Tenham paciência

José Casanova
Havia quem opinasse que, na apreciação à Greve Geral, os rapazes BE não dariam o passo de, publicamente, alinhar com o poder dominante. Quem assim opinava, alvitrava que, nesta situação concreta, os referidos boys manteriam a habitual postura de tapar a careca (desta vez com um véu de silêncio). Quem tal dizia, argumentava que os rapazes, apesar dos inegáveis esforços até aqui desenvolvidos e da mestria revelada na arte de esconder o que são e fingir o que não são, ainda não cumpriram plenamente as tarefas que lhes estão destinadas, as quais, cumpridas, quiçá lhes abrirão as portas de acesso a merecidos cargos governamentais.
Mas a verdade é que o êxito da jornada de luta de 30 de Maio – a maior e mais forte acção de massas contra o actual governo - colocava exigências imperativas: para o Governo, a Greve Geral tinha que ter sido um fracasso. E para o demonstrar, foram utilizados todos os trunfos disponíveis: catadupas de ministros e secretários de Estado a desfilarem pelas têvês; os média em peso (mais o coro afinado dos respectivos fazedores de opinião); enfim, a tropa de choque dos grandes momentos – todos repetindo-se e repetindo a cassette gasta e roufenha destas ocasiões.
Ora, tal estado de alerta há-de ter levado os rapazes BE a pensar que se lhes pedia um passo em frente. E deram-no: Miguel Portas e outros seus pares, no decorrer da Convenção do BE, juntaram-se ao coro de propagandistas do Governo. Mais do que isso: aproveitaram os ventos favoráveis e avançaram nas provocações contra o PCP e a CGTP, o que muito há-de ter agradado aos que tudo fazem para acabar com esse mau exemplo que é a existência em Portugal de uma verdadeira central sindical – verdadeira porque, sendo democrática, unitária, de massas e de classe, existe para defender, e defende de facto, os direitos e interesses dos trabalhadores.
E tamanha era a euforia que os rapazes nem se aperceberam que, ouvindo-os, muitos cidadãos haveriam de concluir que eles estavam, afinal, a reconhecer publicamente que nada fizeram para que a Greve Geral fosse um êxito; que, nos casos em que disseram apoiá-la, o fizeram apenas para não perder o comboio; e que, apesar disso, a Greve Geral foi um êxito dos trabalhadores e da CGTP.
Custa-lhes, enerva-os e irrita-os o êxito da Greve Geral e a constatação da certeza de que a luta dos trabalhadores vai continuar mais ampla e mais forte? Tenham paciência: é assim mesmo que vai ser.


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