Operadoras de fralda

João Frazão
No Chile é assim. Operadoras de caixa de uma cadeia de supermercados vêem-se obrigadas a usar fralda, por não terem autorização para se ausentar do seu posto de trabalho durante as nove longas horas de trabalho diário, de acordo com uma denúncia da Central Sindical do Chile.
Após o choque inicial que o título nos causa, lido e relido o texto para nos certificarmos de que é mesmo assim, somos tentados a pensar que é consequência de relações de trabalho distorcidas, que por sua vez são fruto de uma situação concreta do chamado terceiro mundo, onde imperam os capitalistas caceteiros, ávidos de aumentar exponencialmente os lucros, à custa da sobre-exploração dos trabalhadores.
Mas esta teoria simplista não resiste a uma espreitadela às grandes superfícies comerciais em Portugal. Sendo um dos sectores mais prósperos e dinâmicos da economia portuguesa, com novas catedrais do consumo a abrir todas as semanas, não faltam aqui casos de trabalhadores que após pedirem para ser substituídos para ir à casa de banho, têm que esperar mais de uma hora até que isso aconteça.
Medida da mesma família do abuso e atropelo da dignidade de quem trabalha, é a de pôr trabalhadoras, que foram contratadas para fazer caixa, a recolher assinaturas para uma petição que a Associação Patronal do sector lançou para poder abrir aos domingos e feriados de tarde, campanha que, a ter os resultados que os seus promotores desejariam, as prejudicaria directamente, obrigando-as a trabalhar num dia que é de descanso obrigatório há mais de dez anos.
Este desejo dos patrões da distribuição até já nem é novo. Ávidos de aumentar ainda mais os seus brutais lucros, têm procurado apresentar como moderno o funcionamento sem regras nem limites. O Grupo Amorim até já ensaiou, nos seus Centros Comerciais em Coimbra e Porto o funcionamento 24 horas seguidas. Operação que foi derrotada com a oposição dos trabalhadores e do sindicato do sector.
Dizem os patrões que com as grandes superfícies abertas ao domingo seriam criados 4000 novos postos de trabalho. Como se não estivesse bem de ver que, com um ainda maior concentração de compras realizadas aos fins-de-semana (que hoje já ocupam 50% do total), o caminho seria o da desregulamentação dos horários, com arranjos estapafúrdios de horários concentrados nesse período. Não é por acaso que hoje se discute a possibilidade da jornada de trabalho chegar às 12h.
Também é para mostrar sinal vermelho ao avanço destas e de outras fraldas, que a 30 de Maio estamos em Greve Geral.


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