Nápoles afogada em lixo

O negócio da imundice

A crise dos resíduos que afecta o sul de Itália desde há mais de uma década voltou a gerar no fim-de-semana uma situação próxima da calamidade pública.

Máfia controla há décadas o lucrativo negócio do lixo

Com seis mil toneladas de lixo acumuladas nas ruas do centro de Nápoles e mais de 50 mil toneladas espalhadas pelas estradas e outras cidades da região da Campânia, os napolitanos revoltaram-se lançando o fogo aos detritos, barricando ruas e agredindo bombeiros e forças policiais que tentaram controlar as desordens. Só na noite de sábado para domingo, os bombeiros intervieram 84 vezes para apagar fogos ateados pela população.
As autoridades sanitárias consideram que as condições de higiene, já antes difíceis, tendem a tornar-se «dramáticas». Por seu lado, o edil de Nápoles, obrigado a reunir de emergência a sua equipa no domingo, qualificou o clima social como «próximo da revolta». Para prevenir possíveis epidemias, o município constituiu uma rede de vigilância sanitária e criou um novo número de urgências médicas.
As ruas foram tomadas pelas ratazanas e pelos insectos, ameaçando a saúde dos habitantes desesperados com o odor nauseabundo que domina a cidade, acentuado pelas elevadas temperaturas dos últimos dias.

O domínio da Camorra

À semelhança de muitos outros problemas de Itália, a crise dos resíduos é um resultado da incapacidade dos sucessivos governos de pôr cobro à impunidade que sempre gozou a máfia napolitana.
Tal como outras actividades económicas, o sector dos resíduos é dominado há mais de 30 anos pela Camorra, que saturou o território do Sul como descargas ilegais de milhões de toneladas de detritos perigosos provenientes das indústrias do Norte, que não tiveram escrúpulos em aproveitar «os preços competitivos» oferecidos pelas redes mafiosas.
Em consequência desta «gestão» criminosa dos resíduos, a região da Campânia está sobrelotada de resíduos que envenenam terrenos e fizeram aumentar em 20 por cento a incidência de cancro na população.
Com lixeiras a céu aberto por todo o lado e um crescimento urbanístico caótico (também ele nas mãos da máfia), os municípios não têm onde depositar o lixo e este permanece nas ruas e nas vias públicas, já que a sua exportação para incineradoras no estrangeiro permanece uma solução cara e limitada.
Em campanha eleitoral, Berlusconi prometeu resolver o escândalo do lixo em Nápoles, convocando para aí, simbolicamente o seu primeiro conselho de ministros. Contudo, a prioridade da direita e extrema-direita, que ganharam as eleições de 13 e 14 de Abril, está agora dirigida para a caça aos estrangeiros (ver peça). Ainda assim, a imprensa revelou que il cavaliere pretende recorrer ao exército para remover os resíduos e depositá-los em locais secretos, longe dos olhares e dos protestos das populações das proximidades.


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