O Homem do Ano

Pedro Campos
No dia 16 de Dezembro, Hugo Chávez, presidente da República Bolivariana da Venezuela, aparecia à frente da votação para o Homem do Ano da revista Time. Tinha 35% das preferências e em segundo lugar, a muitos pontos percentuais, estava o líder do Irão, Mahomoud Ahmadinejad. Mais longe, com 12%, vinha Nancy Pelosi e, em quarto lugar, o grupo The You­Tube Guys, com 11%. Para o que possa valer o Homem do Ano da revista Time, Hugo Chávez era imbatível. Tão imbatível como inaceitável! E por arte de berliques e berloques a Time esteve-se nas tintas para a opinião dos seus votantes e, 48 horas depois, tirou da sua cartola de mágico de feira um outro «vencedor»: Você! E em lugar de ser Hugo Chávez o homem da capa, apareceu um computador cujo ecrã era um fundo plastificado onde se reflectia a imagem… do leitor!
Eleição mais a dedo é difícil de imaginar mesmo no país «campeão da democracia», aquele onde Bush roubou descaradamente a presidência a Al Gore.
Depois desta grotesca chapelada eleitoral, a Time meteu as mãos pelos pés para explicar a sua decisão com uma macaquice deste género: «Sim, Você é o vencedor. Você controla a era da informação. Bem-vindo ao seu mundo.» Mas a Time foi ainda mais longe – obedecendo às ordens de quem, é fácil de adivinhar – chegando mesmo ao extremo de eliminar Hugo Chávez da lista dos finalistas. Alinhando à perfeição com a política de Washington, quase todos os grandes jornais da América e da Europa se congratularam com a «eleição». O diário El Mundo, Espanha, é um bom exemplo. A sua crónica sobre o assunto termina afirmando que a comunidade de internautas derrotou «no concurso da Time, Donald Rumsfeld, Dick Cheney, Al Gore e Mahomoud Ahmadinejad, entre outros». Esquece-se de dizer que «entre outros» estava Hugo Chávez, que ia à frente de todos.

Tapar o sol com a pe­neira

Enquanto isto se passava com a Time numa tentativa descarada de minimizar a importância do líder venezuelano como referente latino-americano e não só, outras notícias chegavam de diferentes pontos do globo.
Os internautas da página La­tinYork votaram Hugo Chávez como a «personagem latina mais influente do ano». La­tinYork é uma das páginas mais importantes dos Estados Unidos, com dois milhões de visitantes por mês, e 95% dos que participaram na sondagem optaram pelo presidente venezuelano. Mais ao Sul do continente americano, no Peru, o Rádio Programas do Peru elegeu Hugo Chávez como o Homem 2006.
São só dois exemplos recentes da crescente popularidade do líder venezuelano, que já recebeu, entre outros reconhecimentos, o prémio José Marí, da Unesco, e vários doutoramentos Honoris Causa (China, República Dominicana, Brasil e Rússia), para além de ter sido escolhido como «Homem do Ano 2005», pela revista colombiana Se­mana, devido ao seu papel de «integrador latino-americano» e «respeitabilidade internacional», e de conquistar, também em 2005, o Prémio Cambio 2005. Nessa oportunidade, o director da revista espanhola sublinhou a «sua apaixonada luta contra a pobreza e a sua política social activa», ao mesmo tempo que destacava a queda do desemprego na Venezuela e os esforços de Chávez no sentido de integrar a América Latina.
Não há dúvida de que qualquer destes reconhecimentos coloca em ridículo a decisão arbitrária da Time, que certamente não desconhece o resultado da sondagem realizada, entre 3 de Outubro e 5 de Novembro de 2006, pela Corporação Latinobarómetro, com sede no Chile, e que, desde 1995, faz estudos de opinião, atitudes e valores na região. Englobando 18 países da América Latina, a pesquisa arrojou como resultado que Hugo Chávez é o mais reconhecido como aquele que no seu país está a governar em função do bem para todo o povo. Consideradas as diferentes variáveis do estudo, o governante da Venezuela ficou à frente de todos com uma pontuação de 50%. Num segundo lugar distante aparece o Brasil (36%) e mais atrás México, Chile e Costa Rica, respectivamente com 30, 27 e 22 por cento.
A verdade não se pode tapar com um dedo… muito menos se é da Time!


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