Confiança, determinação e empenhamento

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política)
As comemorações do 33.º aniversário da Revolução de Abril e as grandes manifestações do 1º de Maio, tornaram clara a afirmação dos valores da liberdade e da democracia e também a afirmação da exigência de uma outra política ao serviço de Portugal e dos portugueses, ao serviço dos trabalhadores.

Para a Greve Geral devem confluir os mais diversos descontentamentos

No quadro da ofensiva ideológica de branqueamento do fascismo e de um recrudescimento das actividades neonazis e neofascistas, as comemorações da Revolução de Abril constituíram uma resposta inequívoca, das mais amplas massas, de condenação de um regime de opressão, tortura, guerra e miséria. Na grande operação de branqueamento da ditadura não é a utilização de especulações teóricas elaboradas em gabinetes que pode alterar a sua justa definição como ditadura fascista. Assim foi considerada pelo povo, assim foi reafirmada nestas comemorações que encheram vilas e cidades.
As manifestações do 1.º Maio, exigiram respeito por quem trabalha, exigiram que basta (!) de mais sacrifícios para os trabalhadores, basta (!) de destruir os serviços públicos, basta (!) de liquidar conquistas pelas quais lutaram gerações de portugueses. Hoje, como há 33 anos atrás, Maio cumpriu Abril. Hoje, como há 33 anos atrás, confirmou-se que Abril foi possível porque muitos Maios existiram, porque houve a acção decisiva e galvanizadora da classe operária e dos trabalhadores na dinâmica revolucionária. Hoje, como há 33 anos atrás, como na grandiosa jornada de 2 Março e na de 28 de Março da juventude trabalhadora, este Partido, os seus militantes, o seu esforço e dedicação, os valores e projecto de luta por uma sociedade mais justa, liberta da exploração, estavam lá onde deviam estar por sermos o Partido que somos.
É este Partido que com igual determinação e confiança se empenhará na mobilização das forças para que, dando expressão ao generalizado descontentamento popular existente, seja um êxito a Greve Geral convocada pela CGTP-IN para o próximo dia 30 de Maio.
Naturalmente que muitas e diversas serão as manobras para dificultar o êxito dessa jornada, para a qual devem confluir os mais diversos descontentamentos populares e, naturalmente também que a mesma desenvolve-se num quadro diferente daquele em que tiveram lugar anteriores greves gerais. Mas esta verdade de hoje e de sempre, coexiste com um mar imenso de potencialidades, de razões concretas assentes num insuportável mal-estar em resultado da ofensiva que se abate sobre os trabalhadores e a generalidade da população. Há razões para lutar e para aglutinar a enorme rede de indignação existente contra esta política de demolição das conquistas sociais. Importa pois esclarecer e mobilizar, sacudindo as teorias velhas do ponto de vista ideológico de que «é desejável a luta que é possível e é possível a luta que se trava num dado momento» (in Que fazer? p.87).

Existem razões para lutar

No Algarve, a dimensão média dos estabelecimentos (6 trabalhadores) é inferior em cerca de 23% à média dos estabelecimentos do país (8 trabalhadores). Os estabelecimentos até 49 trabalhadores concentram 80,6% dos trabalhadores por conta de outrém. Isto é, 80,6% dos trabalhadores por conta de outrém estão espalhados por 20.663 estabelecimentos. No plano salarial, apenas num concelho – Faro - são praticados salários médios superiores à média nacional e no que respeita ao índice de poder compra(IPC) que, como se sabe, é calculado a partir de um conjunto de várias variáveis, só seis concelhos (dos 16 existentes) estão acima da média nacional. Ou seja, na ponderação dos dois valores – salários e índice de poder compra – 78% dos concelhos estão abaixo dos valores médios atribuídos ao país. Esta é a realidade dos trabalhadores do Algarve, onde também fecham escolas e SAP´s; onde a Universidade agoniza entre o sub-financiamento, o despedimento de docentes, o processo de Bolonha e um modelo de desenvolvimento regional que corrói tudo à sua volta; onde os pescadores e as pescas vão sendo acantonados; onde nascem como cogumelos mais e mais projectos de interesse nacional, pois claro, e onde, só para o concelho de Lagos, estão previstas mais cerca de 7000 camas, já para não falar nos cerca de 60 pedidos entregues na Direcção Regional de Economia para abertura de médias e grandes superfícies, arrasando ainda mais os micro e pequenos empresários, numa região que regista altos índices de precariedade.
Pois bem, é nesta realidade que o Partido actua e actuará para que também no Algarve a greve geral de 30 de Maio seja um êxito. E é nesta realidade que o Partido age para se reforçar, estreitando a sua ligação aos trabalhadores e às populações, intervindo e lutando por um novo rumo para a região e para o país, por uma ruptura democrática e de esquerda para a política nacional.

Tempos de luta e de esperança

Os tempos que temos pela frente são de grande exigência e de apelo a um maior e mais decidido empenhamento dos militantes comunistas na concretização dos diferentes objectivos colocados. E nestes, os aspectos ligados com o reforço do Partido assumem uma importância que não pode ser relegada para plano secundário. Urge estugar o passo na concretização do recrutamento, na estruturação orgânica desde logo nas empresas e locais de trabalho e/ou sectores profissionais, na marcação de dias concretos para uma ampla acção de contacto com os militantes do Partido que possibilite falar da greve geral de 30 de Maio, mas também receber quotas, preparar a Festa do Avante, etc. Urge responsabilizar mais camaradas. Urge projectar mais e mais a imprensa partidária, os valores e o projecto do Partido.
No mar imenso da resposta e da iniciativa a que os comunistas são chamados, onde se encontra a realização do Encontro Nacional sobre Cultura - iniciativa que só o PCP pode promover, porque tem da cultura um elemento estruturante do seu projecto de democracia para Portugal – e a Conferência Económica e Social, importa não perder de vista que cuidar dos aspectos ligados com o reforço do Partido é cuidar daquilo que permite perspectivar o futuro partidário para além das curvas de cada momento.
Estes são tempos de luta e de esperança.


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