1943 – Saber avançar - Saber recuar
O movimento grevista de Julho e Agosto de 1943 mobilizou dezenas de milhar de trabalhadores para a luta reivindicativa de caracter económico em Lisboa, na Margem Sul e na região de São João da Madeira, cedo evoluindo para uma demonstração da determinação política e organização da classe operária, sob a direcção do Partido Comunista Português.
De há muito que se avolumavam sinais de descontentamento perante a rapina de géneros (para a Alemanha); o evoluir do mercado negro, propiciador do enriquecimento rápido à custa da fome dos trabalhadores; e o garrote salarial imposto pelo regime. Na Covilhã, já em Novembro de 1941, a greve dos operários têxteis tinha sido violentamente esmagada pelas forças militares e militarizadas. Em Outubro e Novembro de 1942, um novo surto grevista agitara as empresas em Lisboa e na Margem Sul. E, desde Janeiro de 1943, as populações saíam à rua, reclamando pão, desfilando em marchas da fome, recusando jornas e exigindo aumento dos salários. Em síntese, generalizara-se o protesto, perante um salazarismo brutal, surdo e cego.
Foi neste quadro que o PCP, atento à realidade e dando resposta a uma necessidade objectiva das massas trabalhadoras avançou, em Março de 1943, com os «9 Pontos – Programa para a Unidade Nacional». A proposta política exigia a construção da unidade em torno de questões concretas e, apontava a adição de vontades, como o caminho para a luta antifascista. De São João da Madeira a Almada, de Silvalde a Alhandra, de Alcanena ao Barreiro, do Bombarral a Coimbra, a mensagem foi absorvida e levada à prática, dela resultando um clamor progressivamente organizado e articulado nas fábricas e nos campos do país que, em 21 de Julho de 1943, recebeu o sinal do Secretariado do PCP no manifesto - «À GREVE! Pelo aumento de salários!» .
Em 26 de Julho de 1943, os operários das empresas RancKin, Bucknall, Construções Navais e Parry & Son, em Almada, abrem as hostilidades, paralisando a actividade. No dia seguinte, são os da CUF (Barreiro), Mundet (Amora), Argibay, CNN, Sabões Sol e Dargent que entram em greve. Em 28 de Julho, paralisou a zona industrial de Santos - Alcântara, em Lisboa, enquanto as mulheres obrigavam o comércio a encerrar, em Almada. E, no mesmo dia, os operários da CUF (Barreiro), organizam duas manifestações que mobilizaram o proletariado corticeiro e a população barreirense. Em 2 de Agosto, os trabalhadores gráficos de Lisboa entram em greve e, no dia 5, os operários de calçado em São João da Madeira, Arrifana, Couto e Nogueira do Cravo seguem-lhes o exemplo, exigindo aumento de salários.
Alvo duma brutal vaga repressiva e esgotados os poucos tostões em mais duma semana de luta, o proletariado foi obrigado a recuar, para conservar posições, mas... tinham-se aberto novas perspectivas ao Partido: alargara-se o seu campo de acção em numerosas fábricas e empresas; haviam-se encurtado distâncias entre os comunistas e as massas trabalhadoras; a organização ganhara terreno fértil para aprofundar raízes e preparar novas ofensivas. A repercussão internacional dos acontecimentos vividos nesse Verão, comprometera e cobrira de ridículo a propaganda do regime fascista. A tese do «Paraíso de Portugal» ruíra, enquanto o bloco Governo-Patronato manifestara as primeiras fissuras na sua santa aliança. E, não obstante o recuo, em Portugal, ocorrera o maior movimento operário, desde o advento do fascismo.