Câmara e Senado recusam pressões de Bush

Democratas financiam guerra mas pedem retirada

A Câmara dos Representantes e o Senado dos EUA aprovaram um projecto de lei que pede a retirada militar do Iraque até Abril de 2008. Bush anunciou o veto ao diploma.

«56 por cento dos norte-americanos quer o regresso dos soldados até Abril de 2008»

Por 51 votos a favor e 46 votos contra, o Congresso norte-americano aprovou um projecto de lei que condiciona o financiamento adicional para as despesas com a guerra e ocupação do Iraque à retirada do contingente militar de Washington no território.
Embora a medida não tenha sido inscrita com um carácter obrigatório, os democratas recusaram as pressões presidenciais precedentes à votação e inscreveram no documento a calendarização do regresso das tropas, as quais, segundo a proposta, deverão abandonar o Iraque entre Outubro deste ano e Abril de 2008.
Horas antes do escrutínio no Senado, um texto com o mesmo conteúdo foi discutido e votado na Câmara dos Representantes, órgão igualmente controlado pela maioria eleita pelo Partido Democrata. Uma dezena de votos fez pender o fiel da balança no hemiciclo, 218 contra 208, transformando a aprovação dos créditos para as guerras no Iraque e Afeganistão, orçados em mais 91 mil milhões de euros de reforço suplementar, num presente envenenado para a Casa Branca.
Justificando o sentido do apelo inscrito em ambos os diplomas, o senador democrata Robert Byrd lembrou que os EUA já gastaram mais em quatro anos de conflito no Iraque que durante todo o período de combates na Segunda Grande Guerra Mundial.
A corroborar as palavras de Byrd, o também deputado democrata, Steny Hower, acrescentou que o cenário no qual o exército yankee está envolvido é o de «uma guerra civil sem um inimigo claro e sem uma estratégia clara de sucesso», razão suficiente para, de acordo com Nancy Pelosi, responsável e líder daquela formação política na Câmara dos Representantes, recusar «os cheques em branco que o presidente pede para uma guerra sem fim».
Desde 2003, os contribuintes norte-americanos já desembolsaram qualquer coisa como 331 mil milhões de dólares para a campanha belicista no Médio Oriente, valor que contraste com os 220 mil milhões dispendidos nos anos 40 na Europa (contra a Alemanha nazi) e no Ásia (contra o império japonês).
A diferença é de 60 por cento a mais, aproximadamente. Quem lucra são os gigantes consórcios privados de produção de armas e equipamentos militares dos EUA, encarregues de fornecer quase tudo o que a choruda carteira de encomendas do departamento da Defesa reclama.

Bush usa veto

Ao longo de todo o período de debate entre republicanos e democratas, Bush expressou a sua irritação para com o tema da retirada das tropas e ameaçou vetar qualquer proposta nesse sentido agregada ao projecto de financiamento da guerra.
Reagindo à aprovação da medida, a porta-voz de Bush, Dana Perino, considerou que esta provoca «um vazio de poder no Iraque», admitindo, implicitamente, que a tal «autonomia democrática» do governo de Bagdad é, afinal, mais que incompleta uma monumental farsa.
À secretária do presidente já deve, entretanto, ter chegado a versão final do projecto democrata. Para ontem estava prevista a confirmação do veto do chefe de Estado, tão certo que foi o próprio Bush quem, dias antes, exigiu celeridade no processo de votação quer no Senado quer na Câmara para chumbar a proposta e passar a nova discussão.

Povo exige regresso

Paralelamente à contenda entre os partidos do burro e do elefante interessados em rodar no poder, o povo norte-americano expressa de forma cada vez mais clara a sua posição no que à presença militar no Iraque diz respeito.
Uma sondagem publicada pela NBC e pelo The Wall Street Journal, afirma que 56 por cento dos inquiridos quer que os soldados regressem a casa até Abril de 2008, número semelhante aos que já não acreditam que uma vitória militar no terreno seja possível de alcançar, 55 por cento.
As posições políticas da administração neste particular e a estratégia de George W. Bush merecem a aprovação de apenas 36 e 35 por cento dos questionados, respectivamente, mas somente 22 por cento do total das pessoas considera que os EUA estão no caminho certo e justo.

Combates intensificam-se

A provar que a presença dos ocupantes no Iraque e seus colaboradores num poder ilegítimo constituem os principais factores de instabilidade e violência, são os ataques e combates constantes no país.
Bagdad é a região onde o comando norte-americano previa estacionar a parte mais significativa do contingente de reforço de mais de 20 mil homens, recentemente aprovado, mas a medida não parece ser capaz de resolver o conflito latente.
Quinta-feira da semana passada, nove soldados iraquianos fiéis ao executivo títere de al-Maliki morreram num ataque suicida com um carro-bomba lançado contra um posto de controlo em Bagdad. Também na capital, outros quatro atentados vitimaram mais de uma dezena de habitantes e provocaram um número indeterminado de feridos. Em retaliação, a aviação norte-americana bombardeou a vila de Taji matando oito iraquianos, entre os quais duas mulheres e duas crianças.
A Norte, em Tikrit, os alvos de um grupo armado foram alguns dos familiares do ex-ministro de Saddam Hussein, Ali Hassan al-Majid, popularizado como «Ali, o químico» em referência ao pretenso envolvimento no massacre da comunidade curda, no final dos anos 80. Já na província de Diyala, os combates entre resistência e tropas ocupantes atingiram vários militares e civis.
Longe da aparente calma inicial pós-invasão está também a chamada Região Autónoma do Curdistão, gerida com toda a latitude por Massud Barzani, líder do Partido Democrático do Curdistão (PDC).
Depois de uma série de ofensivas da resistência em Mossul, capital daquela província, desta feita foi em Zanmar que o conflito se intensificou. Uma das sedes do PDC foi alvo de engenhos explosivos vitimando guardas e militantes daquela facção curda.


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