Uma perigosa deriva militarista

Albano Nunes

A situação internacional está marcada por uma forte resistência anti-imperialista

Em Conferência de Imprensa realizada na passada segunda-feira, a Comissão Política do Comité Central do PCP divulgou uma importante Declaração que a comunicação social dominante escondeu dos trabalhadores e do povo português.

Não é de surpreender que assim tenha acontecido. Intitulada «Política externa de submissão nacional e de apologia do militarismo na Presidência portuguesa da União Europeia», esta Declaração é portadora de uma mensagem particularmente séria. A gravidade dos mais recentes passos dados em matéria de política externa torna imperioso e urgente que as bandeiras da soberania nacional e do combate anti-imperialista avancem para as primeiras linhas da luta pela ruptura com mais de trinta anos de políticas de direita e de submissão nacional. Sem isso a resistência à violenta ofensiva do capital e do seu governo de serviço estará privada de uma vertente que é tanto mais importante quanto o grande capital português e o imperialismo sempre andaram de mãos dadas e quando a escalada agressiva orquestrada em Washington e acompanhada pelas grandes potências da U.E., aponta para cenários de apocalipse. Basta pensar na tragédia que pode resultar do recurso à arma nuclear que está a ser admitido pelos círculos norte-americanos mais agressivos. Ou no desencadeamento de uma guerra contra o Irão e/ou a Síria. Ou na possível agudização seja das rivalidades inter-imperialistas, seja das contradições que opõem o imperialismo a países com crescente peso internacional como a China. Ou em possíveis desenvolvimentos da política de terrorismo de Estado israelita para tentar dominar o heróico povo palestiniano.

Sendo certo que a política externa dos sucessivos governos do PS e do PSD se tem pautado pelo desprezo pelos interesses nacionais e o alinhamento estratégico com o imperialismo – NATO, U.E., atlantismo, neoliberalismo, capital estrangeiro, neocolonialismo, intervencionismo agressivo – a verdade é que o Governo de José Sócrates, aparentemente decidido a um alinhamento sem fronteiras, está a assumir-se como veículo das orientações mais reaccionárias e agressivas em praticamente todas as grandes questões da vida internacional. Particularmente inquietante é a «apologia do militarismo» que, em sintonia com os governos de Bush, Merkel e Sarkozy, tem tido nos últimos tempos expressões gravíssimas numa autêntica deriva militarista que está a contaminar praticamente todas as esferas das relações externas (como no caso da «política africana») e a transformar Portugal num pau mandado dos EUA e das grandes potências da U.E. na sua estratégia de domínio e recolonização do planeta.

A situação internacional está marcada por uma forte resistência anti-imperialista e por esperançosos desenvolvimentos progressistas e revolucionários que é importante valorizar pois são eles, e não o terror imperialista, que expressam as tendências de fundo do desenvolvimento mundial. Mas está também carregada de grandes perigos. Como sublinhou o camarada Jerónimo de Sousa no magnífico comício da Festa do Avante! «os tambores do militarismo e da guerra continuam a soar alto». É necessário tudo fazermos em Portugal para que as vozes da soberania nacional, do combate anti-imperialista, da paz e da amizade entre os povos abafem o seu som sinistro e tais tambores deixem de rufar.


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