Na despedida a Ivone Dias Lourenço

Um emotivo adeus

Foi com emoção que largas dezenas de pessoas prestaram, no dia 25, uma última homenagem à nossa camarada de redacção Ivone Dias Lourenço, falecida na véspera.

Ivone Dias Lourenço é parte integrante da história do Avante! legal

O seu corpo foi cremado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, perante a presença emocionada do pai, António Dias Lourenço, da irmã Lígia e de outros familiares. Emoção que era partilhada por muitos camaradas que trabalharam, na clandestinidade ou, depois, no Avante! legal ou na Festa, com Ivone. E ainda por outros que, nunca tendo desempenhado tarefas partidárias com Ivone Dias Lourenço, se habituaram à sua presença constante e solidária no dia-a-dia da vida e da luta do Partido, do seu jornal e da sua Festa.
Também vários elementos dos organismos executivos do Comité Central, entre os quais o secretário-geral do Partido, compareceram no funeral, homenageando assim a vida de Ivone Dias Lourenço, uma vida completamente dedicada ao Partido e à luta pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo.
Na redacção do Avante!, onde Ivone trabalhou desde o primeiro número editado na legalidade, em Maio de 1974, o seu desaparecimento fez-se sentir de forma especialmente dolorosa. Pela igreja e, depois, pelo cemitério passaram actuais e antigos jornalistas, fotógrafos, gráficos e colaboradores do órgão central do Partido. Precisamente aqueles que formaram a última «guarda de honra» à urna, coberta com a bandeira do PCP.
Após a intervenção de Domingos Abrantes (ver texto nesta página) e a cremação, as coroas de flores enviadas em memória de Ivone Dias Lourenço foram depositadas, simbolicamente, no jazigo do poeta José Carlos Ary dos Santos e no mausoléu dos tarrafalistas.
Na véspera, o PCP anunciava a morte desta sua militante, através de uma nota do seu Gabinete de Imprensa: «Nascida em 1937 em Vila Franca de Xira, de origem operária, Ivone Dias Lourenço dedicou toda a sua vida à luta do seu Partido de sempre pela liberdade, a democracia e o socialismo. Membro do PCP desde 1953, participou no MUD na primeira metade da década de 50, foi membro do Comité Local do Porto e desempenhou, ainda antes do 25 de Abril, várias tarefas ligadas ao aparelho técnico do Partido. Na clandestinidade desde 1956, Ivone Dias Lourenço passou sete anos nas prisões do regime fascista. Integrava actualmente o colectivo do Avante!, sendo desde o 25 de Abril secretária da redacção do órgão central do PCP.»
À redacção chegaram várias mensagens de condolências de organizações do Partido, associações sociais e de militantes e amigos do PCP.

Camarada Ivone

Têm sido numerosas as mensagens de condolências dirigidas à nossa Redacção, o que testemunha não apenas o conhecimento da camarada Ivone Dias Lourenço como destacada militante do Partido – como o seu funeral mostrou a todos os que a acompanharam até à conclusão de uma vida vivida sob a bandeira do Partido que por fim lhe cobriu o féretro – mas também o conhecimento que tinham muitos camaradas e amigos do seu papel entre os que, semanalmente, isto é, todos os dias, preparam e escrevem o órgão central do PCP.
Entre nós, porém, damos testemunho da camarada que quotidianamente partilhava as nossas preocupações e tarefas, ligada que esteve sempre à Redacção do Avante! desde os seus primeiros e gloriosos números saídos, já na legalidade, logo após Abril de 74. Sabíamos da sua coragem e do seu apego aos ideais do Partido. Da sua fraternidade. Da sua capacidade de entender os problemas dos camaradas e de procurar – sempre – resolvê-los, da sua humanidade. Da sua enorme capacidade de trabalho, que desenvolvia não se poupando a dificuldades. E da sua grande cultura, que abarcava os mais diversificados aspectos – faculdade que, por irredutível modéstia, apenas os mais íntimos conheciam. Da sua perene juventude, desde sempre, que a fazia entender o arco extenso de gerações que no nosso trabalho convivem. Da sua sempre viva vontade de apreender o novo e de valorizar a experiência. Como secretária da Redacção e como destacada colaboradora na organização da Festa do Avante!, a camarada Ivone deixa um vazio difícil de colmatar. O seu exemplo e as suas qualidades, que não esquecemos, nos ajudará a prosseguir.

Domingos Abrantes
Uma vida de coragem e dedicação

Na breve intervenção que proferiu no funeral, Domingos Abrantes, do Comité Central, realçou que a «evocação da vida da camarada Ivone, como jovem, como mulher, como resistente, como membro e funcionária do Partido Comunista Português, tem o valor de uma lição e de um exemplo». Desde logo, afirmou, porque era filha da «camarada Casimira e do António Dias Lourenço, funcionários clandestinos do Partido».
E esta sua origem não é um «mero apontamento circunstancial». Pelo contrário, é um oportuno lembrar e de não deixar esquecer que a separação dos pais dos filhos, por exigências da vida clandestina, «constituiu um pesado tributo humano pago pela opção de entrega plena à luta contra o fascismo, à luta pela liberdade, por parte de tantos camaradas».
Prosseguindo, Domingos Abrantes realçou que os sete anos que passou na prisão, fazem Ivone Dias Lourenço entrar no núcleo de mulheres que mais anos passaram nas cadeias fascistas. O seu comportamento face aos esbirros da PIDE foi corajoso e exemplar. «Os anos de juventude sacrificada, os muitos anos de cadeia, não abalaram as suas disponibilidades revolucionárias, a sua dedicação ao Partido, a consciência dos seus deveres como revolucionária profissional que era e de que se orgulhava de ser.» Passados três meses de estar em liberdade, reingressou novamente na vida clandestina, lembrou.
Ivone Dias Lourenço, prosseguiu Domingos Abrantes, faz parte dos «muitos que deram o melhor das suas vidas para que os portugueses pudessem viver num país de liberdade e democracia» e o seu nome figura entre os comunistas que, pela sua acção, «tornaram possível a conquista da liberdade em que vivemos». Por isso, «não podemos calar a nossa indignação e o nosso protesto pelo facto da Comissão de Avaliação da Atribuição da Pensão de Mérito pela contribuição para a implantação da democracia ter considerado que a camarada Ivone não merecia esta pensão, que nada fizera de relevante pela democracia».
«Trata-se de um sinal dos tempos e do rumo que vai tomando o regime democrático», afirmou, assegurando porém que «nenhuma decisão arbitrária do poder instituído pode apagar o inquestionável papel determinante dos comunistas na luta pela liberdade».
Concluindo, questionou: «À Ivone, o que podemos dizer neste momento de dolorosa despedida?» E respondeu: «Que trabalharemos com afinco para que o seu exemplo e de tantos outros abnegados camaradas fortifique, para que o PCP, seu e nosso Partido, seja mais forte, que o socialismo e o comunismo, ideais das nossas vidas triunfem. Adeus e até sempre querida Ivone!»


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