Comentadores do Pentágono

Pagos para mentir

Comentadores de televisão e rádio foram instruídos pela administração norte-americana para difundirem a versão oficial sobre as guerras no Iraque e Afeganistão, revela o New York Times.

Os “especialistas” difundiam uma imagem positiva da luta contra o terrorismo

De acordo com um investigação publicada domingo pelo NYT, dezenas de ex-militares vinculados com a administração Bush enxamearam nos últimos cinco anos os principais meios de comunicação norte-americanos. Apresentados como analistas e comentadores independentes, estes “especialistas” tinham como objectivos concretos a promoção de uma «imagem positiva da chamada “luta contra o terrorismo”» e a dinamização de «uma cobertura noticiosa favorável à gestão do governo em tempo de guerra», escreve o diário.
Estes autênticos «cavalos de Tróia», avança ainda o NYT, difundiram informações falsas previamente decididas pela Casa Branca, mesmo depois do ex-responsável do departamento de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, ter encerrado a Oficina de Influência Estratégica, em 2002, na sequência de uma denúncia do mesmo teor feita também pelo periódico nova-iorquino.
Um dos casos enunciados pelo NYT refere-se a uma visita de “comentadores” a Guantanamo, em 2005, com o intuito de indagarem as denúncias de maus-tratos ali praticados. Instalados num dos jactos do vice-presidente Dick Cheney, chegaram a Camp Delta e regressaram preparados para convencer a opinião pública de que em Guantanamo não se pratica nem nunca praticou tortura, de que, pelo contrário, os detidos até são bem tratados, e quem alega o inverso lança acusações visando denegrir os EUA.

Uma mão lava a outra

Acresce a tudo isto que estas «forças multiplicadoras da mensagem», como lhes chama o Pentágono, têm relações demasiado estreitas com as empresas beneficiárias dos conflitos no Iraque e Afeganistão.
Nas cerca de oito mil páginas consultadas pelo jornal, onde se incluem mensagens de e-mail, registos de reuniões oficiais com altos responsáveis militares e políticos, viagens ao Iraque, e listas de tópicos a abordar nos espaços informativos, sobejam provas dos interesses defendidos por estes “analistas”.
Empresas ligadas ao complexo militar - desde a fabricação de armas ao fornecimento de bens e serviços ao exército -, e companhias detentoras de contratos de “reconstrução” nos territórios ocupados, distribuíram os seus homens de mão por rádios e televisões para defenderem a guerra. A contrapartida, essa, veste-se com moldes de fino recorte. Os “analistas” não são pagos em dinheiro, parece, mas em informação privilegiada, instrumento que lhes permite lubrificar os negócios almejados pelas corporações para quem trabalham, conduta que encaixa como uma luva na expressão «uma mão lava a outra».

Périplo sangrento

No mesmo dia em que o NYT fazia denuncia das ligações perigosas dos comentadores dos grandes mass media, a secretária de Estado norte-americana, Condolezza Rice, visitava Bagdad para subscrever as ameaças do primeiro-ministro Nuri al-Maliki ao clérigo xiita Moqtada al-Sadr, o qual advertiu, mais uma vez, que ou os EUA e o governo colaboracionista começam a desocupação, ou o seu exército inicia uma campanha militar aberta contra as tropas norte-americanas.
No balanço da visita de Rice, sobressaem ainda as mais de cem vítimas dos combates e bombardeamentos ocorridos durante todo o fim-de-semana, quer na capital do país, quer nas principais cidades.
Do Iraque, Condoleezza seguiu para o Kuwait onde reuniu, terça-feira, a conferência de países vizinhos: Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Oman, Qatar e Arábia Saudita. Estes são também os aliados dos EUA no Conselho da Cooperação do Golfo – estrutura que iniciou domingo exercícios militares que decorrem até ao fim da primeira semana de Maio -, e os parceiros de Washington num recente negócio de armas orçado em 20 mil milhões de dólares.

Gueto em construção

Longe do círculo das transacções que ocupam a burguesia árabe e os representantes do capital internacional, em Sadr City, Bagdad, os habitantes desesperam com o projecto militar dos EUA. No terreno em torno do bairro de maioria xiita, começou, domingo, a construção de um muro de betão com vários metros de altura, informa a Lusa.
A estrutura tem como finalidade quebrar a tenaz resistência popular contra os soldados invasores e impedir o lançamento de foguetes artesanais contra a Zona Verde, onde se acoitam os altos comandos políticos e militares ocupantes. A consequência será, inevitavelmente, a guetização dos residentes restringindo-lhes a mobilidade, tal como acontece na Palestina, diz a agência de notícias portuguesa que cita testemunhos locais.


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