É Carnaval, ninguém leva a mal...
“É bom que tenhamos agora quatro dias em que não se fala de política para os portugueses não pensarem nisso e os próprios políticos poderem gozar com tranquilidade” – assim disse o Presidente da República, Cavaco Silva, na sexta-feira de Carnaval, quando questionado sobre o polémico subsídio de exclusividade atribuído a José Sócrates enquanto deputado.
O respeito de Cavaco Silva pelo Carnaval era, até há poucos dias, desconhecido. Pelo contrário: uma das más recordações que Cavaco deixou como Primeiro Ministro foi precisamente ter tentado acabar com a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval, há uns 15 anos atrás. Se na altura o que era preciso era muito trabalho, hoje o que o Presidente quer é que não se pense muito “nisso”.
É uma declaração que encaixa direitinha nas concepções bafientas dos que acham que o que o povo precisa é de pão e circo. Pão que entretenha o estômago, circo que distraia das realidades e das injustiças, deixando “essas coisas” para quem sabe, para quem tem qualificações, para quem “é” político. Para os tais que, incomodados com tanta pergunta dos jornalistas, saturados de tanto assobio e manifestação, precisam de “gozar com tranquilidade” as férias do Carnaval.
O problema é que o Presidente da República enganou-se. Pelas suas declarações, presume-se que Cavaco Silva não vá há demasiados anos ver um corso de Carnaval. É que se tivesse ido, saberia como estão repletos de política. Saberia que, em muitos locais do país, os grupos, associações e colectividades que organizam o Carnaval escolhem temas do quotidiano para as suas máscaras, carros alegóricos e desfiles. Falam da saúde, do ambiente, dos salários, do custo de vida, do encerramento de escolas, dos problemas das suas terras, das promessas por cumprir dos governantes. Há também, claro, o puro e simples gozo de se divertir, mascarar, rir, dançar, estar com os amigos – e ainda bem! Na cultura portuguesa, a sátira, a caricatura e a rábula são tradições genuínas, sempre renovadas. E sérias.
O respeito de Cavaco Silva pelo Carnaval era, até há poucos dias, desconhecido. Pelo contrário: uma das más recordações que Cavaco deixou como Primeiro Ministro foi precisamente ter tentado acabar com a tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval, há uns 15 anos atrás. Se na altura o que era preciso era muito trabalho, hoje o que o Presidente quer é que não se pense muito “nisso”.
É uma declaração que encaixa direitinha nas concepções bafientas dos que acham que o que o povo precisa é de pão e circo. Pão que entretenha o estômago, circo que distraia das realidades e das injustiças, deixando “essas coisas” para quem sabe, para quem tem qualificações, para quem “é” político. Para os tais que, incomodados com tanta pergunta dos jornalistas, saturados de tanto assobio e manifestação, precisam de “gozar com tranquilidade” as férias do Carnaval.
O problema é que o Presidente da República enganou-se. Pelas suas declarações, presume-se que Cavaco Silva não vá há demasiados anos ver um corso de Carnaval. É que se tivesse ido, saberia como estão repletos de política. Saberia que, em muitos locais do país, os grupos, associações e colectividades que organizam o Carnaval escolhem temas do quotidiano para as suas máscaras, carros alegóricos e desfiles. Falam da saúde, do ambiente, dos salários, do custo de vida, do encerramento de escolas, dos problemas das suas terras, das promessas por cumprir dos governantes. Há também, claro, o puro e simples gozo de se divertir, mascarar, rir, dançar, estar com os amigos – e ainda bem! Na cultura portuguesa, a sátira, a caricatura e a rábula são tradições genuínas, sempre renovadas. E sérias.