Crise imobiliária nos EUA

Fred Goldstein
Os especuladores de Wall Street colocaram mais de dois milhões de pessoas em risco de perderem as suas habitações num curto espaço de tempo. Mas, tão mau como isso, subsiste ainda o perigo de muitos outros milhões de trabalhadores perderem os respectivos empregos se o colapso do mercado imobiliário se transformar numa recessão generalizada.
As manchetes sobre as recentes quebras na bolsa referem-se quase todas aos milhares de milhões de dólares canalizados para o crédito de risco suportado pelos maiores bancos e instituições financeiras. A última quebra significativa em Wall Street ocorreu depois do fundo de investimentos Goldman Sachs ter recomendado aos seus clientes que vendessem os títulos do Citigroup, o maior banco comercial dos EUA.
A recomendação de venda da Goldman Sachs baseou-se na suposição de que o Citigroup vai ter que declarar 15 mil milhões de dólares de crédito mal parado no início de 2008. A este valor, acrescem entre 8 e 11 mil milhões de dólares investidos no mesmo esquema declarados nos últimos meses de 2007. Os analistas não sabem quando nem onde esta crise do crédito de risco vai levar os bancos.
Este tipo de dívida formada nos créditos contra hipoteca financiados ardilosamente pelo Citigroup e entidades similares, foi montado para enganar os trabalhadores oferecendo-lhes empréstimos a juros muito apelativos nos primeiros dois anos de contrato. Prometeram-lhes que quando as taxas subissem poderiam rever as condições do contrato, mas isto revelou-se uma grande burla. Estes empréstimos abrangem sobretudo população afroamericana e hispânicos, os quais não conseguem obter crédito a taxas normais devido às persistentes práticas racistas no sistema bancário.
Outras investidoras, tais como a Merrill Lynch ou a Bear Stearns, aplicaram o mesmo mecanismo e tiveram que descartar milhares de milhões de dólares em crédito mal parado. Mas enquanto as dívidas dos bancos tomam as manchetes, outras notícias da economia capitalista merecem atenção.

Perdas em todos os subsectores

A Lowe's, uma das maiores fornecedoras de materiais de construção, anunciou recentemente uma queda de 4,3 por cento nas vendas referentes a stock existente, e uma previsão de descida dos lucros na ordem dos 10 por cento para o terceiro trimestre de 2007. A empresa revelou que a margem de lucro irá seguramente continuar a cair.
A Home Depot, outra grande fornecedora de materiais de construção, anunciou quebras na ordem dos 27 por cento nos lucros e 6,2 por cento nas vendas. A empresa foi ainda obrigada a corrigir as estimativas dos proveitos futuros.
A FedEx, uma companhia transportadora a operar em todo o território norte-americano, alertou Wall Street há cerca de três meses sobre possíveis quebras na margem de lucro. Porquê? Devido aos aumentos dos combustíveis e a um abrandamento no crescimento da industria nos EUA, cifrado em 0,5 por cento.
Também a gigante Caterpilar – que perdeu no terceiro trimestre de 2007 5 mil milhões de dólares em resultado do abrandamento de 11 por cento nas vendas - veio a público dizer que a economia norte-americana estava em recessão. A companhia domina nos transportes pesados e na construção, sendo naturalmente afectada pela crise no sector imobiliário.
A Whirlpool, a maior fornecedora de electrodomésticos do mundo, confirmou também perdas percentuais nas vendas para este ano, previstas em 3 pontos.

A extensão da crise

A tudo isto acresce que, para além da tempestade nas áreas dos transportes, construção e crédito bancário, Wall Street tem de começar a preocupar-se com a extensão da crise às vendas a retalho, isto apesar da euforia natalícia.
Enquanto a Wal-Mart rejubila com a manutenção das vendas, outras distribuidoras sentem os reflexos das carências nos bolsos dos trabalhadores, fruto da incapacidade de competirem com os preços praticados naquela cadeia. J.C. Penney, Kohl's e outras registaram perdas nos lucros em 8 e 13 por cento, respectivamente. Mike Ulman, administrador da Penney citado pelo Finalcial Times, foi lapidar quando disse que «é impossível vender cortinados para casas que não estão a ser construídas».
As vendas de casas novas estão ao pior nível da última década e as transacções de imobiliário encontram-se num declínio nunca visto. O director executivo da Wells Fargo, o banco da Costa Leste, escreveu o Financial Times a meio de Novembro, «disse que a crise no sector do imobiliário era a pior desde a Grande Depressão».
Ao subscrever a obtenção do crédito fácil em 2000, a Reserva Federal adiou a crise capitalista, mas esta está agora a afectar com toda a força os trabalhadores.


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