De tudo há na vinha do senhor...

Pedro Campos
«Se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho», disse Arnulfo Romero, arcebispo de São Salvador. Na luta entre o povo de El Salvador e os sectores mais reaccionários do país, tomou partido pelos primeiros e pagou-o com a vida em Março de 1980. Esta é a cara de uma igreja fiel aos princípios do cristianismo primitivo e não a da religião do Estado, que apoia tudo o que vá contra as grandes maiorias que, por agora, ainda confiam nela.
Monsenhor Romero foi assassinado à traição enquanto celebrava a missa na capela de um hospital. Sem dúvida que o autor material do crime se dizia católico. O autor intelectual – tudo aponta para a figura macabra de Roberto D'Aubuisson, ex-membro da polícia de Somoza – também o era.
Quando foi nomeado para arcebispo de São Salvador a direita respirou de alívio. Supunha-se que era um conservador. Contudo, o assassinato do seu amigo jesuíta Rutilio Grande e a falta de interesse oficial em descobrir os criminosos – aliado, talvez, à sua origem humilde (aos 12 anos trabalhava como aprendiz de carpinteiro e depois conheceria na pele o que era trabalhar numa mina de ouro) – colocá-lo-iam do lado da Teologia da Libertação.
Por estar com os mais humildes, Romero tornou-se alvo da repressão anti-comunista da época. Da leitura do seu Diário desprende-se que sabia das maquinações da hierarquia mais reaccionária. Da intolerância de João Paulo II em relação à sua Pastoral. E foi nessa época que disse: «Se me matam ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo-o sem nenhuma soberba, com a maior humildade. Como pastor estou obrigado por mandado divino a dar a vida por aqueles a quem amo (...) mesmo por aqueles que vão matar-me».
Um relatório do Tribunal Inter-americano de Direitos Humanos apontaria D’Aubuisson como um dos seus assassinos. E até Robert White, embaixador norte-americano, declarou perante um comité do Congresso que haviam provas suficientes para afirmar, «mais além de qualquer dúvida razoável», que D'Aubuisson tinha planificado e ordenado o crime.
Esta é uma cara da igreja, lamentavelmente a minoritária. É também a de Hélder Câmara e a de Camilo Torres e alguns outros. A que manda e ordena é a que se segue.

Os que voltariam a matar o Cristo

19 de Março de 2002 – No decorrer da Operação Candyman, o FBI detém mais de 80 pessoas e desarticula uma rede internacional de pornografia infantil. Segundo a BBC, entre os acusados aparecem, além de outros «pilares da sociedade», vários sacerdotes.
24 de Maio de 2002 – Na sequência de diferentes escândalos sexuais, Rembert Weakland, arcebispo de Milwaukee, renuncia horas depois de Paul Marcoux, também sacerdote, declarar, no canal ABC, que fora abusado sexualmente por Weakland. Tudo se passou há mais de 20 anos, ao fim dos quais Marcoux decidiu quebrar um «pacto de silêncio» que custou meio milhão de dólares. João Paulo II aceita a renúncia. Quase em simultâneo, o bispo de Lexington é afastado momentaneamente do cargo, depois de três denúncias. Dois sacerdotes de Nova Iorque e Maryland são detidos pelo mesmo tipo de abusos. A BBC revela que, só na diocese de Boston, há mais de 400 acusações contra ministros da igreja.
17 de Junho de 2003 – Frank Keating ex-governador do Oklahoma e católico praticante foi escolhido para dirigir uma comissão nacional sobre abusos sexuais perpetrados por sacerdotes. A hierarquia faz-lhe a vida difícil e tem de renunciar depois de revelar que alguns bispos bloqueavam a sua pesquisa. Segundo ele, alguns bispos actuaram como membros de uma organização criminosa mais do que religiosa. «Portaram-se como La Cosa Nostra», afirmou
7 de Julho de 2004 – Como resultado das compensações que teve de pagar às vítimas de abusos sexuais, a arquidiocese de Portland, Estados Unidos, declara-se falida. Segundo o arcebispo John G. Vlazny, não há dinheiro para indemnizar 50 vítimas de um sacerdote. Entende-se. Mais de 50 milhões de dólares já tinham sido entregues a 130 vítimas. A mesma notícia informa que, nos últimos 50 anos, segundo a Conferência Episcopal dos Estados Unidos, mais de quatro mil padres foram acusados de abuso sexual. Contudo, um estudo revela que só 4% dos abusadores foram acusados.
Março de 2008 – Realmente, os sacerdotes pederastas estão a custar muito caro. Mercado Cristiano revela que, só em 2007, a igreja católica dos Estados Unidos pagou 665 milhões de dólares como compensações por abusos sexuais de menores, uma quantia que supera a que teve de pagar no ano anterior.


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