Missão cumprida?

Pedro Campos
No dia 1 de Maio de 2003 – o homem escolhe bem as datas – George (War) Bush “gravou”, num show mediático a bordo do USS Abraham Lincoln, aquela coisa da “missão cumprida”, que os media repetiram urbi et orbi até ao enjoo. A história não demorou muito em demonstrar que era mais uma intrujice, tão aldrabona como aquela outra das “armas de destruição maciça” e das “ligações” de Saddam com a Al Qaeda.
Recentemente, uma vez mais, documentos desclassificados negaram qualquer evidência dessa “ligação”. E as tais armas de “destruição maciça” não apareceram em lado nenhum, nem mesmo “plantadas” pelos invasores. Foi isto uma revelação para Bush? Em absoluto.
O esquizóide de Washington sabia que estava a enfiar o barrete a meio mundo. Alinharam com ele Blair, Aznar e o trânsfuga Durão Barroso, anfitrião dos Açores, ex-esquerdalho, e agora “politicamento correcto” e da total confiança das direitas, porque nem sempre é certo o que disse o general romano de que “Roma não paga a traidores”. Isto foi o que ouviram Audaz, Ditalco e Minuro, depois de assassinarem Viriato quando foram pedir a Servílio Cipião umas “massas” como recompensa pela traição. Claro, tal aconteceu nos tempos “bárbaros” da Europa de 139 A.C. Na Europa do mercado de hoje, a (in)decência é outra!
Quanto à “missão cumprida” não se sabe muito bem o que quis dizer o usurpador da Casa Branca. Em Novembro do ano passado calculava-se que 96 por cento das baixas entre os invasores e os invadidos tinham acontecido depois da fanfarronice dita no USS Abraham Lincoln. Neste momento os mortos norte-americanos – coisas da vida: muitos deles afrodescendentes e latinos à procura de uma nacionalidade póstuma – já passam dos 4 mil.
Os mutilados e feridos somam várias dezenas de milhar e o The New York Times – que por vezes não tem outra hipótese senão dizer alguma verdade – informa, apoiando-se num estudo da insuspeita Rand Corporation, que perto de 300 mil soldados regressados do Iraque e do Afeganistão apresentam sintomas de distúrbios mentais, dos quais metade não recebe qualquer tipo de tratamento! Este número equivale a 18,5 por cento do milhão e meio de soldados que já passaram pelas duas regiões de guerra, uma delas, o Afeganistão, campeã do mundo na produção de ópio... sob o olhar atento da NATO!
O estudo da Rand Corporation – que refere igualmente outros 320 mil soldados com “possíveis” traumas – é um calhamaço de 500 páginas que, sob o título de «Feridas Invisíveis da Guerra» (Invisible Wounds of War), se pode ler completo na Internet[1]. O estudo foi “bem recebido” pelas autoridades militares, e Loree Sutton, directora do Centro da Defesa para a Excelência em Saúde Psicológica – nome bonito não é? –, lamentou que só metade dos afectados tivesse recebido um tratamento “minimamente adequado”. Neste momento, o exército anda à caça de 275 profissionais civis especializados em doenças mentais, mas ao que parece não está a ser fácil encontrá-los.

Negócio das arábias

Considerando que a “missão cumprida” não será uma referência ao que acabamos de mencionar, assume-se que George (War) Bush tinha outra ideia clara na cabecinha. Provavelmente bailava-lhe na mioleira o mais de um milhão de mortos iraquianos, a destruição do país, ou os grandes negócios de reconstrução do Iraque, da qual se estão a ocupar várias companhias de amigalhaços e compinchas, como a Halliburton, só para citar o exemplo mais cotado.
Neste aspecto a ideia foi brilhante: a gente vai até lá, arrasa o país, depois emprestamos-lhe uma montanha de dólares que regressam às nossas algibeiras via reconstrução do mesmo, e entretanto deixamos o país hipotecado a nós mesmos, hipoteca essa que pagarão com o petróleo que necessitamos. Está ou não está cumprida a missão?
A horas tais, que pensam os norte-americanos do “estado da nação”? Para que não digam que isto são invencionices dos comunistas, uma vez mais deitamos uma olhadela ao The New York Times, agora na sua edição de 4 de Abril. Uma sondagem do NYT/CBS mostra que os norte-americanos têm o mais baixo nível de satisfação com a administração desde 1990; e que 81 por cento diz mesmo que as coisas vão por mau caminho. Esta é uma tendência crescente: no ano passado, este valor era de 69 por cento, e em 2002 de 35 por cento.
Por outro lado, cerca de 75 por cento diz que o país está pior que há cinco anos. Mas há uns 4 por cento – suspeitamos quem sejam – que diz que tudo corre bem e o país está melhor.
Sobre a crise do sector financeiro, 68 por cento dos entrevistados afirma que as culpas devem recair sobre os funcionários responsáveis pela fiscalização e sobre os banqueiros.
E acabou-se, que a “ditadura” do espaço do jornal não dá para mais!
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[1] Visitar http://rand.org/pubs/monographs/MG720/


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