Riqueza cada vez mais concentrada

O mundo é dos pobres

Apenas dois por cento dos adultos de todo o mundo possuem mais de metade da riqueza global disponível, ao mesmo tempo que metade da humanidade é detentora de apenas um por cento deste património, revela um estudo das Nações Unidas divulgado, dia 5, em Helsínquia.

Desigualdades abissais na distribuição da riqueza à escala planetária

Este trabalho pioneiro confirma a crescente concentração de riqueza e mostra que as «desigualdades de património são hoje muito maiores do que as desigualdades de rendimentos», afirmou Anthony Shorrocks, director do Instituto Mundial para a Investigação e Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas (ONU-WIDER), sedeado em Helsínquia, capital da Finlândia.
Incidindo exclusivamente sobre os bens detidos pela população adulta (bens mobiliários e imobiliários, bem como outros valores tangíveis), o estudo estabelece patamares mínimos de riqueza pessoal que vão dos 2200 dólares (1700 euros) aos 500 mil dólares (384 mil euros).
Surpreendentemente, no primeiro patamar apenas entram cerca de 50 por cento dos indivíduos, enquanto que no mais elevado (com um mínimo de 500 mil dólares) está um grupo restrito de 32 milhões de pessoas abastadas (1% dos adultos do planeta). O escalão intermédio, com um património igual ou superior a 61 mil dólares (50 mil euros), abrange somente 10 por cento do universo populacional.
Contudo, as diferenças não se ficam por aqui. As Nações Unidas identificaram uma pequena elite de favorecidos, constituída por 13 milhões de indivíduos que possuem fortunas iguais ou superiores a um milhão de dólares. Entre estes, existe um clube ainda mais fechado de super-ricos, cujo património é avaliado em mais de mil milhões de dólares. Em todo o mundo há 499 magnatas deste último tipo.
Em praticamente todos os países verifica-se um elevado grau de concentração, com destaque para os Estados Unidos, onde dez por cento da população mais rica detém 70 por cento da riqueza.
Na China, segundo o presente estudo, esta relação ronda os 40 por cento. Ou seja, dez por cento dos mais abastados detêm menos de metade do património particular.
Em termos globais, os dados coligidos pela ONU mostram que uma ínfima parte da população adulta (1%) é detentora de 40 por cento dos bens do planeta, enquanto os dez por cento mais ricos controlam 85 por cento do total mundial. A metade desfavorecida da humanidade conta com apenas um por cento dos bens acumulados.
Utilizando o coeficiente de Gini, que determina as desigualdades numa escala de zero a um, o estudo conclui que os desequilíbrios patrimoniais superam largamente as diferenças de rendimento, atingindo à escala mundial o valor (Gini) de 0,89. O mesmo grau de desigualdade poderia ser obtido se num grupo de dez pessoas, um único indivíduo se apropriasse de 99 por cento do bolo e que os outros nove convivas tivessem de partilhar as migalhas restantes.

População endividada

Ao analisar o património pessoal da população adulta, o presente estudo teve igualmente em conta a sua composição e o nível de endividamento das famílias. Nos países menos desenvolvidos, os bens imobiliários, como a terra e equipamentos agrícolas, têm um peso importante no património das famílias. Os depósitos bancários assumem maior importância nas economias em transição de alguns países da Ásia, enquanto que os outros tipos de aplicações financeiras (acções e similares) são mais comuns nos países ocidentais ricos.
Também nos países menos desenvolvidos se observa um nível de endividamento das famílias extremamente baixo. Ao contrário, nos países industrializados, o recurso generalizado ao crédito faz com que um grande número dos agregados apresente «património negativo». Isto significa que os bens que possuem não cobrem os montantes dos empréstimos contraídos. Desta situação resulta que, em termos de património, estes indivíduos integram a parte da população «mais pobre» do planeta.

Onde vivem os ricos?

No ano 2000, a riqueza acumulada no planeta elevou-se a 125 biliões (milhões de milhões de dólares), ou seja o equivalente ao valor da produção mundial durante três anos. Este património dividido em partes iguais pela humanidade corresponderia a 20.500 dólares por pessoa ou a 26 mil dólares se forem tidas em conta as diferenças de custo de vida entre os países.
Contudo, da mesma forma que a riqueza se encontra distribuída de forma tão desigual entre os indivíduos, também se verificam enormes disparidades entre as diversas regiões do globo.
Nos Estados Unidos, a riqueza média por pessoa era, no ano 2000, de 114 mil dólares, e no Japão atingia 181 mil dólares. Em contrapartida, na Índia, os activos por habitante não passavam de 1100 dólares, elevando-se um pouco mais, na Indonésia, para 1400 dólares.
De resto, a riqueza acumulada na América do Norte, Europa e em alguns países da Ásia Pacífico representa 88 por cento do total mundial. Assim, os Estados Unidos e o Canadá, com apenas seis por cento da população adulta do globo, concentram 34 por cento; a Europa detém 30 por cento; o Japão e Austrália somam 24 por cento.
O contraste é mais notório se considerarmos que a China, com mais de 1300 milhões de habitantes, não vai além dos três por cento e que a Índia, com 1100 milhões de pessoas, dispõe unicamente de um por cento do total da riqueza.
Não se estranha pois que 89 por cento dos indivíduos mais ricos do planeta residam na América do Norte, Japão e Europa: Estados Unidos (37%), no Japão (27%), Europa (23%), Canadá (2%).


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