A desvergonha
A desvergonha já troteia à vontade no programa da RTP Prós e Contras, conduzido por Fátima Campos Ferreira e que na passada segunda-feira decidiu levar a debate a questão do «Choque de Valores», partindo para a matéria com assuntos tão pertinentes, política e ideologicamente, como as eleições francesas, as eleições regionais da Madeira, a situação na Câmara Municipal de Lisboa ou o que distingue hoje a esquerda da direita.
Para debater estes assuntos a apresentadora convidou Mário Soares, Adriano Moreira, Paulo Rangel e Miguel Portas, numa escolha político-partidária tão óbvia e manifesta que, o primeiro, foi «apenas» o fundador do PS, o segundo, ex-presidente e figura tutelar do CDS-PP (pondo de lado o pormenor de também haver sido ministro de Salazar, «lui même»), o terceiro, uma das recentes estrelas mediáticas do PPD/PSD e o quarto, um dirigente do Bloco de Esquerda com o «suplemento de notoriedade» de o terem alcandorado a deputado europeu.
Portanto, quatro convidados, quatro partidos, quase fazendo o pleno da representação parlamentar, com uma «ligeira» excepção: o PCP, pois claro, donde ninguém foi convidado apesar de ser a terceira força política do hemiciclo de S. Bento (à frente do CDS e do BE, por exemplo) e de, «por acaso», ser o único que o fascismo nunca conseguiu eliminar nem precisou da Revolução de Abril para nascer...
Após a divulgação, pela RTP, do conteúdo e do formato do programa, o PCP procurou junto da produção e da direcção da televisão pública sugerir a participação de um membro do Partido neste debate, mas tal hipótese foi liminarmente rejeitada, pelo que os comunistas promoveram uma impressionante manifestação de mais de mil pessoas junto à Casa do Artista, onde se realizava o «Prós e Contras».
Do alto da sua arrogância, que a diligência no cumprimento das instruções das «vozes do dono» consolidou, Fátima Campos Ferreira olhou para toda esta indignação e declarou que «não posso estar preocupada com isso, estou sim preocupada com o pluralismo de opiniões de pessoas de diferentes áreas», o que nos leva a concluir que, para a esperta criatura, das duas uma: ou os comunistas não são para ela uma «área» com opiniões, ou as «diferentes áreas» de opinião que lhe interessam não incluem o PCP.
Provavelmente, a senhora nem um vislumbre terá, na sua azáfama de figura pública televisiva, do quanto a sua própria carreira de «estrela» no Portugal democrático deve às «opiniões» do PCP, nas longas décadas em que neste País era proibido tê-las e não havia «área» (a não ser a do PCP...) que se arriscasse ou atrevesse a exprimir opiniões...
Mas não está só, a Fátima Campos Ferreira, nesta renascida cruzada de silenciar o PCP: extraordinariamente, o próprio canal público de televisão em que trabalha não colheu uma única imagem da manifestação que lhe bateu à porta, nem nenhum dos outros canais privados, sempre tão expeditos a explorar os infortúnios da RTP, lá mandou um único jornalista, tal como apenas o Público e o Diário de Notícias assinalaram o caso com umas notícias discretas nos fundos do jornal.
O fascismo proibia o PCP. Hoje procura-se anulá-lo com a ilusão de que «o que não passa na televisão não existe».
Mas existe. E resiste, impondo-se na vida, como sempre.
Para debater estes assuntos a apresentadora convidou Mário Soares, Adriano Moreira, Paulo Rangel e Miguel Portas, numa escolha político-partidária tão óbvia e manifesta que, o primeiro, foi «apenas» o fundador do PS, o segundo, ex-presidente e figura tutelar do CDS-PP (pondo de lado o pormenor de também haver sido ministro de Salazar, «lui même»), o terceiro, uma das recentes estrelas mediáticas do PPD/PSD e o quarto, um dirigente do Bloco de Esquerda com o «suplemento de notoriedade» de o terem alcandorado a deputado europeu.
Portanto, quatro convidados, quatro partidos, quase fazendo o pleno da representação parlamentar, com uma «ligeira» excepção: o PCP, pois claro, donde ninguém foi convidado apesar de ser a terceira força política do hemiciclo de S. Bento (à frente do CDS e do BE, por exemplo) e de, «por acaso», ser o único que o fascismo nunca conseguiu eliminar nem precisou da Revolução de Abril para nascer...
Após a divulgação, pela RTP, do conteúdo e do formato do programa, o PCP procurou junto da produção e da direcção da televisão pública sugerir a participação de um membro do Partido neste debate, mas tal hipótese foi liminarmente rejeitada, pelo que os comunistas promoveram uma impressionante manifestação de mais de mil pessoas junto à Casa do Artista, onde se realizava o «Prós e Contras».
Do alto da sua arrogância, que a diligência no cumprimento das instruções das «vozes do dono» consolidou, Fátima Campos Ferreira olhou para toda esta indignação e declarou que «não posso estar preocupada com isso, estou sim preocupada com o pluralismo de opiniões de pessoas de diferentes áreas», o que nos leva a concluir que, para a esperta criatura, das duas uma: ou os comunistas não são para ela uma «área» com opiniões, ou as «diferentes áreas» de opinião que lhe interessam não incluem o PCP.
Provavelmente, a senhora nem um vislumbre terá, na sua azáfama de figura pública televisiva, do quanto a sua própria carreira de «estrela» no Portugal democrático deve às «opiniões» do PCP, nas longas décadas em que neste País era proibido tê-las e não havia «área» (a não ser a do PCP...) que se arriscasse ou atrevesse a exprimir opiniões...
Mas não está só, a Fátima Campos Ferreira, nesta renascida cruzada de silenciar o PCP: extraordinariamente, o próprio canal público de televisão em que trabalha não colheu uma única imagem da manifestação que lhe bateu à porta, nem nenhum dos outros canais privados, sempre tão expeditos a explorar os infortúnios da RTP, lá mandou um único jornalista, tal como apenas o Público e o Diário de Notícias assinalaram o caso com umas notícias discretas nos fundos do jornal.
O fascismo proibia o PCP. Hoje procura-se anulá-lo com a ilusão de que «o que não passa na televisão não existe».
Mas existe. E resiste, impondo-se na vida, como sempre.