão envolvidos quase todos os partidos políticos e sindicatos do país.
Segundo a última sondagem, publicada pelo Sunday Business Post, em 25 de Maio, o apoio ao Não aumentou desde o estudo realizado duas semanas antes. Embora 41 por cento dos inquiridos se afirmem favoráveis ao tratado, percentagem que aumentou três pontos naquele período, 33 por cento mostram-se agora decididos a votar contra, o que representa uma progressão do Não de cinco pontos percentuais.
O notório reforço dos partidários do Não ganha importância acrescida num momento em que os indecisos constituem ainda 47 por cento e em que se espera uma elevada abstenção do eleitorado.
Em simultâneo, os defensores do Sim denotam nervosismo, desconfiando do avanço que algumas sondagens mais «optimistas» lhes conferem. Ainda recentemente, outro inquérito publicado pelo Irish Times, atribuía 35 por cento ao Sim e apenas 18 por cento ao Não.
Porém, este cenário está hoje claramente desfasado da realidade, tal como estava, em 2000, o prognóstico do mesmo jornal que garantia uma vitória do Sim ao tratado de Nice por 52 por cento contra 21. E no entanto, dessa vez, o Não ganhou.

«Difícil de vender»

Certamente preocupado com o divórcio entre uma parte significativa dos irlandeses e a generalidade das forças políticas e direcções sindicais (note-se que o partido Sinn Fein é a única formação representada no parlamento que rejeita o tratado de Lisboa), o comissário europeu irlandês, Charlie McCreevy, admitiu recentemente que o documento é difícil de vender porque não oferece benefícios tangíveis para a população.
Em entrevista ao UEObserver (22.05), o comissário reconheceu que é difícil «mobilizar os eleitores» e que a abstenção poderá resultar na vitória do Não. Esta dificuldade, explicou, decorre da impossibilidade de a campanha do Sim usar argumentos como o tratado «melhorará a situação», ou dará ao país «uma voz maior numa estrutura organizacional melhor».
No mesmo sentido, acrescentou McCreevy, os irlandeses sabem que não vão receber «um monte de dinheiro através da Política Agrícola Comum» ou dos «Fundos Estruturais».
Pelo contrário, os agricultores temem pelo seu futuro e protestam contra as orientações liberais preconizadas por Bruxelas e pelo comissário Mandelson na Organização Mundial do Comércio, enquanto a generalidade dos trabalhadores segue com preocupação as decisões em matéria laboral do Tribunal Europeu de Justiça, receando um agravamento das suas condições de vida e de trabalho.
Num país de apenas 4,5 milhões de habitantes, que recebeu nos últimos anos perto de meio milhão de imigrantes, grande parte dos quais oriunda dos estados do Báltico, as sentenças sobre os casos Laval, Viking e Ruffert abrem campo à uma nova ofensiva do patronato para baixar salários colocando em concorrência trabalhadores dos vários países.


Mais artigos de: Europa

Protestos alastram na Europa

Depois das greves dos pescadores iniciadas em França e retomadas, desde sexta-feira, 30, em Portugal, Espanha e Itália, camionistas, taxistas e agricultores mobilizam-se em vários países contra o aumento dos combustíveis.

Eurogrupo recusa baixar IVA

Os ministros das Finanças dos países da zona euro, reunidos na segunda-feira, 2, rejeitaram a proposta do presidente francês, Nicolas Sarkozy, sobre a redução do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) para atenuar a subida do preço dos combustíveis.A braços com uma revolta crescente por parte de vários sectores...

Brown aumenta período de detenção

Indiferente às críticas que vêm das hostes trabalhistas e que põem em causa a sua liderança, o primeiro-ministro britânico reafirma a sua intenção de aprovar no parlamento o alargamento de 28 para 42 dias do período máximo de detenção sem acusação a suspeitos de terrorismo.Num artigo alarmista publicado na segunda-feira,...

Produtores de leite vencem greve

Ao fim de seis dias de greve, os produtores de leite suíços alcançaram, na segunda-feira, 2, um acordo com as centrais de distribuição que prevê um aumento de seis cêntimos por litro (cerca de 3,7 cêntimos de euro).O movimento desencadeado pela associação sindical Uniterre foi seguido maciçamente na Suíça, onde chegaram...

O preço a pagar

Na última sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, foi discutido e aprovado um relatório sobre o aumento do preço dos géneros alimentícios na UE e nos países em desenvolvimento. Alguns elementos desta resolução ilustram bem o carácter desta União Europeia, do seu rumo e, acima de tudo, do cinismo do capital...