População de Anadia não abdica das urgências

Os direitos defendem-se assim

Gustavo Carneiro
Cerca de três mil pessoas concentraram-se, sábado, junto ao hospital de Anadia em mais uma acção de protesto contra o encerramento do serviço de urgência. Jerónimo de Sousa esteve presente e apelou à continuação da luta.

Este foi o décimo protesto de rua desde Abril de 2007

Ainda não eram oito da noite de sábado e já se notava uma grande movimentação em direcção ao hospital José Luciano de Castro, em Anadia. Era essa a hora marcada para mais uma acção de protesto contra o encerramento das urgências, a décima desde que o Governo anunciou a sua decisão.
De todo o lado vinha gente, retesada de frio. De golas levantadas e cabeças cobertas, uns traziam faixas e cartazes. Outros seguiam de mãos vazias, mas não menos combativas. «Sócrates, demita-se» ou «não ao encerramento das urgências» eram algumas das mensagens lidas e ouvidas. Entre outras, bem mais duras.
Com a chegada de uma carrinha da Câmara Municipal e o início da intervenção do presidente da autarquia, Litério Marques, a concentração engrossou: muitos dos que permaneciam protegidos do frio deixaram os abrigos e aproximaram-se do local. As dezenas deram lugar às centenas e estas aos milhares. Era finalmente visível a dimensão do protesto!
Junto à carrinha equipada com som, o presidente da Câmara Municipal acusava o Governo de enganar a população de Anadia. E desafiava o PS a vir dizer o que pretendia fazer com o hospital. Ao tirarem as urgências, tiram tudo, afirmou. «Tudo o que “dão” já há cá.»
Quando Litério Marques anunciou a presença de Jerónimo de Sousa na concentração, a reacção foi calorosa. Entre vivas ao secretário-geral do PCP e incentivos à continuação da luta, entoados com entusiasmo pela multidão, Jerónimo de Sousa foi, a custo, abrindo alas, saudando e cumprimentando as largas dezenas de pessoas que o solicitavam.

Um exemplo a seguir

Foi de cima da caixa da carrinha que o dirigente comunista se dirigiu à população da Anadia: «Quero transmitir, em nome do meu Partido, a profunda solidariedade e, simultaneamente, uma grande admiração pela vossa luta, pela vossa persistência, pela vossa coragem.» O mais importante, continuou, «não é a minha presença aqui, mas a vossa».
Ao lutar pela manutenção do serviço de urgências, é o direito à saúde que defendem, valorizou Jerónimo de Sousa. Um direito que comporta em si mesmo o próprio «direito à vida».
Para o dirigente do PCP, não é aceitável esta política de encerramentos «às cegas». Em sua opinião, «não se pode mandar fechar serviços que nos planos técnico e político são viáveis». O Governo, acusou, está animado apenas pela redução do défice e da despesa, e também pela entrega de equipamentos de saúde aos grandes capitalistas que querem que a saúde seja um negócio».
As pessoas necessitam de medicina de proximidade, e isto não se resolve com grandes hospitais, afirmou Jerónimo de Sousa. E questionou: «Onde fica a rede de cuidados de saúde primários?» O dirigente do PCP realçou ainda as boas condições do hospital. «Não estamos a falar de uma casa velha, de uma instalação sem futuro», destacou. «Este hospital é socialmente justo e tecnicamente viável.»
Contemplando a entusiástica concentração do alto do seu palanque improvisado, Jerónimo de Sousa afirmou que o povo da Anadia é admirado em muitos sítios do País. «Quantos portugueses hoje não põem os olhos em quem, ao fim de dez lutas, está disposto a continuar até que o Governo reconsidere a sua decisão?» E acrescentou que o Governo teme o «mau exemplo» que a sua luta representa.
Antes de terminar, deixou o compromisso do PCP de confrontar o Governo com a injustiça desta decisão na Assembleia da República e noutras intervenções políticas. E não concluiu antes de garantir que sempre que direitos fundamentais forem postos em causa, lá estarão os comunistas ao lado de quem luta em sua defesa.
O protesto prosseguiu com uma inauguração simbólica do «novo hospital» de Anadia, no cemitério local.

«Unidos pela Saúde» vai continuar a luta
Um encerramento sem justificação

No dia 2 de Janeiro, às 8 da manhã, encerrou o serviço de urgências do Hospital José Luciano de Castro, que até aí funcionava 24 horas por dia. José Paixão, porta-voz do movimento «Unidos pela Saúde» e membro da Direcção da Organização Regional de Aveiro do PCP contou ao Avante! que no lugar das urgências ficou a «consulta aberta», que mais não é do que consultas normais de médico de família com um horário um pouco mais alargado.
O serviço, relatou o activista, servia não só a população do concelho da Anadia, como dos concelhos vizinhos de Mortágua, Oliveira do Bairro e Mealhada. Muita gente de Águeda e Cantanhede também recorria aos seus serviços. Daqui para a frente, toda esta gente será encaminhada para Coimbra. «São milhares de pessoas que passam por dia pelo nosso concelho. Não podemos esquecer que por aqui passa a A1, o IC2 e o caminho-de-ferro.»
O Hospital José Cordeiro de Castro, contou José Paixão, «era um hospital de referência, de nível 1, certificado internacionalmente. Foram aqui investidos milhões de euros para o equipar. E agora fecham-no sem mais nem menos». Talvez para o privatizar, adiantou o dirigente do movimento.
O encerramento, afirmou, não tem quaisquer razões. «O ministro alega que não justifica ter estas urgências abertas porque é dispendioso para o Estado, mas não compreendemos que contas entraram na equação.» Será mais barato as pessoas perderem dias em Coimbra à espera de serem atendidas nas urgências, perguntou.
O protesto de sábado foi o décimo desde que foi conhecida a decisão do Governo de encerrar o serviço de urgências do hospital, em Abril de 2007. Nove das dez acções foram promovidas pelo movimento «Unidos pela Saúde». A outra foi da responsabilidade de outra organização, que entretanto se fundiu com o movimento que José Paixão encabeça.
A luta contra este encerramento tem vindo a crescer, considera o porta-voz do «Unidos pela Saúde». Assim como os apoios de diversas instituições. A própria Câmara Municipal e juntas de freguesia, que se opuseram ao primeiro protesto, começaram a apoiar e a solidarizar-se com a luta das populações em defesa do direito à saúde, contou.
Estão já agendadas novas acções. No próximo domingo, durante o jogo Leixões-Anadia, para a Taça de Portugal; no Carnaval, que será dedicado precisamente à política de saúde do Governo. Há acções planificadas até à Páscoa, que serão anunciadas em breve.


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