Nova estratégia aposta na guerra

Manobras na Casa Branca

George w. Bush prepara-se para enviar mais soldados para o Iraque. A estratégia é contestada, mas o presidente já iniciou as manobras necessárias à implementação do plano.

Bush parece optar pela fuga para a frente»

De acordo com o anuncio feito no início da semana por Tony Snow, porta-voz da administração norte-americana, para a madrugada de hoje estava agendada uma comunicação na qual Bush deveria divulgar a sua «nova estratégia» para a guerra no Iraque, mas nos últimos dias os órgãos de comunicação social têm desvendado algumas das medidas do plano e revelado pormenores sobre as manobras condicentes à sua cabal aplicação.
Certo é que, ao longo dos próximos meses, os EUA deverão mobilizar para a frente de combate iraquiana – sobretudo para a cada vez mais conturbada região de Bagdad – entre 20 a 30 mil soldados, operação que, segundo apurou o The New York Times, poderá custar qualquer coisa como 800 mil milhões de dólares. A medida parece não colher o acordo da maioria democrata no Congresso, e mesmo do ponto de vista militar as vozes discordantes fazem-se ouvir.
Em artigo publicado na edição de domingo do jornal britânico The Independent, o general que comandou as tropas da NATO na guerra do Kosovo em 1999, Wesley Clark, manifestou-se contra o reforço militar considerando que a solução de força não só não se ajusta à realidade produzindo efeitos marginais do ponto de vista estratégico, como pode alimentar as razões e a prática da resistência popular contra os ocupantes.
No mesmo dia, também o Washington Post apreciava o plano de Bush fazendo eco das críticas que circulam nos corredores políticos da capital dos EUA, desacordos que transpiram, diz o jornal, mesmo entre os republicanos e alguns dos homens tidos como próximos da administração.
Quem não levantou problemas ao envio de mais soldados para o Iraque foi o governo colaboracionista liderado por Nuri al-Maliki. Informações recentes garantem que o primeiro-ministro iraquiano anuiu às pretensões de Bush na sequência de uma comunicação telefónica entre os dois responsáveis.
As mesmas fontes garantem que Maliki também está de acordo com o conjunto de orientações legislativas e objectivos sugeridos por Bush ao governo do Iraque (o The New York Times refere-se aos objectivos como «exigências»), entre as quais a integração de mais representantes sunitas e ex-partidários do Baas nos círculos do poder, uma mais consensual redistribuição das receitas do petróleo atendendo aos protestos dos líderes regionais, e a fixação de datas realistas para a realização de eleições locais.

Manobras no poder

Entretanto, George W. Bush já começou a manobrar lugares no plano da diplomacia e do comando militar dos EUA, sinal de que, por um lado tenta contornar o desgaste sofrido pela sua política externa com a mais que demonstrada derrota no Iraque e, por outro, opta pela fuga para a frente quando os factos aconselham o imperialismo a recolher as garras.
Depois da resignação, em Julho passado, de Robert Zoellick do cargo que mantinha no Departamento de Estado, segue-se John Negroponte no lugar de braço direito da actual secretária de Estado, Condollezza Rice. Zoellick mudou-se de armas e bagagens para a Goldman Sachs, banco que gere os investimentos, mormente no mercado bolsista, das maiores multinacionais do mundo e a fortuna das mais influentes famílias do capitalismo. Negroponte abandona o controlo das 16 agências de espionagem dos EUA que passam agora a ser responsabilidade do almirante Michael McConnel.
Do Paquistão transita Crocker para a Embaixada norte-americana no Iraque, enquanto Zalmay Khalilzad, sucessor de Paul Wolfovitz (agora à frente do Banco Mundial) na representação diplomática em Bagdad, ocupa o lugar do polémico John Bolton na ONU.
Finalmente, Bush tenta reordenar a hierarquia militar a gosto da sua nova estratégia de insistência na velha guerra. George Casey, chefe das forças norte-americanas no Iraque, e John Abizaid, responsável pelo Comando Central no Médio Oriente, partidários de uma retirada gradual do território, são substituídos por David Petraeus e William Fallon, respectivamente.

Combates sem fim

Paralelamente ao realinhamento das personalidades, no terreno os combates entre grupos da resistência e exércitos ocupantes não cessam. Anteontem, o centro da capital, Bagdad, era palco de violentos confrontos, os quais se haviam alastrado a partir da margem ocidental do Tigre. Agências internacionais reportaram que num dos bairros onde se concentrava a acção vivem dezenas de ex-dirigentes e partidários de Saddam Hussein, facto que, a ser verdade, confirma que a execução do antigo presidente do Iraque pode resultar em maiores dissabores para invasores e respectivos apoiantes.
O desespero norte-americano em face do atoleiro no Iraque é de tal ordem que, no final da semana passada, foi tornado público um pedido de desculpas do exército a cerca de 300 famílias de veteranos feridos ou mortos no Iraque. O escândalo estalou quando, dias depois do Natal, o comando militar intimou os malogrados soldados a regressarem imediatamente ao serviço.


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