Desagráficos
Aprovado em meados de Dezembro de 1990 pelos sete países de língua oficial portuguesa, mas ainda não ratificado pelos subscritores, o Acordo Ortográfico volta a dar que falar. A polémica em torno do assunto está uma vez mais acesa em Portugal – escasseiam informações sobre o impacto do tema nos outros países luso falantes – com partidários e detractores do Acordo esgrimindo argumentos nem sempre consentâneos com o rigor que era suposto presidir às presumíveis doutas opiniões sobre a questão.
Estando em causa, como o próprio nome do Acordo indica, a alteração da forma como se escrevem certas palavras – mas não a sua pronúncia, significado ou as suas diversas aplicações, ou sequer regras de sintaxe, entre outros aspectos – cabe perguntar por que motivo então se inflamam as partes e, o que não é menos importante, quais as verdadeiras razões que presidem à cíclica vontade dos governantes em uniformizar o português escrito. A resposta não é linear, sobretudo quando se tem em conta que as diferenças ortográficas nunca foram obstáculo à mútua compreensão... entre os que sabem português.
É bem verdade que muitos portugueses já se confrontaram com a insólita situação de não serem compreendidos no Brasil quando pedem um sumo de fruta, pela simples razão de que os brasileiros dizem suco. Não é menos verdade que os livros de Machado de Assis ou de Aquilino Ribeiro, por exemplo, podem ser tão herméticos para brasileiros e portugueses como se fossem escritos numa língua estranha. Mas nada disso será resolvido pelo Acordo Ortográfico.
É por estas e por outras que alguma coisa está mal nesta momentosa questão. Como se os governos, invocando motivos políticos, económicos e diplomáticos, pretendessem construir uma casa pelo telhado. Mal comparando, faz lembrar a tentativa do então governo de Cavaco Silva tentar impor em Portugal a hora de Bruxelas, o que facilitava a vida a um punhado de eurocratas e punha o país todo de sonos trocados, saltando da cama de noite fechada e indo para vale de lençóis com o sol no horizonte.
Neste caso, parece que em vez de se apostar em mais e melhores escolas se prefere eliminar tremas; em vez de se investir em programas de educação e no combate à ileteracia se opta por cortar consoantes; em vez de se estimular a leitura – incluindo aqui a criação de um mais fácil acesso ao livro através da moderação de preços – se escolhe o caminho mais curto sacrificando a riqueza e diversidade linguísticas.
Não consta que o entendimento dos luso falantes, no que à escrita diz respeito, se ressinta das diferenças ortográficas. Assim saibam ler, escrever e interpretar. Também não consta que nos fóruns internacionais, onde o português do Brasil domina por razões que nada têm a ver com a escrita, mais trema menos trema, mais consoante menos consoante, mais acento menos acento façam qualquer diferença. Se o objectivo for, como dizem ser, que em português nos entendemos, talvez não fosse má ideia (re)começar pelo princípio, que é como quem diz nos bancos da escola, com menos negócio e mais educação.
Estando em causa, como o próprio nome do Acordo indica, a alteração da forma como se escrevem certas palavras – mas não a sua pronúncia, significado ou as suas diversas aplicações, ou sequer regras de sintaxe, entre outros aspectos – cabe perguntar por que motivo então se inflamam as partes e, o que não é menos importante, quais as verdadeiras razões que presidem à cíclica vontade dos governantes em uniformizar o português escrito. A resposta não é linear, sobretudo quando se tem em conta que as diferenças ortográficas nunca foram obstáculo à mútua compreensão... entre os que sabem português.
É bem verdade que muitos portugueses já se confrontaram com a insólita situação de não serem compreendidos no Brasil quando pedem um sumo de fruta, pela simples razão de que os brasileiros dizem suco. Não é menos verdade que os livros de Machado de Assis ou de Aquilino Ribeiro, por exemplo, podem ser tão herméticos para brasileiros e portugueses como se fossem escritos numa língua estranha. Mas nada disso será resolvido pelo Acordo Ortográfico.
É por estas e por outras que alguma coisa está mal nesta momentosa questão. Como se os governos, invocando motivos políticos, económicos e diplomáticos, pretendessem construir uma casa pelo telhado. Mal comparando, faz lembrar a tentativa do então governo de Cavaco Silva tentar impor em Portugal a hora de Bruxelas, o que facilitava a vida a um punhado de eurocratas e punha o país todo de sonos trocados, saltando da cama de noite fechada e indo para vale de lençóis com o sol no horizonte.
Neste caso, parece que em vez de se apostar em mais e melhores escolas se prefere eliminar tremas; em vez de se investir em programas de educação e no combate à ileteracia se opta por cortar consoantes; em vez de se estimular a leitura – incluindo aqui a criação de um mais fácil acesso ao livro através da moderação de preços – se escolhe o caminho mais curto sacrificando a riqueza e diversidade linguísticas.
Não consta que o entendimento dos luso falantes, no que à escrita diz respeito, se ressinta das diferenças ortográficas. Assim saibam ler, escrever e interpretar. Também não consta que nos fóruns internacionais, onde o português do Brasil domina por razões que nada têm a ver com a escrita, mais trema menos trema, mais consoante menos consoante, mais acento menos acento façam qualquer diferença. Se o objectivo for, como dizem ser, que em português nos entendemos, talvez não fosse má ideia (re)começar pelo princípio, que é como quem diz nos bancos da escola, com menos negócio e mais educação.