Kosovo

Confrontos em Mitrovica

Pelo menos 140 pessoas ficaram feridas nos confrontos de segunda-feira que envolveram polícias da ONU e sérvio-kosovares, em Mitrovica.
Entre os lesionados estão mais de 60 membros das forças internacionais estacionadas no território e cerca de 80 cidadãos da província. 53 pessoas acabaram detidas pelas autoridades, que na sequência da revolta popular abandonou aquela zona da cidade deixando-a entregue aos militares da KFOR.
Os incidentes ocorreram no dia em que se cumpriu um mês após a declaração unilateral de independência do Kosovo face à Sérvia, e em que se assinalou, também, a passagem do 4.º aniversário dos ataques albaneses contra habitantes sérvios do Kosovo.
Em Março de 2004, a maioria albano-kosovar matou 19 sérvios e deixou outros 900 feridos em acções que resultaram ainda na destruição de dezenas de igrejas e escolas.

Ras­tilho aceso

O rastilho das hostilidades foi a operação das forças das Nações Unidas contra um grupo de sérvios que ocupavam, desde sexta-feira da semana passada, dois tribunais da cidade, dividida entre comunidade sérvia, a Norte do rio Iber, e albanesa, a Sul.
Os sérvios alegam que a polícia abusou da violência, recorrendo a armas de fogo e gás lacrimogéneo para reprimir o protesto. As autoridades admitem o uso de «armas letais e não letais», mas acusam o grupo manifestante de os ter recebido com tiros e coktails molotov, obrigando-as a responder.
A batalha acabou por se alastrar à áreas circundantes, e as pontes que ligam os bairros sérvios e albaneses da cidade acabaram por ser encerradas ao trânsito para evitar que o choque se estende-se por toda a cidade de Mitrovica.

Força des­pro­por­ci­o­nada

Reagindo aos acontecimentos, o presidente e o primeiro-ministro sérvios, Boris Tadic e Vojislav Kostunica, respectivamente, apelaram ao contingente internacional para que não use a força contra a população.
O demissionário chefe do executivo de Belgrado foi mesmo mais longe e revelou que, na sequência dos confrontos, o seu governo havia «dado início a consultas com a Rússia a respeito de uma reacção comum».
Moscovo, por seu lado, reafirmou que a normalização da situação no terreno passa pela reabertura da discussão sobre o estatuto político do Kosovo «no quadro do direito internacional», e considerou que, no caso de Mitrovica, as forças da NATO usaram «uma força desproporcional contra os manifestantes, nomeadamente mulheres e crianças, que estavam nos edifícios».
O embaixador russo junto da Aliança Atlântica, Dimitri Rogozin, pediu o fim da escalada de violência e acrescentou um alerta à conduta das tropas da NATO. « Devem permanecer estritamente no quadro do mandato da ONU e não tomar parte em actos políticos», disse.
Apreciação diferente tem o líder da auto-proclamada república do Kosovo. Em declarações proferidas na capital, Pristina, Hashim Thaçi apontou o dedo aos sérvio-kosovares e aos dirigentes de Belgrado acusando-os de instigarem a violência.
As palavras de Thaçi foram corroboradas pela secretária de Estado norte-americana. Para Condoleezza Rice, «os dirigentes sérvios devem dizer seriamente aos sérvios que vivem no Kosovo que não é o momento de fazer provocações».

Con­tágio re­gi­onal

Desde que os responsáveis albano-kosovares, a UE e os EUA decidiram avançar para a autodeterminação do Kosovo, os protestos não têm parado.
Em Mitrovica, todos os dias centenas de pessoas saem à rua, e em Belgrado o cenário é idêntico. Segunda-feira não foi excepção, e em face dos acontecimentos que decorriam na cidade kosovar, o protesto quase voltou a degenerar em violência contra as representações diplomáticas na capital da Sérvia.
Acresce que as ondas de choque da secessão da província sérvia têm-se feito sentir noutras repúblicas dos Balcãs adensando a instabilidade e avolumando as preocupações sobre o regresso dos confrontos entre comunidades de diferentes origens.
Tal é o caso da Bósnia-Herzegovina, onde os habitantes da República Sérvia da Bósnia reclamam o mesmo estatuto do Kosovo; e da Macedónia, onde o partido albanês abandonou recentemente a coligação governamental argumentando que o governo de Skopje tem que reconhecer a independência do Kosovo.
Estima-se que desde 1998 mais de 65 por cento dos 120 mil sérvios que habitavam no Norte do Kosovo tenham migrado para os territórios limítrofes.


Mais artigos de: Internacional

EUA chamam sucesso ao genocídio

Mais de um milhão de iraquianos mortos e cinco milhões de refugiados e deslocados é o preço de sangue e dor por cinco anos de ocupação do Iraque pelos EUA.

Crise imparável

As principais bolsas mundiais voltaram a cair confirmando a dimensão da crise inicialmente restrita ao sub­prime. O FMI anunciou uma revisão em baixa das previsões de crescimento para a economia mundial, e o ex-presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, diz que a crise é a mais grave desde 1945.

<i>Google</i> cautelosa

A crise económica mundial afecta também as empresas com áreas de negócio nas tecnologias de comunicação e informação, como a Google, por exemplo, detentora do maior motor de busca do mundo.O cenário é para já rejeitado pelo director executivo da companhia, Eric Shmidt, que justifica o optimismo com a não dependência face...

Quem ameaça quem?

A tirania da comunicação trata de nos convencer de que a verdade não é o que é objectivamente real, mas o que os media representam como verdade através da sua repetição sistemática. Como afirma Ignacio Ramonet «hoje um facto é verdadeiro não porque corresponda a critérios objectivos, rigorosos e comprovados nas fontes,...