A verdadeira importância de Fátima (2)
Acerca das coisas da igreja portuguesa pouco se sabe ao certo. O segredo é o seu estilo de trabalho. O mesmo acontece, naturalmente, com o Santuário de Fátima. Falemos, portanto, só dos factos conhecidos.
Fátima situa-se bem no Centro do país numa área onde, segundo afirmam fontes idóneas, confluirão dentro de poucos anos o tráfego aéreo dos voos «charters», a maior concentração de equipamentos turísticos portugueses, os comboios de alta velocidade (TGV) e a exploração das bolsas de gás natural recentemente detectadas na região.
O património actual do santuário está avaliado em centenas de milhões de contos. É um montante que não parece exagerado ao constatar-se que, desde há várias dezenas de anos, a igreja pratica uma política de aquisição de solos, numa extensa mancha de terrenos situados entre Coimbra, Ota, Lourinhã, Batalha e Leiria. A esse imenso feudo há que juntar as extensões doadas pelos crentes e muitas outras que, não sendo propriedade directa da igreja, pertencem por direito próprio a fundações, ordens, institutos, ONGs e IPSS de natureza confessional.
Ao abrigo da Concordata, Fátima beneficia de largas isenções e privilégios concedidos pelo Estado. Especializou-se, igualmente, no aproveitamento integral dos fundos europeus a cuja adjudicação concorre, quer por conta própria, quer em associação com interesses privados. Um exemplo conhecido são as propostas de requalificação hoteleira, área onde o santuário fez aprovar pela União Europeia (até ao ano 2000) 29 propostas, no valor de cerca de 12 milhões de contos. Nessa altura continuavam na UE, aguardando aprovação, propostas eclesiásticas de investimentos financeiros na ordem dos 19 milhões de contos. Só entre Coimbra e Lisboa, a igreja detém mais de 80% do património artístico e cultural cuja propriedade lhe é reconhecida, nos termos da Concordata, cabendo ao Estado pagar os respectivos encargos de restauração e de manutenção.
O «patrão»
Dirigido com mão de ferro por monsenhor Luciano Guerra, o santuário foi a primeira grande estrutura católica a aderir ao modelo neoliberal. Informatizou-se e dividiu-se em «holdings». O «patrão» Luciano dirige a sua «holding» pessoal, a Reitoria, em torno da qual gira um colar de satélites: Alojamento, Peregrinações, Doentes, Liturgia, Estudos e Difusão, Associações, Ambiente e Construções, Preservação do Ambiente e Peregrinações Aniversariais. Toda a gestão do santuário obedece a uma lógica de mercado com um forte núcleo dirigente centrado na Reitoria que coordena as secções comerciais da Basílica e Colunata, dos Retiros da Senhora das Dores e da Senhora do Carmo, Albergue dos Peregrinos a Pé, Pavilhão de Santo António, Centro Pastoral Paulo VI, Casa-Museu de Aljustrel, 14 Parques de Estacionamento, 1 Campo de Aviação e dezenas de prédios agrícolas e urbanos localizados na área da diocese de Leiria.
Juntem-se a esta fonte de rendimentos os lucros fornecidos pela gestão directa da rede de estabelecimentos e lojas hoteleiras de artigos religiosos, de restauração, de publicidade, de agências de viagens, da venda de círios, etc. E contabilize-se o pecúlio das caixas de esmolas (cerca de 600 mil contos/ano), das ofertas dos peregrinos, em dinheiro, das doações (ofertas de grandes legados em terras, imóveis ou grandes depósitos bancários) ou do cascalho (engastes, brincos, pulseiras, colares oferecidos a Fátima pelos peregrinos). Neste último caso, o metal é separado segundo a sua espécie (oiro, prata, platina, etc.), prensado, fundido e reduzido a barras que são transaccionadas no mercado, a preços correntes. A respeito de Fátima, declarou monsenhor Guerra, ao «Público», com um irreprimível orgulho: «O Santuário tem partes de Empresa, de Misericórdia e, até, de Governo... Na altura das aparições, nem um palmo de terra era da Igreja... Quando cá cheguei, só havia um saldo de 12 mil contos... Mas agora, com excepção dos terrenos onde está instalada a Capela das Aparições, todas as outras terras foram compradas aos seus proprietários... o imobilizado corpóreo é muito grande!».
Como se sabe, Fátima pertence à Igreja. Mas a quem obedece, quem a controla? Interrogaram D. José Policarpo acerca das contas de Fátima. O cardeal limitou-se a responder, secamente: «De nada sei!».
Fátima situa-se bem no Centro do país numa área onde, segundo afirmam fontes idóneas, confluirão dentro de poucos anos o tráfego aéreo dos voos «charters», a maior concentração de equipamentos turísticos portugueses, os comboios de alta velocidade (TGV) e a exploração das bolsas de gás natural recentemente detectadas na região.
O património actual do santuário está avaliado em centenas de milhões de contos. É um montante que não parece exagerado ao constatar-se que, desde há várias dezenas de anos, a igreja pratica uma política de aquisição de solos, numa extensa mancha de terrenos situados entre Coimbra, Ota, Lourinhã, Batalha e Leiria. A esse imenso feudo há que juntar as extensões doadas pelos crentes e muitas outras que, não sendo propriedade directa da igreja, pertencem por direito próprio a fundações, ordens, institutos, ONGs e IPSS de natureza confessional.
Ao abrigo da Concordata, Fátima beneficia de largas isenções e privilégios concedidos pelo Estado. Especializou-se, igualmente, no aproveitamento integral dos fundos europeus a cuja adjudicação concorre, quer por conta própria, quer em associação com interesses privados. Um exemplo conhecido são as propostas de requalificação hoteleira, área onde o santuário fez aprovar pela União Europeia (até ao ano 2000) 29 propostas, no valor de cerca de 12 milhões de contos. Nessa altura continuavam na UE, aguardando aprovação, propostas eclesiásticas de investimentos financeiros na ordem dos 19 milhões de contos. Só entre Coimbra e Lisboa, a igreja detém mais de 80% do património artístico e cultural cuja propriedade lhe é reconhecida, nos termos da Concordata, cabendo ao Estado pagar os respectivos encargos de restauração e de manutenção.
O «patrão»
Dirigido com mão de ferro por monsenhor Luciano Guerra, o santuário foi a primeira grande estrutura católica a aderir ao modelo neoliberal. Informatizou-se e dividiu-se em «holdings». O «patrão» Luciano dirige a sua «holding» pessoal, a Reitoria, em torno da qual gira um colar de satélites: Alojamento, Peregrinações, Doentes, Liturgia, Estudos e Difusão, Associações, Ambiente e Construções, Preservação do Ambiente e Peregrinações Aniversariais. Toda a gestão do santuário obedece a uma lógica de mercado com um forte núcleo dirigente centrado na Reitoria que coordena as secções comerciais da Basílica e Colunata, dos Retiros da Senhora das Dores e da Senhora do Carmo, Albergue dos Peregrinos a Pé, Pavilhão de Santo António, Centro Pastoral Paulo VI, Casa-Museu de Aljustrel, 14 Parques de Estacionamento, 1 Campo de Aviação e dezenas de prédios agrícolas e urbanos localizados na área da diocese de Leiria.
Juntem-se a esta fonte de rendimentos os lucros fornecidos pela gestão directa da rede de estabelecimentos e lojas hoteleiras de artigos religiosos, de restauração, de publicidade, de agências de viagens, da venda de círios, etc. E contabilize-se o pecúlio das caixas de esmolas (cerca de 600 mil contos/ano), das ofertas dos peregrinos, em dinheiro, das doações (ofertas de grandes legados em terras, imóveis ou grandes depósitos bancários) ou do cascalho (engastes, brincos, pulseiras, colares oferecidos a Fátima pelos peregrinos). Neste último caso, o metal é separado segundo a sua espécie (oiro, prata, platina, etc.), prensado, fundido e reduzido a barras que são transaccionadas no mercado, a preços correntes. A respeito de Fátima, declarou monsenhor Guerra, ao «Público», com um irreprimível orgulho: «O Santuário tem partes de Empresa, de Misericórdia e, até, de Governo... Na altura das aparições, nem um palmo de terra era da Igreja... Quando cá cheguei, só havia um saldo de 12 mil contos... Mas agora, com excepção dos terrenos onde está instalada a Capela das Aparições, todas as outras terras foram compradas aos seus proprietários... o imobilizado corpóreo é muito grande!».
Como se sabe, Fátima pertence à Igreja. Mas a quem obedece, quem a controla? Interrogaram D. José Policarpo acerca das contas de Fátima. O cardeal limitou-se a responder, secamente: «De nada sei!».