O insulto
«José Sócrates assinou projectos que não eram seus nos anos 80» titulou em primeira página o Público, especificando no interior ter José Sócrates assinado «entre 1981 e 1990 dezenas de projectos de arquitectura e engenharia de que não foi o autor e que foram depois aprovados pela Câmara da Guarda, muitos deles feitos por engenheiros técnicos que tinham sido seus colegas de curso e eram funcionários daquela autarquia, não podendo assiná-los por impedimento legal». O visado respondeu muito elevadamente, preto no branco: «Desde 1980 exerci também funções privadas, em regime de profissão liberal, sendo que assumo, naturalmente, a autoria e responsabilidade de todos os projectos que assinei».
Só que na mesma página vêm referidos pelo menos 23 edifícios localizados na Guarda (com fotos e tudo) cujos projectos são assinados pelo actual primeiro-ministro e constituídos por peças manuscritas numa caligrafia que, segundo o jornal, «nada tem a ver com a de José Sócrates», sendo a mesma, «inconfundível, que aparece nos autos de vistoria realizados no final das obras» pela Câmara da Guarda, ou seja «a letra de Fernando Caldeira, colega de curso do primeiro-ministro e que, por ser funcionário do município [da Guarda], estava legalmente impedido de subscrever projectos na área do concelho». Aliás, engenheiros da Guarda referiram ao Público, sob anonimato, que «havia aí um grupo de técnicos da Câmara que açambarcava uma boa parte dos projectos das casas dos emigrantes. Como não podiam assinar, punham o Sócrates a fazê-lo, porque ele era da Covilhã e não tinha esse impedimento legal».
O próprio presidente da Câmara da Guarda da altura, o socialista Abílio Curto, referiu em Junho passado numa entrevista concedida à Rádio Altitude, após ter cumprido pena de prisão por corrupção passiva, que «uma vez disse-lhe [a José Sócrates] que ele mandava muitos projectos para a Câmara da Guarda, obras públicas, particulares. (...) O que sei é que nem todos os projectos seriam da autoria dele. Mas isso levar-nos-ia muito longe e também não vale a pena» De facto não valeu, pois há dias desmentiu-se a si próprio. O facto de as suas anteriores palavras estarem gravadas, ipsis verbi, numa estação de rádio, aparentemente em nada o incomodou.
Seguem-se mais umas trapalhadas à volta do subsídio de exclusividade recebido por Sócrates na Assembleia da República entre 1989 e 1995 (final da legislatura), o que o impedia de subscrever uma declaração em Abril de 1992 onde afirmava «por sua honra» que «pertenço ao quadro técnico da firma Sebastião dos Santos Goulão» (hoje falida) «na qual exerço as funções que competem à minha profissão por forma efectiva e permanente». Valeu que a Comissão de Alvarás de Empresas de Obras Públicas recusou, na altura, o nome de Sócrates para garantir a renovação do alvará desta empresa por não ter sido junto ao processo... o respectivo certificado de habilitações ou a carteira profissional de engenheiro técnico civil (Devia ser por isso que, na altura, o nosso Primeiro andava tão afadigado a tratar da sua famosa licenciatura na Universidade Independente...).
É claro que José Sócrates já classificou tudo isto como «um insulto» e «um ataque pessoal e político». O pior é que não desmentiu os factos nem apresentou outros.
Para quem, como ele, anda por aí armado em «mulher de César» - a tal a quem não basta ser séria, também é preciso parecê-lo – o «insulto» é capaz de ser já outro: um que atinge o País, vindo dele próprio...
Só que na mesma página vêm referidos pelo menos 23 edifícios localizados na Guarda (com fotos e tudo) cujos projectos são assinados pelo actual primeiro-ministro e constituídos por peças manuscritas numa caligrafia que, segundo o jornal, «nada tem a ver com a de José Sócrates», sendo a mesma, «inconfundível, que aparece nos autos de vistoria realizados no final das obras» pela Câmara da Guarda, ou seja «a letra de Fernando Caldeira, colega de curso do primeiro-ministro e que, por ser funcionário do município [da Guarda], estava legalmente impedido de subscrever projectos na área do concelho». Aliás, engenheiros da Guarda referiram ao Público, sob anonimato, que «havia aí um grupo de técnicos da Câmara que açambarcava uma boa parte dos projectos das casas dos emigrantes. Como não podiam assinar, punham o Sócrates a fazê-lo, porque ele era da Covilhã e não tinha esse impedimento legal».
O próprio presidente da Câmara da Guarda da altura, o socialista Abílio Curto, referiu em Junho passado numa entrevista concedida à Rádio Altitude, após ter cumprido pena de prisão por corrupção passiva, que «uma vez disse-lhe [a José Sócrates] que ele mandava muitos projectos para a Câmara da Guarda, obras públicas, particulares. (...) O que sei é que nem todos os projectos seriam da autoria dele. Mas isso levar-nos-ia muito longe e também não vale a pena» De facto não valeu, pois há dias desmentiu-se a si próprio. O facto de as suas anteriores palavras estarem gravadas, ipsis verbi, numa estação de rádio, aparentemente em nada o incomodou.
Seguem-se mais umas trapalhadas à volta do subsídio de exclusividade recebido por Sócrates na Assembleia da República entre 1989 e 1995 (final da legislatura), o que o impedia de subscrever uma declaração em Abril de 1992 onde afirmava «por sua honra» que «pertenço ao quadro técnico da firma Sebastião dos Santos Goulão» (hoje falida) «na qual exerço as funções que competem à minha profissão por forma efectiva e permanente». Valeu que a Comissão de Alvarás de Empresas de Obras Públicas recusou, na altura, o nome de Sócrates para garantir a renovação do alvará desta empresa por não ter sido junto ao processo... o respectivo certificado de habilitações ou a carteira profissional de engenheiro técnico civil (Devia ser por isso que, na altura, o nosso Primeiro andava tão afadigado a tratar da sua famosa licenciatura na Universidade Independente...).
É claro que José Sócrates já classificou tudo isto como «um insulto» e «um ataque pessoal e político». O pior é que não desmentiu os factos nem apresentou outros.
Para quem, como ele, anda por aí armado em «mulher de César» - a tal a quem não basta ser séria, também é preciso parecê-lo – o «insulto» é capaz de ser já outro: um que atinge o País, vindo dele próprio...