O destino da privatização
Os caminhos-de-ferro alemães irão ser parcialmente privatizados conforme o projecto aprovado, dia 24, pelo governo de coligação entre conservadores e sociais-democratas.
A privatização da Deustche Bahn gera preocupações e protestos na Alemanha
A privatização da Deustche Bahn irá encerrar o processo desencadeado nos anos 90 que levou à entrega das grandes empresas públicas estratégicas a mãos privadas. Depois dos correios, das telecomunicações e da energia, o transporte ferroviário deverá ser vendido até final de 2008, de acordo com o projecto de lei elaborado pelo ministro social-democrata Wolfgang Tiefensee, que está a suscitar a oposição de eleitos regionais e locais e o protesto de grupos ecologistas e antiglobalização.
Os primeiros planos de privatização da Deustche Bahn foram elaborados há cerca de 15 anos. Porém, na altura, os poderes públicos optaram prudentemente por congelar o assunto, procurando acalmar a forte polémica que o assunto levantou.
Nos anos seguintes, estes planos seriam várias vezes recusados, ao mesmo tempo que ganhavam força os argumentos dos que se opunham à privatização, alertando para os perigos da degradação do serviço e riscos para a segurança dos passageiros.
O longo historial de trágicos acidentes ferroviários na Grã-Bretanha constituía um cenário alarmante que os políticos alemães não podiam ignorar. Não fizeram os próprios trabalhistas liberais chefiados por Tony Blair que, para pôr cobro à sucessão de colisões e descarrilamentos que provocaram centenas de vítimas, se viram obrigados a renacionalizar os sectores mais sensíveis, tais como a manutenção e os sistemas de segurança entregues, anos atrás, à irresponsabilidade dos concorrentes privados.
Dúvidas e receios
Hoje, na Alemanha, as principais objecções prendem-se com um esperado aumento dos bilhetes. E vários estados regionais manifestam-se preocupados com a possibilidade de os novos donos começarem a sacrificar as linhas menos rentáveis em benefício dos grandes eixos entre as grandes metrópoles.
No dia da aprovação do projecto, activistas do movimento Ban fur alle, («Comboio para todos») protestaram contra a privatização frente à sede governamental em Berlim.
Até no interior da «grande coligação» governativa existem divergências quanto à repartição futura das responsabilidades entre o Estado e os privados. Alguns conservadores defendem que o projecto não é suficientemente ousado para estimular a concorrência. Pelo contrário, dizem certos sociais-democratas, os poderes públicos devem conservar uma «influência directa em matéria de investimento»
Na verdade, o projecto prevê a venda de 49 por cento da Deustche Bahn, mas assegura aos investidores o controlo e gestão, por um prazo de 15 anos, de toda a rede de caminhos-de-ferro (cerca de 35 mil quilómetros de via férrea), bem como do conjunto das mais de quatro mil estações espalhadas pelo país, cuja propriedade é, no entanto, mantida no domínio público.
«Nenhum investidor terá acesso a um único metro de via-férrea», garantiu o ministro dos Transportes que, desta forma, também justificou o facto de o Estado se comprometer a investir anualmente 2,5 mil milhões de euros na manutenção e melhoramento da rede ferroviária. Ora, o encaixe financeiro previsto pelo governo nesta primeira fase da privatização não vai além dos três mil milhões de euros.
Em declarações à revista alemã Focus, Wolfgang Tiefensee explica que «temos necessidade de parceiros privados para tornar a Bahn ainda mais forte, uma vez que ela deve poder impor-se aos seus concorrentes estrangeiros».
Uma empresa lucrativa
A Deustche Bahn não só é actualmente a maior empresa de caminhos-de-ferro da Europa, empregando cerca de 230 mil pessoas, como nos últimos anos conseguiu expandir as suas actividades muito para além do transporte ferroviário, ramo que representa apenas metade dos 30 mil milhões de euros de facturação anual.
Com vista a preparar a sua privatização, a administração apostou na diversificação dos negócios na área do transporte e logística, construindo um verdadeiro império com cerca de 80 filiais dedicadas ao transporte marítimo, rodoviário e aéreo. Para além da Europa, o grupo está presente na Ásia, no Médio-Oriente e na América do Norte.
O seu presidente, Hartut Mehdorn, próximo dos sociais-democratas, afirmou recentemente com orgulho: «Conseguimos fazer da Bahn algo que é bem mais do que uma companhia ferroviária».
Todavia, esse esforço bem sucedido exigiu investimentos maciços só possíveis graças ao orçamento do Estado. Nos últimos sete anos, o grupo público aplicou 90 mil milhões de euros que, agora, começam a dar os seus frutos.
Em 2006, a Deustche Bahn registou uma acentuada subida dos lucros (1,7 mil milhões de euros) que se deveu sobretudo aos recentes investimentos no transporte de mercadorias em países estrangeiros. Com o sentimento do dever cumprido, Mehdorn não tem dúvidas, a Bahn está pronta para a privatização.
Os primeiros planos de privatização da Deustche Bahn foram elaborados há cerca de 15 anos. Porém, na altura, os poderes públicos optaram prudentemente por congelar o assunto, procurando acalmar a forte polémica que o assunto levantou.
Nos anos seguintes, estes planos seriam várias vezes recusados, ao mesmo tempo que ganhavam força os argumentos dos que se opunham à privatização, alertando para os perigos da degradação do serviço e riscos para a segurança dos passageiros.
O longo historial de trágicos acidentes ferroviários na Grã-Bretanha constituía um cenário alarmante que os políticos alemães não podiam ignorar. Não fizeram os próprios trabalhistas liberais chefiados por Tony Blair que, para pôr cobro à sucessão de colisões e descarrilamentos que provocaram centenas de vítimas, se viram obrigados a renacionalizar os sectores mais sensíveis, tais como a manutenção e os sistemas de segurança entregues, anos atrás, à irresponsabilidade dos concorrentes privados.
Dúvidas e receios
Hoje, na Alemanha, as principais objecções prendem-se com um esperado aumento dos bilhetes. E vários estados regionais manifestam-se preocupados com a possibilidade de os novos donos começarem a sacrificar as linhas menos rentáveis em benefício dos grandes eixos entre as grandes metrópoles.
No dia da aprovação do projecto, activistas do movimento Ban fur alle, («Comboio para todos») protestaram contra a privatização frente à sede governamental em Berlim.
Até no interior da «grande coligação» governativa existem divergências quanto à repartição futura das responsabilidades entre o Estado e os privados. Alguns conservadores defendem que o projecto não é suficientemente ousado para estimular a concorrência. Pelo contrário, dizem certos sociais-democratas, os poderes públicos devem conservar uma «influência directa em matéria de investimento»
Na verdade, o projecto prevê a venda de 49 por cento da Deustche Bahn, mas assegura aos investidores o controlo e gestão, por um prazo de 15 anos, de toda a rede de caminhos-de-ferro (cerca de 35 mil quilómetros de via férrea), bem como do conjunto das mais de quatro mil estações espalhadas pelo país, cuja propriedade é, no entanto, mantida no domínio público.
«Nenhum investidor terá acesso a um único metro de via-férrea», garantiu o ministro dos Transportes que, desta forma, também justificou o facto de o Estado se comprometer a investir anualmente 2,5 mil milhões de euros na manutenção e melhoramento da rede ferroviária. Ora, o encaixe financeiro previsto pelo governo nesta primeira fase da privatização não vai além dos três mil milhões de euros.
Em declarações à revista alemã Focus, Wolfgang Tiefensee explica que «temos necessidade de parceiros privados para tornar a Bahn ainda mais forte, uma vez que ela deve poder impor-se aos seus concorrentes estrangeiros».
Uma empresa lucrativa
A Deustche Bahn não só é actualmente a maior empresa de caminhos-de-ferro da Europa, empregando cerca de 230 mil pessoas, como nos últimos anos conseguiu expandir as suas actividades muito para além do transporte ferroviário, ramo que representa apenas metade dos 30 mil milhões de euros de facturação anual.
Com vista a preparar a sua privatização, a administração apostou na diversificação dos negócios na área do transporte e logística, construindo um verdadeiro império com cerca de 80 filiais dedicadas ao transporte marítimo, rodoviário e aéreo. Para além da Europa, o grupo está presente na Ásia, no Médio-Oriente e na América do Norte.
O seu presidente, Hartut Mehdorn, próximo dos sociais-democratas, afirmou recentemente com orgulho: «Conseguimos fazer da Bahn algo que é bem mais do que uma companhia ferroviária».
Todavia, esse esforço bem sucedido exigiu investimentos maciços só possíveis graças ao orçamento do Estado. Nos últimos sete anos, o grupo público aplicou 90 mil milhões de euros que, agora, começam a dar os seus frutos.
Em 2006, a Deustche Bahn registou uma acentuada subida dos lucros (1,7 mil milhões de euros) que se deveu sobretudo aos recentes investimentos no transporte de mercadorias em países estrangeiros. Com o sentimento do dever cumprido, Mehdorn não tem dúvidas, a Bahn está pronta para a privatização.