Fomos à Rota!

Ângelo Alves

«Nato não, bases fora»

Realizou-se no passado Domingo a 23ª Edição da Marcha à Rota, uma importante iniciativa ibérica contra a presença da Base militar norte-americana da Rota em Espanha, na província da Andaluzia.
Cumprindo aquilo que para muitos, em cada ano que passa, já se tornou uma jornada de luta obrigatória, activistas da paz portugueses, dirigentes da CGTP, militantes do PCP e da JCP rumaram a Rota para se juntarem pelo nono ano consecutivo aos companheiros espanhóis e marroquinos nesta manifestação cuja palavra de ordem repetida ano após ano «Nato não, bases fora» já se tornou em hino da luta contra as bases militares estrangeiras em Espanha e Portugal e contra a NATO.

A Base Militar da Rota, uma gigantesca base aérea e naval norte-americana ao serviço da NATO, cuja instalação remonta ao ano 1953 após acordo entre o regime fascista de Franco e a Administração de Eisenhower, tem actualmente diversos fins, nomeadamente o principal apoio à VI Frota naval dos EUA no Mediterrâneo, o comando das actividades navais dos EUA em Portugal e Espanha, o apoio ao trânsito das unidades aéreas móveis dos EUA para as regiões do Médio Oriente e Sudeste Asiático, capacidades de alojamento, apoio logístico e trânsito para unidades submarinas, incluindo submarinos nucleares, e ainda o centro de comando de coordenação do sistema de satélites militares dos EUA. Situada na região estratégica do Estreito de Gibraltar e com uma impressionante área de 25 000 Hectares, onde estão instalados mais de 3.000 militares e vários milhares de outros cidadãos civis norte-americanos, a história da Base da Rota é marcada pelo seu papel no apoio a vários crimes imperialistas em várias regiões do globo. Só na última década a Base da Rota foi fundamental para a coordenação dos bombardeamentos contra a Jugoslávia em 1999 – uma das principais razões da decisão do movimento da paz português de participar nesse ano pela primeira vez na Marcha à Rota – e serviu e serve de ponto de apoio e trânsito para as guerras do Iraque e do Afeganistão.

No passado Domingo, na concentração final da Manifestação, os portugueses aí presentes afirmaram pela voz da representante da Direcção do CPPC que no próximo ano lá estariam. Será em 2009 que se assinalarão os 10 anos de participação portuguesa nesta Marcha. E aproximando-se esse marco da história da cooperação na luta contra bases militares estrangeiras e pela paz entre o PCP e o Partido Comunista de Espanha e entre os movimentos da paz espanhóis e portugueses, é importante relembrar a grande importância política desta iniciativa. Porque a história da participação portuguesa nesta marcha se confunde com as lutas que travámos e travamos em Portugal pela paz, contra o imperialismo e a guerra. Porque por ali passaram e passam as nossas lutas contra a guerra da Jugoslávia, do Afeganistão e do Iraque; contra a instalação do sistema anti-míssil na Europa ou contra o Tratado Europeu que preconiza o aumento das despesas militares e um salto na militarização da União Europeia em coordenação com a NATO. Porque esta Marcha nos relembra todos os anos a importância de fortalecer a luta contra esses instrumentos de colonização do mundo que são as bases militares dos EUA e da NATO. Instalações militares que, só operadas ou controladas pelos EUA, se contam em mais de 700, espalhadas por mais de 150 países, permitindo ao imperialismo norte-americano ter mais de 300000 militares estacionados fora dos EUA e possuir ou ter controlo sobre mais de 2 milhões e 200 mil hectares de território em todo o mundo.

Por tudo isto e porque a situação o exige cada vez mais, fomos à Marcha à Rota. E para o ano lá estaremos! Porque ela é também uma importante afirmação do direito de soberania dos povos sobre o território dos seus países. E isso tem a ver connosco!


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